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sexta-feira, 30 de junho de 2017



Amor à Primeira Vista  (Wislawa Szymborska. Poemas. Tradução: Regina Przybycien)

Ambos estão certos
De que uma paixão súbita os uniu.
É bela esta certeza,
mas ainda é mais bela a incerteza.

Acham que por não terem se encontrado antes
Nunca havia se passado nada entre eles.
Mas e as ruas, escadas, corredores
nos quais há muito talvez se tenham cruzado?

Queria lhes perguntar,
se não se lembram —
numa porta giratória talvez
algum dia face a face?
um “desculpe” em meio à multidão?
uma voz que diz “é engano” ao telefone?

— mas conheço a resposta.

Não, não lembram.

Muito os espanta saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.

Ainda não de todo preparado
para se transformar no seu destino
juntava-os e os separava
barrava-lhes o caminho
e abafava o riso
sumia de cena.

Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Quem sabe três anos atrás
ou terça-feira passada
uma certa folhinha voou
de um ombro a outro?
Algo foi perdido e recolhido.
Quem sabe se não foi uma bola
nos arbustos da infância?

Houve maçanetas e campainhas
onde a seu tempo
um toque se sobrepunha a outro.
As malas lado a lado no bagageiro.
Quem sabe numa noite o mesmo sonho
Que logo ao despertar esvaneceu.

Porque afinal cada começo
é só continuação
e o livro dos eventos
está sempre aberto ao meio.

Disponível em: www.blogdacompanhia.com.br. Acesso em 30 jun. 2017.



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