Em
dia com o Machado 30 (jlo)
Hoje vamos falar ao amigo leitor sobre a conversa do
peru com sua esposa antes de ser desmentida aquela profecia sobre o fim do
mundo.
Dizia o peru, ave meleagridídea
doméstica, originária da América do Norte, à perua, 31 dias antes da incubação de
seus vinte ovos:
— Querida, como você sabe, o mundo
vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012. É quase um palíndromo numérico:
21.12.12...
— Glu, glu, e daí, respondeu ela, no
dia 25 desse mesmo mês nós não vamos para a panela das famílias cristãs,
judias, muçulmanas, budistas, espíritas ou ateias e não vamos morrer do mesmo
jeito? Que se dane o mundo acabar quatro dias antes, pelo menos vamos ter um
fim comum ao dos humanos. Por isso mesmo nem penso em chocar nossos filhos.
— Que nada, sua ... perua ... Deixa
de ser ... perua. O mundo só vai acabar para os humanos. Vamos voltar a ter uma
terra só de animais. Vai ser o paraíso.
— Glu, glu, glu, glu, assim nós
vamos para a galera. Vou voltar a sentar-me sobre os ovos.
— Isso mesmo, amor, senta e aquece
nossa prole numerosa, pois o mundo é dos aviários. Quem sabe, entre os que
nascerem não venha uma nova espécie de pterossáurio e não sejamos os primeiros
a provocar a nova gênese dos dinossauros?
— Glu, glu, glu, se isso acontecer,
alma minha, seremos os ascendentes da reencarnação aviária no mundo que
repovoará a terra com seres alados maravilhosos e reivindicaremos o posto de avis ancestrais mores.
— Estudaremos astronomia, fórmulas
para fazerem perus voarem, buscaremos vidas aviárias em outros orbes e
impediremos a volta do ser humano, essa criatura hedionda, que ama cachorros e
gatos e mata os bons porcos e perus sob o pretexto de homenagear o único ser
perfeito que habitou entre eles.
— É verdade, querido! O Senhor havia
dito à humanidade que seu Pai era Amor e, nessa condição, como bom pastor, nada
deixava faltar aos lírios nos campos e às aves nos céus, inclusive a nós,
pesadões que ainda não podemos voar.
Veio, porém, o dia 21 de dezembro de
2012. Nada de extraordinário ocorreu nesse dia e em dias próximos, a não ser a
matança, numa escola, de vinte crianças por um psicopata, o bombardeio da
Palestina por Israel e, no Brasil, a condenação, por Joaquim Barbosa e seus
pares dos políticos e cidadãos corruptos ligados ao mensalão.
Além de, em São Paulo, ocorrer a
morte de policiais militares por bandidos comandados por seus chefes de dentro
das cadeias.
Quanto ao nosso casal, foi parar na
panela dos seus proprietários. Deixou, entretanto, vinte peruzinhos lindos, na
esperança de que a próxima profecia do fim do mundo acabe para o reino hominal,
antes que os novos perus vão para a panela, e o reino animal assuma, de uma vez por todas, o
controle da vida no paraíso chamado terra.
Dois desses filhotinhos, porém,
formavam um estranho casal extremamente semelhante aos pterossáurios. Seria um
sinal dos novos tempos?
Eles estão aí, crescendo
assustadoramente, com seus dez dias de vida... O olhar enigmático parece
dizer-nos:
— Gênero humano, aguarde! Sua vez
está para chegar. Não se esqueça de que a vida é um sopro de Deus, que continua
velando pelos lírios nos campos e, sobretudo, pelas aves nos céus e pelos perus
na terra.
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