Em
dia com o Machado 259 (jlo) - 5 de outubro de 1885 (Balas de estalo)
Bem adivinham meus amigos onde estive
nesta terça-feira. Fui assistir à excelente palestra de Haroldo Dutra Dias em comemoração
do nascimento
de Allan Kardec, ocorrido em 3 de outubro de 1804.
O orador esclareceu-nos sobre algo que
eu ainda não sabia: Hippolyte Léon Denizard Rivail adotou o pseudônimo Allan
Kardec, que foi o seu nome numa de suas encarnações passadas, como divisória entre
sua missão de pedagogo renomado, na França, e a de Codificador da Nova
Revelação ou Consolador Prometido por Jesus, que é o Espiritismo cristão.
Confesso minha verdade. Desde que
assisti à palestra do Haroldo, distinto juiz e tradutor da versão grega do Novo Testamento, além de profundo
conhecedor e divulgador da obra de Kardec, não mais tive qualquer dúvida:
estava diante da Verdade, que viria
dissipar todas as nossas dúvidas e permanecer para sempre conosco, como
cumprimento da promessa de Jesus Cristo, anotada por João.
Eis a promessa de Jesus, registrada no
Evangelho desse seu bem-amado apóstolo nos versículos 15 e 16 do capítulo 14:
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos
dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”.
Estava à porta do Espiritismo; a
conferência de sexta-feira abriu-me a Sala
da Verdade. Ante o que já havia lido e o que agora via e ouvia, não tive
mais qualquer dúvida: converti-me, de toda a minha alma...
Terminada a exposição, entrei na fila
do passe. Os fluidos recebidos por mim abriram ainda mais minha mente e, “de
repente, não mais que de repente”, como diria o poetinha Vinícius de Moraes,
percebi que
“Eu não tinha este rosto de hoje,
/assim calmo, assim triste, assim magro, /nem estes olhos tão vazios, /nem o
lábio amargo”. Mas essa é a primeira estrofe do poema de Cecília Meireles,
intitulado Retrato, e, após
identificar-me com essa descrição, percebi que eu já não era mais Machado de
Assis e, sim, o conhecido escritor inglês Laurence Sterne, de quem, agora,
copiava o modo galhofeiro de ironizar...
Que eu me lembre, já tive 1857
encarnações, a penúltima foi a desse inglês...
Sim, porque, como Sterne, estive “[...]
firmemente persuadido de que cada vez que um homem sorri — mas, mais ainda,
quando ele ri — isso acrescenta algo a
esse Fragmento de Vida”.[1]
Sorrindo, olhei para um espelho, a ver
se me via, e nada vi; estava totalmente espiritual. Foi quando o Espírito Zêus
Wantuil surgiu e recomendou-me, livro em mãos: “Lê a obra intitulada As mesas girantes e o espiritismo,
publicada pela FEB.”
Eu estava diante do próprio autor desse
livro exemplar, ou desse exemplar de livro, o que dá no mesmo.
Despertei do sonambulismo com o
passista alertando-me: “Não digas a ninguém o
que viste e ouviste até que tuas convicções se tornem inabaláveis”.
Fui para casa, abri O Evangelho segundo o Espiritismo e li,
juro por Allan Kardec que tudo o que acabo de narrar é verdade; li que “Fé
inabalável só o é a que pode encarar a razão em todas as épocas da humanidade”.
Não tive dúvida, fui à livraria da FEB, na Av. L2 Norte, em Brasília, e comprei
o livro.
Não se esqueça, leitor, de que agora
sou Espírito e, como tal, tempo e espaço não mais são barreiras para mim...
Amigo leitor, eu vi, eu ouvi, eu senti.
Acredite em mim... por Allan Kardec... pelo Espírito da Verdade. Pelo amor de
Deus! Outra coisa: não despreze minha obra só porque me tornei espírita, mas ao
contrário, leia a extraordinária literatura que, futuramente, os médiuns Zilda
Gama, Chico Xavier, Yvonne Pereira e Divaldo Franco psicografarão e... “Não extingais o espírito. Não desprezeis as
profecias. Examinai tudo, retende o bem” (Paulo, 2 Tessalonicenses, 1;19 a 21).
[1]
REGO,
Enylton de Sá. O calundu e a panaceia:
Machado de Assis, a sátira menipeia e a tradição luciânica. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 1989, p. 81.
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