Em dia com o Machado
74 (jlo)
O macaco é quem
está certo
Amigo leitor, estive fazendo uma
ligeira pesquisa antes de publicar esta crônica e descobri algo interessante a
respeito da inteligência dos animais, insetos inclusive. Por exemplo, a barata
ignora que é uma barata, pois é tonta que nem um robozinho programado.
Há insetos,
porém, que parece nem mesmo estarem programados pelo instinto de sobrevivência,
por vezes, como é o caso da lagarta. Se você tenta matá-la, nem se mexe do
lugar onde está. Experimenta... Só não toque nela, senão pode se queimar.
Já a
barata, não. Tente matá-la, para ver o que acontece. Ela é capaz de voar e
pousar no seu nariz.
Mas ela não
sabe que é barata, só cuida de comer o que puder, fazer sexo, excrementos e
fugir das chineladas humanas ou dos ataques dos galináceos, que, antes de serem
comidos por nós, adoram engolir esses gosmentos insetos...
Avançando
um pouco mais, no quesito inteligência, estão os animais vertebrados e
mamíferos em especial. O cavalo acha que é cavalo, o gato sabe que é gato, o
papagaio pensa que é... ser humano. O cachorro tem certeza disso.
Atualmente,
sabe-se que os animais sentem, como nós, a raiva, a tristeza, a alegria, o dó...
Outro dia,
um cão conversava com um gato sob uma macieira plantada no pomar de sua casa.
Tornaram-se amigos, após longa convivência doméstica, que acabou com a milenar
rixa existente entre eles.
Dizia o descendente
lupino ao felino:
— O gênero
humano é uma besta. Há pouco tempo, acreditava ser um tipo à parte, na criação
divina. Só agora começou a perceber que nossa diferença é apenas de grau das
faculdades mentais e não de tipo.
Ao que
acrescentou o gato:
— Podemos
até usar as próprias máquinas dos humanos para uma comparação entre nós e eles,
como, por exemplo, o carrinho de bebê, o velocípede, a bicicleta, o fusquinha,
o porche e o carro de fórmula um...
— Como
assim, meu felino amigo?
— O carro
de bebê, o velocípede e a bicicleta somos nós: papagaios, gatos, cachorros... As
demais máquinas são eles... No fim, tudo é máquina...
— Ah, mas
aí é que você se engana, gato. Qual humano é mais potente que o falcão, a águia
ou mesmo o corvo? Qual deles é mais poderoso que o elefante ou o leão? Que homem
possui a liberdade de um simples pardalzinho? Qual deles suplanta, mesmo, em
beleza e graça, um mero cuitelinho?
— É verdade, lupino poeta. E ainda acrescento:
qual raça humana é capaz de se camuflar como um camaleão, de sentir o cheiro
das substâncias mais sutis, como vocês, os cães, de perceber a presa a
quilômetros de distância, como os tubarões, de ver um minúsculo peixe, na
superfície de um lago, do alto de dois mil metros, como o albatroz?
Passava
pelo local uma criança de nove anos, poliglota, que falava o animalês, e
contestou gato e cão com o seguinte argumento:
— Ora, meus
caros, tudo isso não passa de instinto natural...
Um
chimpanzé, até então escondido entre os galhos da macieira, após expulsar dali
uma víbora, mostrou a cara e contestou o guri:
— Meu
garoto, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar a vossa
vã filosofia... Ensinai-me as coisas práticas que aprendestes, desde o vosso
nascimento, e provar-vos-ei que sou capaz de saber tanto quanto vós... Só não
me venhais com lero-lero...
— Você está
é com inveja de nós – respondeu-lhe o piá.
O macaco
escondeu seu rosto entre as mãos, mas não se deu por vencido:
— Sim, pode
ser... Mas isso prova apenas que também somos humanos. Nosso grau de
consciência permite-nos ter inveja e vergonha quando praticamos algo errado.
Além disso, está provado, cientificamente, que é mínima a diferença entre o
nosso e o vosso cérebro...
Foi quando
pousou no ombro do menino o seu papagaio, e, já discordando do primata,
arremeteu:
— Pois saiba,
ó camarada macaco, que sou capaz de aprender a falar a voz humana, cantar suas
músicas e participar de suas conversas, em especial das piadas. Tudo isso, com
um cérebro cem vezes menor que o de uma criança.
— Muito
bem, disse-lhe o símio, mas ainda não entendi por que os seres humanos brigam
tanto para domesticar-vos, junto com cães e gatos, mas não tentam fazer o mesmo
conosco, seus parentes mais próximos.
— Deixa de
ser burro, homem — disse a mulher do macaco, que estivera, até então, escondida
atrás da árvore. Então não vês que se formos domesticados pelos homens
acabaremos nos tornando seus serviçais?
— Desta vez
estais certa, concordou o marido, se formos amansados, eles nos obrigarão a
cuidar de seus filhos, cozinhar para eles e até mesmo educar suas crias. E
concluiu filosoficamente:
—Abaixo a
escravidão e viva a liberdade!
Ouvindo
isso, o gato, o cachorro, o papagaio e até uma besta que passava por ali deram
um só berro, dando vazão a um sentimento há 13 mil anos reprimido. Foi uma
choradeira só...
Apenas o
menino sorriu... e tratou de voar de lá...
(Sobre a inteligência dos animais,
clique em: http://super.abril.com.br/ciencia/estudos-mostram-passa-pela-cabeca-animais-623040.shtml. Acesso em 2 nov.
2013.)
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