EM DIA COM O MACHADO 263 (JLO)
Reendereçamento da crônica de 29 de
agosto de 1889 (Gazeta de Notícias).
Hão de fazer-me justiça, ainda, meus
mais críticos leitores. Pois não é que, após atravessar as águas do Letes,
virei feiticeiro? Aí embaixo, chamavam-me bruxo; aqui em cima, denominam-me
feiticeiro. Durma-se com isso!
Agora, vou relatar-vos o que vi, do
lado de cá, cuja responsabilidade por minha transformação espiritual foi
fundamental. Vi o mago Merlin em frente à minha casa, colocando, num caldeirão
negro, cheio de uma poção mágica enfumaçada, seis pés de galinha, seis asas de
morcegos, sete rabos de arraia etc.
O conteúdo do caldeirão produzia várias
bolhas, que subiam ao céu até desaparecerem. Uma delas estourou sobre minha
cabeça, quando Merlin profetizou: Não és mais bruxo e, sim, feiticeiro. E o
feitiço que fizeres somente uma pessoa poderá desfazê-lo: tu mesmo.
Fiquei intrigado com essa revelação e
perguntei-lhe qual era o motivo de agora eu ser tido como feiticeiro, e não como
bruxo. “Então não sabes a diferença entre um e outro? Pois revelar-te-ei agora:
o bruxo é como eu, um mago capaz de fazer bruxarias. Atribuem-lhe poderes
sobrenaturais, por desconhecimento das leis naturais da natureza; entretanto,
tudo o que ele faz é um exercício de alquimia, ou seja, manipulação dos
elementos químicos para produzir efeitos especiais. Já o feiticeiro faz
feitiço, que é considerado coisa do diabo, mas não no teu caso. Teu feitiço é
para o bem”.
Foi então que vi passar pelas minhas
retinas tudo o que venho relatando-vos, leitor amigo, em 263 crônicas. E
lembrei-me de ter dito alhures que o curandeirismo foi a célula da medicina.
Tudo começou com as ervas, depois vieram os unguentos, os chás, as infusões e o
emplasto Brás Cubas. Até que apareceram o dó-maior,
o dó-menor, o ré-médio, o médico e a droga alopática. Tudo isso em nome da cura.
Portanto, quem foi que disse que o curandeiro deve ser punido? Ele é pioneiro
na cura das doenças. É o pai de Hipócrates e da sã medicina.
Dessa primeira conclusão decorre outra,
a de que o Espiritismo é o santo remédio para um grande mal da humanidade
chamado materialismo, essa fábrica de idiotas, de loucos inconsequentes... Não
pode subsistir. Caso isso ocorra, cada alienado desses será capaz de causar
prejuízo a milhões de cidadãos, antes de morrer e deixar no pó tesouros
incalculáveis, que para ele não terão passado de alucinação e débito
incalculável.
Felizmente, no meu caso, quem preparou
a poção que me transformou foi Merlin, o bom mago, cujos poderes mágicos são voltados para o bem e o
esclarecimento da humanidade com a sã profecia espírita.
O Espiritismo, amigo leitor, vem
renovar os apelos de Jesus à humanidade: “Sede perfeitos, como vosso Pai o é”; “Amai
o vosso próximo, fazendo-lhe tudo aquilo que desejais que ele vos faça”.
Só o amor permanece pela eternidade
afora, o mais não passa de loucura e ignorância. Desvios da Lei Divina, que,
por amor, nos fará retornar, pela dor, ao caminho do bem.
Por fim, o alerta máximo: “De que vale
ao homem conquistar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” Pensai nisso,
leitor, e estudai a proposta definitiva dos céus à humanidade, cuja revelação
foi feita por aqueles que consideráveis mortos.
E amai-vos, com pureza total, com
respeito de irmãos, com amor ao bem e ao exercício da caridade, quando
percebereis que a matéria grosseira que tanto perseguis se esvai no ar como
aquela bolha que estourou em minha cabeça.
Só o Espírito permanece, pois é eterno!
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