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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


Em dia com o Machado 26 (jlo)

Boa-madrugada!

            Mui cara leitora, no raiar de um novo dia, vou falar-lhe de uma outra encarnação minha num país chamado Baviera. Essa nação localiza-se no Sul da República Federal da Alemanha, de quem, atualmente, é um dos maiores estados federais, com 70.553 km² e 12,5 milhões de habitantes.
            A Baviera, em meu tempo, era governada pela Casa von Wittelsbach. Tal domínio durou por cerca de seiscentos anos. Terminou após a Primeira Guerra Mundial. Quer saber mais, pesquise na internet, pois meu espaço é curto e o tempo menor ainda.
            Pois bem, nasci ali no ano bom de 1639, no dia 21 de junho, e recebi o nome de batismo como Eleazar Manassés Victor de Paulo.
            Minha mãe chamava-se Antonieta Joaquina Manassés e meu pai, Lélio Victor de Paulo. Eram fazendeiros e comerciavam rabanetes, produto muito fértil em suas terras. Com o comércio de rabanetes, sustentaram os estudos do filho único: eu.
            Ao completar dezoito anos, meu pai aconselhou-me a inscrever-me para o serviço militar obrigatório, na cidade em que morávamos: Bayreuth, que à época não passava de uma vilazinha com 13.031 habitantes, dos quais 1.315 eram militares, ou seja, aproximadamente, 10% da população local. Outros 20% eram camponeses e, por fim, mais 10% eram servidores públicos. O restante eram mulheres, idosos, estudantes, comerciantes, fazenderiros e crianças.
            Já nesse tempo, havia escolas de nível primário, secundário e superior na vila. Aos dezoito anos, eu mal concluíra o ensino secundário, atual ensino médio no Brasil de hoje. Passava o dia colhendo rábanos para o comércio de meus pais.
            Havia duas carreiras paralelas, tanto no serviço militar, como no serviço público.
Na cidade, só havia o Exército, pois a Marinha funcionava em cidades onde havia mar. Faz sentindo, não é mesmo, amiga leitora?
            Ingressavam na carreira de acadêmicos do Exército aqueles jovens que, aos dezoito ou dezenove anos estivessem matriculados numa das duas universidades de Bayreuth. Esses, se aprovados, seguiriam diretamente a carreira de oficiais. Os demais jovens deveriam servir, obrigatoriamente, como praças. Iniciavam como conscritos, em seguida eram promovidos a soldados, cabos, sargentos, subtenentes e, por fim, entravam na carreira de oficiais. Para a ascensão ao oficialato, porém, precisariam ser admitidos em cursos superiores, desde o ingresso na graduação de 3º sargento.
            E como se davam as promoções? Conscrito: seis meses; soldado: do primeiro dia após os seis meses até completar dois anos de serviço; cabo: se fosse aprovado em concurso, do primeiro dia do segundo ano até o último dia do terceiro ano; 3º sargento: se aprovado em concurso, que o habilitaria ao curso superior da caserna, numa das áreas de formação escolhida, do primeiro dia do quarto ano ao último dia do quinto ano; 2º sargento, seguindo a ordem rigorosa da pontuação obtida no desempenho do primeiro ano do curso superior, a partir do 1º dia do quinto ano. E assim, sucessivamente, ano após ano, havia uma promoção até atingir-se o posto de marechal, a mais alta hierarquia militar de meu tempo, caso fosse aprovado nos concursos que eram oferecidos anualmente. A diferença entre a carreira iniciada como praça e a de oficial era apenas a de alguns anos, pois os que entravam como aspirantes a oficial, após aprovação em curso superior, queimavam a etapa de quatro anos.
            Entretanto, a qualquer momento, o praça podia ser aprovado em curso superior e ingressar diretamente na carreira de oficial, começando no posto de aspirante, desde que fosse aprovado em concurso público para essa finalidade específica do Exército.
            E como se dava a progressão do servidor civil? Da seguinte forma: quem fizesse concurso para nível médio deveria submeter-se a uma série de requisitos, como nota obtida no concurso público, pontualidade, cumprimento rigoroso das ordens de seus chefes, etc. De cinco a dez anos, ascenderia de nível, conforme o número de vagas e pontos obtidos. Começava no nível 1 e terminava, no máximo, no 5.
            O servidor que ingressava no serviço público, no nível superior, igualmente era avaliado por sua produtividade, nota obtida no concurso, avaliação do chefe imediato, que, obrigatoriamente precisava ter pós-graduação, como especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorados em sua área de atuação. A promoção, entretanto, só ocorria, em média, a cada sete anos. Além disso, precisava submeter-se a um concurso externo e ser aprovado, a cada novo curso concluído.
            Em suma, ingressei no Exército, fui aprovado na universidade e, em vez de seguir a célere carreira militar, disse a meus pais que não tinha saco nem vocação para essa profissão, por demais perigosa, embora não houvesse participação de nenhum de seus militares em qualquer conflito bélico há mais de duzentos anos.
             Dito e feito, dei baixa, após aprovação em concurso público, na vaga de escriturário e, trinta e cinco anos após, aposentei-me, nessa mesma função, mas, em vez de fazer cursos, tornei-me escritor renomado, tendo publicado nove ou dez romances, 200 contos e, aproximadamente, 600 crônicas até o fim de minha vida.
            Ah! Sim, desencarnei aos 69 anos, em 1708, após ter ficado viúvo de minha mulher amada com quem “não tive filhos, não transmiti a ninguém o legado de minha miséria”.
            Por hoje é só.
            Bom-dia!

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