Em
dia com o Machado 212 (jlo)
Amiga
leitora, hoje narrar-lhe-ei minha recepção no mundo espiritual. Tão logo
desencarnei, fui recebido por amigos e pessoas que, só após algum tempo,
reconheci num hospital maravilhoso. Ao abrir os olhos, percebi a presença de equipe
de médicos e enfermeiros cuidadosos ao lado de minha cama. Em seguida, ouvi uma
voz, que logo identifiquei ser de Allan Kardec, me dizer:
—
Levantai-vos, Machado, e abraçai vossos amigos e amigas que aqui estão. Eles
representam uma multidão postada lá fora. Comigo estão Maria Inês, Victor Hugo,
Shakespeare, Almeida Garret, Francisco Gonçalves Braga, Paula Brito, Manoel
Antônio de Almeida, Gonçalves Dias, Castro Alves, José de Alencar, Francisca
Júlia e esposo...
—
Todos são-me caríssimos ao coração, mas...
Lendo-me
o pensamento, ele respondeu-me:
—
Carolina vos prepara a recepção em vosso lar, bela reprodução da casa do Cosme Velho,
de tão felizes recordações para ambos, mas abraçar-vos-á em breve.
—
Vê-la, abraçá-la e beijá-la é tudo o que eu mais desejo... Mas e meus pais,
minha irmãzinha, falecida aos 4 aninhos, minha madrinha, onde estão?
—
Reencarnaram... A vida continua, meu caro, em várias dimensões...
Após
abraçar, um a um, todos os amigos e amigas, com destacada efusão de gratidão e
reconhecimento a Maria Inês, bem como a Braga, Paula Brito e Manoel Antônio de
Almeida, fui carregado no colo por todos aqueles amigos e amigas para fora do
hospital. No pátio, uma orquestra tocava as belas músicas entoadas por grande
número de cantoras líricas que tanto apreciei nos teatros cariocas.
Quando
me aproximei, as músicas e cantos silenciaram para ouvirmos uma ovação e
aplauso frenético da multidão que nos aguardava. Nesse momento, fui colocado no
chão, e Kardec chamou-me, com um sorriso benevolente e compassivo:
—
Vinde, Machado, subi neste palco para receberdes as justas homenagens à vossa
obra imortal.
—
Envergonhado, por ter escarnecido do Espiritismo e de tão elevada alma, cambaleei
e quase caí. Mas ele amparou-me e disse bondoso:
—
Não fiqueis encabulado, por nos ter chamado de “loucos”, “idiotas” e quejandos,
em vossas crônicas. Tudo tem seu tempo e finalidade na Criação de Deus.
Brevemente, o mundo receberá centenas de obras provindas daqui, por intermédio
de extraordinários Espíritos e médiuns. E, por incrível que pareça, embora não
tenhais chegado a conhecê-la, uma mineira de Juiz de Fora já se encontra pronta
para começar o trabalho.
—
Zilda Gama?
—
Ela mesma — arrematou Victor Hugo entrando no nosso diálogo, para minha grata
surpresa. Como precursora da grandiosa obra psicográfica que o Brasil e o mundo
conhecerão, ditar-lhe-ei cinco belos romances...[1]
—
Exatamente! — falou Kardec. E também estão programados, no Ministério das
Comunicações desta cidade espiritual, a partir de 1912, uma série de comunicados
meus por intermédio dessa mulher, antecessora no Brasil de um dos mais elevados
médiuns de todos os tempos, que renascerá em Uberaba, Minas Gerais, em 1910...
Quando eu começar a ditar minhas mensagens à Zildinha, ele já estará com dois
aninhos. E prosseguirei, por vários anos, a ditar à Zilda orientações ao
Movimento Espírita... Quando Chico estiver com 17 anos, cessarei meus
comunicados à médium precursora desse missionário.[2]
—
Como estamos em 1908, faltam apenas dois anos para o início do nascimento desse
grande Espírito, ó Kardec. Diga-me algo mais sobre ele, mestre. Roguei-lhe,
humilde.
—
Trata-se de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, que futuramente será
eleito “o maior brasileiro de todos os tempos”. Chico já está no Ministério da Reencarnação e será o continuador da
obra do Consolador, guiado por Emmanuel, que se prepara para essa missão em esfera
de alta elevação.
—
Alguém mais o auxiliará nessa grandiosa tarefa cristã?
—
Muitos médiuns anônimos e estudiosos da Doutrina Espírita estão sendo
encaminhados à Terra para completarem meu trabalho; mas, no Brasil, ainda
teremos as obras de dois gigantes da psicografia, Yvonne Pereira e Divaldo Franco.
Este ainda continuará, por longos anos, a tarefa de divulgação espírita-cristã,
pelo dom da oratória, que León Denis está começando...
Antes
de iniciar seu pronunciamento, lembrei a Allan Kardec sobre o anúncio, em seus
escritos póstumos, de previsão da sua reencarnação no início desse século XX,
em que eu deixava a Terra. Gentilmente, ele me respondeu:
—
Então não sabeis que imutável somente Deus o é? Esquecestes-vos de que me foi
dito, também, que se eu não me incumbisse bem de minha tarefa outro me
substituiria? Meu caro, ninguém, na Terra, é insubstituível...
—
Quanta humildade... Pensava eu, quando Victor Hugo me tomou a palavra e disse:
—
Pois é... Kardec foi tão bem em sua tarefa, que o Conselho Superior,
representado por Santo Agostinho, São Luís, e o próprio Paulo de Tarso, entre
outros elevados membros da equipe do Senhor, deu sua missão por concluída com
louvor, sem que haja necessidade de seu retorno à carne. Isso porém não
significa que a Doutrina Espírita esteja acabada e novas revelações sejam
desnecessárias. A base é Jesus e Kardec, mas o edifício apenas começou a ser
levantado...
—
Isso mesmo, concluiu Allan Kardec, centenas de obras psicografadas pelos
médiuns escolhidos pelo Senhor e outros mais, de grande elevação espiritual,
concluirão minha obra. E você, Victor, dentro de um século, reencarnará, junto
com grande número de enviados do Senhor para prosseguir nos trabalhos de
regeneração do mundo.
—
Nada mais ouvi, pois avistei Carolina se aproximar, sorrindo de alegria, e
corri para seus braços...
No
palco, um jovem trajado à moda romana, irradiando intensa luz, aproximou-se de Kardec
e entregou-lhe pergaminho onde se lia o seguinte título: NO FUTURO[3].
Era
Emmanuel... No horizonte, como se projetado por grande tela, Jesus nos contemplava,
sorrindo, abraçado a Maria.
[1] Na sombra e na luz; Do calvário ao infinito; Redenção;
Dor suprema e Almas crucificadas. Todas essas obras seriam psicografadas por
Zilda Gama, a partir de 1916, publicadas e reeditadas pela Federação Espírita
Brasileira até a época atual.
[2] Ver LOUREIRO, Carlos
Bernardo. As mulheres médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996, p. 435 a 440. Obra
esgotada e a ser reeditada pela FEB.
[3]
XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Rio de Janeiro: FEB, cap. 41.
Nota:
embora baseada em fatos reais, esta crônica é fruto de pesquisa e dos devaneios
literários de jlo.
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