Em
dia com o machado 488:
Duas
histórias: uma para rir, outra para chorar(Jó)
Na última quinta-feira, 9 de setembro de
2021, fui ao salão de beleza onde corto meus cabelos ondulados: uns dum
lado, outros doutro... Após sentar-me, enquanto aguardava a chegada de nossa
cabeleireira, que chegaria cinco minutos depois, fiquei ouvindo uma senhora
conversar com a filha da dona do salão, que pintava os cabelos da senhora.
De início, a dona, máscara no rosto, dizia
assuntos relacionados a um aluguel caro, no valor de doze mil reais. Em
seguida, passou a comentar temas relacionados à área da saúde pública onde
trabalha. Então, reclamou de uma norma pública existente há anos, que limitava
a doze afastamentos médicos por ano aos servidores concursados, e citou toda a
dificuldade da colega do hospital, que mora afastada do centro de Brasília,
para homologar uma dispensa médica. O deslocamento de sua cidade, Santa Maria, para
o centro, e a espera para atendimento duram o dia todo. Por isso, justificou a
decisão de sua colega em não pedir dispensa médica do serviço, a não ser por longo
período.
Depois, quando Selma, minha cabeleireira,
já chegara e eu me havia postado em cadeira ao lado da citada cliente, esta
passou a falar sobre caso ocorrido com o ex-governador do Distrito Federal
chamado Roriz, falecido há vários anos, mas de quem ainda hoje se ouvem
"causos" pitorescos. O que ela disse e nos fez sorrir foi o seguinte:
— Você sabia, Selma, que o Roriz era
devoto de Santa Maria? Por isso criou essa cidade e batizou-a com esse nome.
Até hoje, os lotes que ele deu às famílias do lugar não foram regularizados. Há
quanto tempo ele foi governador? E Selma respondeu:
— Já faz mais de vinte anos.
A cliente prosseguiu falando, após
concordar comigo que, pelo tempo de uso, os moradores já faziam jus ao direito
de usucapião. Detalhe: não existe usucapião de bem público.
— Pois é — continuou —, ele adorava
tanto a santa, que resolveu dar o nome à cidade de Santa Maria. Mas algum tempo
depois disso, ele desceu lá de helicóptero com a santa e a hélice do
helicóptero cortou a cabeça dela. Ouvindo isso, quase caí da cadeira... Selma e
a filha, que pintava o cabelo de nossa narradora, acorreram ao seu auxílio,
explicando o que de fato havia acontecido:
— Não foi a cabeça da santa que foi
cortada, foi a da irmã do governador!
Como eu já conhecia a história,
acrescentei:
— Antes fosse a cabeça da imagem da santa...
que é de barro!
Com isso, todos concordamos. E a
narradora sorriu, um pouco sem graça, no que foi acompanhada...
Dava para perceber, entretanto, no tom
da voz da cliente, a ironia e o preconceito contra a crença do folclórico ex-governador de
Brasília. A cliente, então, passou a falar de outro assunto, após o riso geral
em virtude de sua troca da vítima real, que lastimamos, pela cabeça da imagem.
E agora, o assunto era muito, muito sério...
— Na sala de aula da escola em que meu
filho estuda, foi matriculado um menino negro. Todos os seus colegas eram
brancos, e só ele era negro. Então, meu filho fez amizade com ele, mas seus
colegas se afastavam do garoto, que discriminavam. Um dia, a mãe duma menina
que estuda na mesma sala me disse: "Você sabia que matricularam um menino
preto na sala dos nossos filhos?" Ouvindo isso, fiquei indignada e
respondi-lhe: "Ele tem o mesmo direito de estudar ali que nossos filhos; e
meu filho é seu amigo. Além disso, o pai desse menino é um rico empresário. Sua
situação econômica é muito melhor que a nossa."
Indignado pelo que ouvi, em defesa da
dignidade dos negros, falei-lhe que o maior poeta da escola simbolista
brasileira era negro, filho de escravos, e chamava-se Cruz e Sousa. A senhora,
que nunca houvera falar desse grande poeta, embora dissesse que apreciava
poesia, anotou seu nome e disse-me que iria ler seus poemas no Google.
Finalizando sua fala, já não mais tão
animada, a senhora disse que o pai do menino negro retirou-o daquela escola,
onde apenas o filho dela era seu amigo.
Terminado o corte de meus cabelos,
precisei fazer a transferência do pagamento com os olhos baixos. Não só por compaixão,
como por tristeza, duas lágrimas insistiam em permanecer em meus olhos.
Mais do que nunca, solidarizo-me com os
nossos irmãos afrodescendentes! Mais do que nunca, minha alma manifesta sua
indignação contra o preconceito sofrido por eles. Mais do que nunca, reconheço
quanto o Brasil, último país a extinguir a escravidão oficial, é devedor de uma
dívida moral e material imensa para com essa etnia tão vilipendiada, tão
perseguida, tão sofrida.
Ainda hoje, quando assistimos a cenas
brutais de espancamento, de trabalho semelhante ao de escravos, em nosso pais,
quem é que, em 90 por cento dos casos, é vítima desses abusos? A negra e o
negro. Que o Congresso Nacional e a sanção do Presidente da República corrijam
a incompleta Lei Áurea e criem nova lei com seu complemento assim:
"Fica decretado que, a partir de
agora, nenhum negro ficará segregado, em nenhuma instituição pública ou
particular, e que todos os negros sejam tratados com dignidade, respeito e
idênticos direitos possuídos pelas pessoas das demais raças e etnias.
Parágrafo único. Nenhuma pessoa negra
deixará de possuir casa, lazer, educação nos melhores colégios e emprego com
remuneração mínima suficiente a lhe proporcionar boa alimentação, vestuário, e
direito à manifestação cultural livre, de ora em diante, que não atente contra os
costumes e a legislação vigente.
Revogam-se as disposições em contrário.
Esta lei será regulamentada no prazo de
30 dias.
Brasília, 13 de setembro de 2021."
Saravá!
professor, como sempre seus posts são bem escritos, mas a título de comentário gostaria de expor minha visão sobre a nossa realidade. estamos em conflito em nosso planeta com os cenários de passado, presente e futuro. nosso passado ainda tem marcas tristes e que se denotam mais graves aos olhos de hoje, mas que não temos como culpar as pessoas de nosso cotidiano pelo que já aconteceu em sua época e que não cabe mais na legislação vigente. considero oportuno ver o mundo daqui para frente, todos com as mesmas oportunidades, realizando-se ao próprio alcance. a conquista da própria dignidade através da liberdade de pensar e agir, seguindo o mesmo regramento que os demais, será um avanço significativo. creio que qualquer tentativa de beneficiar nossos irmãos por qualquer característica há de classificá-los como diferentes de nós. e isso não queremos mais.
ResponderExcluiraté sempre!
Bravo!
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