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domingo, 10 de fevereiro de 2013


Em dia com o Machado 36 (jlo)

 
            Nessa época de Carnaval (car de carne; na de nada; val, de vale, ou seja, em que, para alguns, a “carne nada vale”, vocês nem imaginam aonde vou. Lá vai: de novo, vou à Federação Espírita Brasileira, como o fiz no dia 5 de outubro de 1885 e contei para a amiga leitora.
            Naquele dia (dia destes, pois o que são 128 anos para o Espírito imortal?), falei-lhes da conferência feita pelo Sr. M. F. Figueira sobre o Espiritismo.
            Então, esclareci que, novidade para os leitores e para a própria Federação foi o fato de eu ter lá entrado (na época, a sede era no Rio de Janeiro), ficado, ouvido e saído sem que ninguém desse pela coisa. Foi o que, dizia, me converteu à nova Doutrina.
            O entusiasmo era grande, pois só no que se falava na Europa, antes de emigrar a ideia para o Brasil, era no Espiritismo: Charles Richet, francês prêmio Nobel de Física, William Crookes, inglês descobridor da “energia radiante” e que materializou o Espírito Katie King durante três anos, no laboratório de sua residência, Ernesto Bozzano, italiano que escreveu várias teses científicas comprovando o fenômeno espírita, César Lombroso, famoso criminalista italiano, que atacava o Espiritismo e se converteu, ante a presença espiritual de sua mãe, em uma sessão mediúnica, além do extraordinário escritor francês Vítor Hugo, autor de Les misérables (1862) e outras obras mundialmente famosas, etc. etc., etc.
            Agora, uma bomba para os pseudossábios, adeptos do materialismo. Em vida, era costume nosso, ou seja, meu e de outros escritores, ficcionar qualquer coisa, sem que, com isso, narrador e autor se confundissem. Veja o meu caso. Leitor assíduo da Bíblia, desde muito jovem, e de obras exotéricas, esotéricas, espíritas, gregas, etc., sem deixar de ser católico, apostólico brasileiro, mas universal, passei, ao longo desses 128 anos e outros 46, ou seja, desde que nasci, em 1839, por inimigo figadal do Espiritismo. Mas se assim o era, não o era menos do Catolicismo, dos evangélicos, dos muçulmanos, dos..., pois minhas farpas eram dirigidas a quaisquer religiosos e políticos, ainda que, por vezes, também às religiões. A bomba é que, mesmo tendo recusado a extrema-unção católica, às vascas da morte, nunca deixei de crer em Deus e nos bons e leais Espíritos.
            — Muito engraçado, meu caro Machado, mas então cita outro exemplo, mas um exemplo bombástico como o de sua revelação acima, de um escritor sabidamente materialista, no meio acadêmico, que só na ficção o fosse.
            — Pois não, caro leitor racional, veja-se Augusto.
            — Que Augusto, o dos Anjos?
            — Ele mesmo...
            — “Cê tá brincando!” Não há um crítico renomado que não reconheça a alma profundamente ateia e pessimista desse poeta.
            — É por que não conviveram com ele. De formação católica, Augusto dos Anjos realizava reuniões mediúnicas em sua casa, e não era raro que o Espírito Gonçalves Dias se manifestasse por seu intermédio. Mas os “batedores do Além” resolveram fazer terrorismo espiritual na casa do poeta e, para que a paz voltasse a reinar, no Engenho Pau d’Arco, D. Mocinha, mãe de Augusto, proibiu as sessões. Veja que coisa, racional leitor, o pretenso materialista acreditava em Deus e nos Espíritos.
            — Prove o que você diz.
            — Pergunte a Ademar Vidal, que morou pertinho da casa de Augusto e que não saía de lá, tendo mesmo se tornado aluno de Augusto dos Anjos. Quer saber mais? Leia a obra de Ademar, O outro eu de Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.
            — Sabe de uma coisa: depois de tudo o que você falou, eu vou é na Federação Espírita Brasileira, neste domingo, 10 fev. 2013, assistir a palestra sobre o tema “A fé transporta montanhas”.
            — Eu também, não te falei no início desta crônica? “Há muito mais  coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia”. A FEB fica na Av. L2, nº 603 da Asa Norte, aqui em Brasília. E todo domingo tem sessão aberta ao público lá.
            — Mais uma perguntinha: lá se cobra para entrar? O dízimo, por exemplo?
            — Que nada, o espírita costuma repetir o que o Cristo disse: “De graça recebestes, de graça dai”. A entrada é franca, meu amigo, e a liberdade de crença já é pregada pelo Espiritismo desde sua fundação, por Allan Kardec, em 1857.
            — Só mais uma perguntinha: a que hora tem início e que hora termina a sessão?
            — Inicia-se às 16h e termina às 17h. Vamos lá? Boa-noite!
            — Lá nos encontraremos. Boa-noite!

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