Em dia com o Machado 275 (jlo)
Faz
uns cinco anos que estivemos em Salvador, onde residi quando solteiro, há mais
de quatro décadas. Agora, ali estava com esposa, filha, genro e neto. Mais
precisamente, no Largo do Pelourinho, na Cidade Alta, onde há diversas atrações
turísticas, como museus, associações de capoeiristas e lojas de artesanato.
Estávamos
de carro locado, e meu genro era o motorista. Tentamos estacionar numa vaga de
estacionamento público, quando nos vimos cercados por “flanelinhas”. Um deles
dirigiu-nos a palavra e cobrou antecipadamente dez reais para “vigiar” nosso
carro, caso quiséssemos deixá-lo ali. O “preço” a ser pago antecipadamente era
da hora, mas se o carro ficasse mais tempo, teríamos de pagar o equivalente.
Perguntamos-lhe
se ele era funcionário da prefeitura. Ele disse que não. Nesse momento, um dos
guardas do local aproximou-se e, indignados, expusemos-lhe a situação.
O
agente de segurança também se demonstrou altamente perplexo e passou a ameaçar
o “flanelinha”, caso ocorresse qualquer coisa com o nosso automóvel. O teatro
armado na hora foi perfeito:
—
Não incomode estes cidadãos. Eles vão deixar o carro aqui e vão aonde quiserem.
Quando voltarem, se você os importunar vai se ver comigo.
—
Sim, senhor... sim senhor! Eu só...
—
Cale a boca!
—
Mas...
—
Fique calado! já lhe falei... Se houver qualquer reclamação dessas pessoas
contra você essa será a primeira e a última. Em
seguida, disse-nos:
—
Podem ir ao seu passeio, cidadãos. Vocês não serão mais incomodados.
Ficamos
até emocionados com a autoridade do guarda. Chegamos a julgá-la, mesmo, um
tanto exagerada, mas saímos dali alegres e tranquilos. Fomos ao comércio local,
compramos algumas lembranças, visitamos um museu, assistimos a um evento de
capoeira e, uma hora depois, retornamos ao lugar do estacionamento.
Embora
o dia ainda estivesse claro, pois ainda não dera dezoito horas, para nossa
surpresa, não havia mais um único guarda ali, mas “flanelinhas” é que não
faltavam. O que fora repreendido pelo guarda havia posto um carro na frente do
nosso, impedindo-nos a saída. Ao avistar-nos, como se nada houvesse acontecido,
cobrou pela hora em que o carro ali ficara e, só após o pagamento da “taxa”,
empurrou o veículo que impedia a saída do nosso.
Também
no Rio de Janeiro, há poucos anos, no centro da cidade, à noite, minha família
e a de meu primo procurávamos um estacionamento público para deixar nosso
carro, após o que jantaríamos em um dos restaurantes locais. Depois de muito
procurar, encontramos uma vaga, mas assim que paramos ali, surgiu à nossa
frente um “flanelinha” com a seguinte informação:
—
Cinco “real”, doutor, para vigiar... E para não acontecer nada com o carro,
mais cinco, na volta...
Não
precisou dizer mais... saímos dali e fomos procurar outro local para estacionar,
pois a insegurança já estava instalada. Nenhum guarda estava nas proximidades.
Em Brasília, os “flanelinhas” nos agradecem qualquer real, ou mesmo centavos,
que lhes damos; salvo rara exceção. Ainda bem! Por via das dúvidas, sempre
procuro ter algumas notas de dois reais e moedinhas de um real no carro.
Aqui
no Plano Piloto, onde resido, em Brasília, existem diversas passagens
subterrâneas de pedestres. Em pleno centro da Capital, entretanto, tais
passagens são verdadeiramente imundas e não oferecem nenhuma segurança para
quem tem a coragem de por ali passar. Vândalos quebram pisos e as paredes
outrora ladrilhados, bem como espalham todo o tipo de sujeira por lá. À noite,
esses locais servem de abrigo a moradores de rua que nos brindam com pontas de
cigarro, garrafas vazias de cachaça, dejetos fecais e urina.
Quanta
diferença entre a preservação e segurança de nosso espaço turístico e o de
países europeus, como Portugal, por exemplo. Estivemos em Lisboa e outras
cidades portuguesas há poucos anos e ficamos admirados com a limpeza dos locais
públicos. Raras eram as pichações nesses lugares, e a segurança nos assegurava
o direito de ir e vir sem sobressaltos.
Um
fato pitoresco, que observamos em Lisboa, ao passarmos por estacionamento em
frente a pequena loja, foi o cartaz colocado ali: “Proibido estacionar.
Obrigatório ler”.
É
bem verdade que, em Paris, onde também já estivemos, a limpeza dos espaços
públicos não era tão exemplar. O francês fuma muito e joga guimbas de cigarro para todo lado. Entretanto, havia boas condições
de segurança, nas ruas francesas, à noite.
Enquanto
isso, na capital do Brasil, país com uma das mais altas arrecadações de impostos do
mundo, quase nada se faz para proporcionar aos turistas e cidadãos locais ao
menos um pouco de segurança e prazer no desfrute de um bom restaurante à noite
sem sobressaltos.
Vejam,
que beleza!... quanta
segurança! Trabalhos “artísticos” nas paredes... E assaltos, diversos assaltos!
Nunca vi um guarda ali! E essa é apenas uma das diversas passagens subterrâneas
construídas para não sermos atropelados ao tentar cruzar o eixinho, logo acima.
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