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sábado, 15 de dezembro de 2012


Em dia com o Machado 28 (jlo)


A Baviera e o governo de um tiro só


            Amigo ouvinte, lembra-se de ter-lhe falado sobre minha encarnação na Baviera? Hoje vou falar-lhe sobre a sua independência. Informei à leitora e ao leitor da crônica 26 que a Casa von Wittelsbach dominou no país, por cerca de 600 anos.

            Só não lhes falei que, embora o domínio fosse de uma casa monárquica, havia no país um sistema de governo presidencialista dos nossos dias. A casa monárquica somente interferiria em alguma situação político-econômica se houvesse discordância entre os três poderes: executivo, legislativo e judiciário da nação. Mas em geral, nunca houve necessidade de ingerência econômica ou política naquele pequeno país de 12,5 milhões de habitantes na época em que lá vivi.

            A República fora instalada ali no dia 15 de novembro de 1669. Após os primeiros governos, digamos assim, de transição, as eleições presidenciais passaram a ocorrer para valer. Vejamos o que ocorreu nas últimas mais marcantes, cujo mandato era de cinco anos, com direito a concorrer a nova reeleição cada presidente.

            Em 1669, após proclamada a República, foi eleito, pelo voto popular, o presidente Fercolo Cielo Nando, após acirrada disputa entre o seu partido e o da oposição. O partido do presidente era o PRB - Partido Revolucionário da Baviera, o da oposição chamava-se POB - Partido dos Operários Bavieros.

            Houve uma acirrada disputa entre esses dois únicos partidos na candidatura à presidência. O candidato Fercolo Cielo fora atacado impiedosamente pelo seu concorrente, Agnácio Luís da Silva, do POB, que, ante a derrota nas urnas, prometeu vingar-se destituindo, com a ajuda operária, seu oponente, agora na presidência.

            Dito e feito, dois anos após ser eleito com a proposta de um plano econômico de “um tiro só na economia”, Fercolo foi deposto sob o argumento de que, com o congelamento proposto por seu ministro da economia, levou o país à bancarrota e provocou uma comoção social: a inflação foi às alturas, pessoas prejudicadas suicidavam-se, outras punham fogo nas viaturas oficiais do governo, assaltos a bancos se multiplicavam...

            Desse modo, o vice-presidente assumiu a vaga aberta e, tão logo obteve as prerrogativas de mandante mor do Estado, nomeou um ministro da economia com poderes extraordinários para debelar a crise socioeconômica do país. Seu nome, que posteriormente viria a ser o novo presidente da Bavária, era Fernão Dias Leme, cujo partido tinha as mesmas letras do seu nome: FDL – Frente Democrática Liberal.

            A Frente Democrática Liberal, do governo que sucedeu ao do ex-vice presidente, pouco lembrado pelo povo e por este narrador, apesar de seu excelente governo, agora sob a gestão de Fernão Dias Leme revolucionou a economia local. Fernão, este sim, muito lembrado e até reeleito, sempre disputava e vencia limpamente Agnácio Luís.

            O ex-ministro da economia, agora presidente, promoveu uma verdadeira revolução no país: instituiu o voto feminino, que antes não havia, baixou a inflação, que chegava a três dígitos para menos de dois, estabilizou a moeda e, consequentemente, a economia do país e, por fim, criou um programa de atendimento às famílias de baixa renda (PAFBR), que, quando procurado por tais núcleos familiares, fazia um belo acompanhamento econômico de tais pessoas, antecedido por uma investigação meticulosa das suas reais necessidades socioeconômicas. Mas não ficava só nisso, sob a orientação de um(a) assistente social, encaminhava os filhos desses núcleos às excelentes escolas criadas exclusivamente para a formação de toda a família, desde o(a) filho(a) caçula à mãe e ao pai.

            O POP, atento ao que o FDL fez, candidatou-se pela quarta vez sucessiva, com o mesmo candidato, nosso já conhecido Agnácio, nome popular que passou a ter, e, de tanto insistir, ganhou a eleição, sob uma chuva de ataques de todos os lados, incluindo a acusação de corrupção ao governo de Fernão, ao qual prometia combater implacavelmente, em seu governo.

            Nessa disputa eleitoral, FDL, sigla pela qual ficara conhecido Fernão Dias Leme, indicara outro candidato, por não poder concorrer terceira vez à presidência.

            Muito bem, como dizíamos, Agnácio elegeu-se como defensor dos operários e, como já fora combinado por seu partido, não apresentou nenhuma proposta de governo, a não ser as antigas promessas de campanha de que investiria na educação, fonte primacial de progresso à nação; na saúde, base para um povo produtivo; e na segurança, esteio de um povo feliz. Além disso, prometeu ampliar o PAFBR, que, em seu governo, seria acrescido do PRAR – Programa de recursos às atividades rurais e do PVO – Programa de valorização aos operários, além do PSST – programa de saúde e segurança a todos.

            Quanto à educação, afirmava, em alto e bom som:

             — Só tenho o primário e, no entanto, fui distinguido com a mais elevada condecoração que alguém possa ter: o diploma de presidente da respública (talvez em analogia com “res”: coisa e pública - do povo). Em seu governo, a saúde teve péssimos índices, a educação ficou entre as piores do mundo e a insegurança era total: invasões de movimentos dos desterrados (MD) por toda a parte, assaltos a bancos com sofisticados procedimentos, como o de escavação de túneis de centenas de metros até a boca do cofre, implodido com destreza, sequestros relâmpagos, assassinatos de autoridades e, atrocidades sem conta. Ainda assim, graças à manutenção da economia estável e aos programas sociais, sua gestão teve grande participação e Agnácio foi reeleito.

            Após sua reeleição, Agnácio ainda tentou, timidamente, a aprovação de um decreto que o tornava presidente perpétuo da Baviera, além de “calar a imprensa”. Mas foram os próprios operários, sob a condução de intelectuais atentos do país que não permitiram tal golpe de Estado. Além do mais, a corrupção rolava solta em seu governo, o que envergonhava por demais os homens e mulheres íntegros. O POB não teve outra saída a não ser indicar seu sucessor na nova campanha eleitoral.

            Não foi sucessor, e, sim, sucessora.

            Seu nome era Dilmerinda Rasttoldof de Sousa, que, mais uma vez, como o fizera seu antecedente, prometeu investir nos três cancros dos governos anteriores: educação, saúde e segurança. Em relação à última palavra, ficou um pouco insegura, entretanto, pensava e falava à boca pequena com seus correligionários:

            — Investindo na educação e na saúde, consequentemente a segurança estará sob controle. Principalmente, dizia, porque manteremos as crianças na escola o dia todo e os pais estarão sob a proteção do Estado. Nenhuma família ficará sem café da manhã, almoço e janta (proposta, aliás, do seu padrinho Agnácio, quando eleito já da primeira vez); além disso, todo empenho será dado, em meu governo, à questão da saúde e do investimento nos demais programas do meu antecessor. 
           Sua bandeira, sem mencionar o governo deposto de Fercolo, voltou a ser a do governo de um tiro só: combate à fome e à miséria.

            Curioso é que uma vidente previra a morte de Dilmerinda, após um retumbante fracasso de seu governo. Nada disso ocorreu. No apagar das luzes do seu primeiro mandato, a aprovação de sua gestão foi a maior de todos os tempos: 72 por cento.

            No questionário do censo, questões como saúde, segurança e educação recebiam nota perto de zero; contudo, quando se falava de combate à fome e à miséria, a nota era próxima de cem. Em consequência, juntando-se a outros países, como R, I e C, países emergentes, cuja economia subia mais de dois dígitos, anualmente, o rico país que era a Baviera crescia, espantosamente, meio por cento ao ano. Isso porque grande número de empreendedores, de cientistas e intelectuais diversos vinham do oriente e do ocidente investir no país.

            Em compensação o bem nutrido povo da Baviera vivia feliz em sua casa, alheio às notícias de prisões da polícia federal, de sequestros relâmpagos, de corrupção pipocando por todo o lado, e da constatação, pelas mídias de toda a humanidade, de que, em seu país, saúde era sinônimo de catástrofe, segurança, de caos e a educação era a de nível mais baixo entre todas as nações.

            Esse foi o verdadeiro governo de um tiro só. Vivi lá, meu caro leitor... E sobrevivi.

            Viva a Baviera!

            Boa-tarde.

           

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