Em dia com o Machado 227 (jlo)
Leitor amigo, contrariamente ao que
se diz, parte dos cientistas, filósofos,
poetas, artistas e escritores, de todos os tempos, são ateus, mas Deus está com eles.
Explico o paradoxo esclarecendo-lhe
o significado de a-théos como a- pref. de origem latina
com a acepção de afastamento, separação; e théos, elemento de composição grego
com o significado de deus. Eles
não são contra Deus e também não negam que Deus possa existir. Apenas ainda não
têm Deus como algo de sua preocupação, ser infinito, criador do Universo e de
tudo o que nele existe; objeto de culto, de adoração ou, mesmo, como
personificação masculina de uma divindade superior à criatura humana, criada
por Ele.
O Espiritismo é uma Filosofia
Espiritualista que, como todas as religiões deístas, crê em Deus, mas não como
"personificação humana" e, sim, como "Princípio Supremo"
que explica a existência, a ordem, a razão do universo e "garantia dos
valores morais" (Aurélio), Nesse sentido, o conceito de Deus
difere do conceito religioso teísta, pessoal. Deus não é "alguém", é
"algo" que escapa ao nosso entendimento, ainda. Por isso, a primeira
pergunta d'O Livro dos Espíritos (LE), escrito por Allan Kardec, substitui
o pronome "quem", das questões tradicionais do Cristianismo, por
"que": "Que é Deus?" E os espíritos respondem: "Deus é
a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas".
Nessa acepção filosófica, diversos
ateus consideram mais racional o conceito de Deus. Entretanto... continuam
"afastados" dele, por não considerarem nada ainda provado. Prove que
Deus existe, de modo insofismável, e nenhum ateu ficará mais
"separado" de Deus.
Primeira "prova". O
Universo existe desde sempre, mas ele precisa de uma causa para essa
existência, por um axioma científico de que não
há efeito sem causa. O nada nada produz (LE, q. nº 4).
Segunda "prova". Todos
trazemos o sentimento instintivo sobre a existência de Deus. Tanto isso é
verdade que, no momento em que nossa vida corre grande perigo, instintivamente,
quer sejamos ateus ou crentes, dizemos: "Valha-me, Deus" ou coisa
semelhante. Quando o “ateu” Oscar Niemeyer estava com 104 anos, próximo de ir
para o campo dos pés juntos, respondeu a um entrevistador que lhe perguntara
sobre a saúde, após sua alta hospitalar, com a seguinte frase: "Seja o que
Deus quiser".
Isso eu ouvi com os ouvidos que Deus me deu!
Um "gênio, um filósofo e um
santo", nas palavras de Eça de Queirós, foi o poeta português Antero de
Quental (+ 8 abr. 1842 - 11 set. 1891), que, em seus poemas, influenciado pelas
teorias niilistas, questionava a existência de Deus. Até que, acometido de
terrível hipocondria, julgou melhor dar fim à própria vida com dois tiros na
cabeça. Em vida, um dos seus sonetos questionava
NIHIL
Homem! Homem! Mendigo do Infinito!
Abres a boca e estendes os teus braços
A ver se os astros caem dos espaços
A encher o vácuo imenso do finito!
Por que sobes à rocha de granito?
Por que é que dás no ar tantos abraços?
E cuidas amarrar com férreos laços
Um reflexo da sombra de um esp’rito?
Vê que o céu, por escárnio, a luz nos lança!
Que, à tua voz, a voz da imensidão
Responde com imensa gargalhada!
A ideia fechou a porta à esp’rança
Quando lhe foi pedir gasalho e pão...
Deixou-a cara a cara com o Nada!...
Na obra Do país da luz, vol.
2, publicada pela FEB, capítulo IX, psicografada pelo médium português Fernando
de Lacerda, entre poemas que afirmam a existência de Deus, para o espírito Antero,
antes, tal realidade fora apenas mera esperança e pura dúvida; agora, esse
espírito volta ao mundo físico para alertá-lo sobre as consequências dolorosas
do suicídio, como o que ele praticou. São nove páginas de um testemunho
eloquente, que não vou reproduzir aqui, por falta de espaço.
Por trás do suicídio, além da própria tendência do espírito, há outro
espírito obsessor, que se aproveita da fraqueza daquele para empurrá-lo na
direção do abismo, do qual somente sairá às custas de muito sofrimento e
desespero inaudito. Antero, então, concita aos desiludidos da vida fortificarem
sua vontade e alegria de viver. Em sua longa mensagem esclarecedora sobre esse
ato extremo, ele diz: “Ah! que se soubesse que preço pagamos a libertação pelo
suicídio, ninguém se suicidaria. Os maiores martírios na Terra são doces
consolações em comparação com os mais suaves sofrimentos de um suicida!”
No volume 3 da obra citada acima, Antero de Quental envia-nos, pelo
médium Fernando de Lacerda, um encadeamento de três sonetos sobre a morte e
outros dois sobre Deus. No último volume, que, como os demais, traz diversos
poemas e mensagens de escritores finados, de Portugal e da França, encontramos
outros seis poemas, de Antero, todos sobre a confirmação da imortalidade da
alma e da realidade de Deus. O poeta diz-nos o seguinte, no poema do cap. III
do volume 4, intitulado
LUZ
A desejar mais luz passei a vida!
Toda era pouca ao meu olhar sequioso!
Achava em tudo o denso véu nubloso
Que a vida me trazia escurecida!
E a minha alma volvi, entristecida,
Para o negro caminho doloroso
Em procura da Morte e do Repouso,
Por não achar a Luz apetecida!
Eu esperei que a luz encontraria
Aí no mundo e o mundo ma negava
Como prenda que não podia dar.
Mas ao buscar a treva eterna e fria
Que no escuro da Morte me encantava,
Em vez da treva, a luz vim encontrar.
Depois, no Brasil, o espírito Antero de Quental aproximou-se de outros
dois médiuns distintos, Waldo Vieira e Chico Xavier. Aqui, “mandou ver” noutros
sonetos sobre a sua confirmação da existência de Deus e de que a morte não
existe, pois vivemos em dois planos existenciais...
Então, o ateu convicto dirá: “E daí? Se Deus existe, também confirmarei
essa verdade após a morte, desde que eu também sobreviva à extinção do corpo,
que será dado aos vermes”.
Porém, eu lhe perguntarei: “Mas você não acha que essa certeza nos
auxilia a viver melhor?”
Ao que ele responderá: “O que me interessa, agora, é viver com alegria,
enquanto no corpo, sem abusos de qualquer espécie, e não lesar ninguém, pois me
sinto bem em fazer o melhor em prol de um mundo mais justo”.
E eu lhe direi que Deus está com ele, mais do que com muitos dos que
dizem estar com Deus, pois o bom ateu, mesmo “afastado de Deus”, sabe o que fazer para ser feliz.
Graças a Deus!
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