Em
dia com o Machado 183 (jlo)
Bom dia, amigo
leitor. Quero aproveitar este domingo seco e ensolarado de Brasília para lhe
dar uma auspiciosa notícia. Morreu há
poucos dias, no dia 4 de novembro, o filósofo francês René Girard, criador da
mimese na representação da "origem da violência humana que desestrutura e reestrutura as sociedades", e da teoria do "bode expiatório" como justificativa
da violência, presente no estudo literário do sagrado.
Ainda não pude entrevistá-lo,
pois ele ainda está naquela fase de "confusão espiritual" que
antecede o ingresso do lado de cá, e isso o deixa temporariamente um tanto
quanto perturbado... É o que sucede com 99% da humanidade terrena, quando desencarna. De qualquer modo, essa
confusão mental ainda é bem mais amena do que a do retorno do espírito à vida
física, a qual só se completa aos sete anos, conforme dizem os psicólogos.
A essa altura
você deve estar se perguntando: Será que o Machado ficou louco? Um filósofo
morre e ele diz que isso é motivo de regozijo espiritual... louco... somente um
louco para escrever ou falar uma coisa assim...
E eu me
justifico com as palavras do Cristo: "Deixai aos mortos o cuidado de
enterrar os seus mortos". O que morre é somente o corpo físico, a alma
segue para o Além em seu corpo
espiritual, como diz Paulo de Tarso: "Semeia-se corpo material,
ressuscita-se corpo espiritual". Para vocês, a morte do corpo é algo
triste e lamentável; para nós, porém, é uma forma de libertação, pois a vida
real é a que ocorre no mundo das ideias, como já entrevira Platão. Então, por
que lamentar os chamados mortos? Comemoremos sua libertação desse presídio
chamado matéria e o ingresso na vida do espírito.
Do que foi dito,
não se deve deduzir que você deve desprezar a vida física e desejar a
"morte", meu caro leitor. A vida física, ou encarnação, tem uma
finalidade nobre, que é nos tornar perfeitos, passo a passo. Por isso disse
Jesus: "Sede perfeitos". Quanto melhor a encarnação for aproveitada,
mais estaremos contribuindo na construção de um mundo mais feliz para todos.
Até mesmo devido a que voltaremos à carne num tempo que pode ser de imediato ou
de séculos (KARDEC, A. O livro dos
espíritos, questão 223). Afinal, "Se séculos de séculos são menos que
um segundo relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida
humana?!" (KARDEC, A. A gênese,
cap. VI, item 2). Enquanto a volta ao corpo físico não ocorre, os que estamos
deste lado interagimos com os que estão desse lado sem violentar o
livre-arbítrio de ninguém.
Para nós, mais
importante do que estar aqui ou aí é o espírito, que é imortal, esforçar-se
sempre em evoluir, pois é nisso que está a verdadeira felicidade. Para
concluir, leia o que diz o sábio de Lion:
O homem carnal,
mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e
gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus
desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da
vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta,
porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas
afeições e esperanças.
O homem moral, que
se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já neste mundo
experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos
lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele
decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma
impressão dolorosa deixarem. (Kardec, A.. O
livro dos espíritos, comentários à questão 941).
Então, amigo
leitor, melhor do que viver como os animais, pelo instinto, "morrendo de
medo de morrer", é viver plenamente consciente de que a vida é sempre
bela, onde quer que estejamos, se buscarmos sempre seu objetivo maior, segundo
Kardec: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei". Mas
não se esqueça, nossos maiores inimigos chamam-se egoísmo e orgulho; nossos
melhores aliados são o amor e a humildade. É nisso que está a felicidade!
Estamos
preparando uma grande festa para recebermos René Girard... quem
"morrer" verá.
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