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domingo, 25 de novembro de 2012

Em dia com o Machado 25 (jlo)
       
        — Toma cá um abraço; é uma satisfação estarmos no salão de música, para assistirmos juntos uma apresentação das músicas de Mosart. Dizem que, ao ouvi-las, aumenta nosso poder de concentração, tornamo-nos mais inteligentes, com acréscimo de nossa capacidade cognitiva. Mas, diga-me, o que achaste da symphony nº 40, gostaste?
      — Para dizer-te a verdade, não tenho ouvido musical. Fingi ter gostado da apresentação e aplaudi por uma questão de educação, mas não sou sinestésico, nada capto dos sons, abstraio-me, inclusive, quando ouço sons musicais.
            — É mesmo? Pois então repete este som: tchu, tcha, tcha...
            — Pois não: tchu, tcha, tcha...
            — Muito bem, amigo, acabaste de repetir um refrão da música “Eu quero tchu, eu quero tcha”. Agora repita: tchê tchererê tchê tchê...
            — Mas isto é muito simples: tchê tchererê tchê tchê...
            — De qual tipo de música você mais gosta?
            — Para dizer a verdade, nunca apreciei muito esta arte. Mas agora lembro que, para fazer meu filho de três anos dormir, cantava umas letras que aprendi com minha mãe: “Mulher rendeira”, “Boi da cara preta”. E tem mais, quando cantava a última, na parte que diz: “Pega este menino que tem medo de careta”, ele me interrompia e falava: “Não! pega o papai”.
            — Lembras mais alguma?
            — Outra música que cantava muito era “Marinheiro, marinheiro”... Ah, “Prenda minha” também...
            — E ainda tens coragem de dizer que não gostas de música... Já pensaste em analisar a beleza da letra de música “Mucuripe”, de Belchior?
            — Esta eu conheço, é muito bela!
            — Então canta um pedacinho...
            — As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vão levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar.
            — Que beleza, não é mesmo? Viu como és bom de ouvido? Então nunca digas que não gostas de música, e sim que não gostas de certos tipos de música.
            Em seguida, ponho para tocar diversos cantores com estilo correspondente ao gosto musical de meu amigo. Ele aplaude entusiasmado todos eles.     
            Passamos a CDs sem letra, e lhe peço para reproduzir o canto com a boca fechada, acompanhado por mim, que o corrijo nos poucos desvios cometidos. Meu amigo chega a um nível excelente de imitação quando dou por encerrado o treinamento com as seguintes palavras:
            — Agora, meu caro, estamos prontos para ouvir novamente Mozart. Escuta somente.
            Ele ouve, em silêncio, aqueles acordes maravilhosos e, agradece-me emocionado:
            — Muito obrigado! Graças a ti, agora sei o que é música! Tenho-te uma dívida impagável.
            Pouso um dos meus braços sobre seus ombros e digo-lhe estas palavras que ele jamais esquecerá:
            — Já estou pago por abrir-te a audição para a assimilação de uma das mais belas artes do universo: a música e sua harmonia em consonância com todos os ouvidos.
            Boa-noite!

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