Em dia com o Machado 101 (jlo)
A crônica de hoje é um palíndromo: 101.
Comentei, no dia 26 de abril, sobre o término das
homenagens a Shakespeare (1564- 1616). Hoje, 23 de abril, trato sobre seu início.
A diferença é que o primeiro comentário é de 1896,
e o último, de 2014. Seria um palíndromo ao contrário e vice-versa, se isso fosse
possível...
O que não é possível é cair no desinteresse uma
obra imortal como a do bardo inglês.
Na primeira crônica, afirmei que “Um dia, quando já
não houver império britânico nem república norte-americana, haverá Shakespeare;
quando se não falar inglês, falar-se-á Shakespeare”.
O que direi nesta?
O bardo nasceu em 23 de abril, mas foi batizado em
26 deste mês; por isso, oficialmente, somente no próximo sábado será comemorado
seu nascimento. Coisa da Igreja...
Pois bem, tão atual é a obra shakespeariana que as
autoridades governamentais decretaram a inclusão, no currículo escolar, de pelo
menos duas peças inteiras do bardo.
Antes que você, amigo leitor amante da literatura,
saia dando pulinhos de alegria, vejo-me constrangidamente na obrigação de
prestar-lhe um esclarecimento: estamos nos referindo às escolas do Reino Unido.
Mas não se entristeça, a professora de literatura
Laurie Maguire, da Universidade de Oxford, ainda prefere que os estudantes
sejam levados aos teatros, para assistirem ali às mais belas peças teatrais do
bardo inglês.
Embora tratasse de assuntos locais e populares, em
seus dramas, tais como o amor e a morte, a ética e a política, Shakespeare
transformou-os em temas sociais-universais-intemporais. Confirmando minha
crônica sobre a vontade como único diferencial entre nós, dizia Shakespeare: “Where
there is a will, here is a way”.
Uma de suas mais famosas peças teatrais, Hamlet,
será apresentada em quatro teatros cariocas no próximo dia 26 de abril.
Que tal se também em Brasília os nossos políticos
parassem um pouco para refletirem sobre a demagogia de suas vontades
corrompidas e, ao lerem ou ouvirem a famosa frase de Hamlet optassem por
representar, no Planalto Central, o ser e não o parecer honestos?
Não, amigo leitor, não vou repetir o bordão “To
be or not to be, that is the question”. Ele é por demais conhecido.
Gostaria apenas de lembrar, em nosso idioma, alguns versos do poema em que se
insere a frase-verso sobre a questão de “ser ou não ser” (Ato III, Cena I):
"Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se
de rumo e cessam até mesmo
De
se chamar ação".
Atualíssimo, não é mesmo, meu nobre amigo?
Não sei por que, lembrei-me da quase agonizante
Petrobras...
— E o tal pré-sal, Machado?
— Pano de fundo, amigo, pano de fundo. Isso se
encontra em todo palco teatral.
Comecei com um
palíndromo numérico, não podia deixar de terminar com outro frasal. Então lá
vai: ame o poema. Cessemos de uma vez esse
assunto, pois acabo de ser convidado por Shakespeare a assistir sua velha peça:
A comédia de erros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário