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domingo, 17 de fevereiro de 2013



Em dia com o Machado 37 (jlo)

            Quão pouco se leia neste chão é o que pouca gente percebe, há longos anos. E não venha me lembrar de ter dito que um bibliômano mo afirmou o contrário, em A semana de 11 de ago. de 1895: “muita gente diz que pouco se lê em meu país”.
            Em minha época, uma das causas era o mau aspecto dos livros, a desigual forma das edições, o mau gosto, em síntese. Já não creio que assim seja. Muito menos o seria por falta de estantes. Atualmente, estão sobrando estantes, o que está fadado a desaparecer são os livros.
            Quando passo por uma banca de revistas e jornais, sinto um dó danado do jornaleiro. O mundo está informatizado e já se divulga, por exemplo, o seguinte slogam nos sites de relacionamento: “Eu leio livros digitalizados, e você?” Pobre livreiro, pobre bibliotecário, pobre jornaleiro. Pois se se lê livros digitalizados, o que se dirá de jornais e revistas, cada vez mais digitais?
            Antigamente, ao final de uma pesquisa, colocava-se a bibliografia. Atualmente, nem isso mais é correto, para quem segue ou recomenda as normas técnicas atualizadas. É referências, mané, que se escreve no final da obra e não mais referências bibliográficas ou bibliografia. Veja o que prevê a última NBR 6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas, a tão temida ABNT por alguns acadêmicos e desprezada por alguns autossuficientes pesquisadores, que, para disfarçar sua ignorância, continuam usando as normas de décadas atrás, quando ainda se praticava a bibliografia no final da pesquisa.
            Mas, se pouco se lê, muito se escreve. E mal, muito mal. É temerário escrever, literariamente, em nossa era da reprodução digital, um conto com mais de cinco páginas, um romance com quinhentas. Por isso optei pela crônica, e olhe lá...
            Daqui a pouco, vão pedir-me que reduza o tamanho das sofridas linhas do meu texto. É possível até que me peçam poemas, mas poemas curtos, de uma estrofe. Então, já começo a ensaiar meus versos tortos:
Sê como o sândalo, que se derrama
Em perfumes aos dentes da má serra.
Perdoa a quem te fere e não reclama
Do amigo enganado que contigo erra.

                São sofríveis, mas se comparados, em extensão, aos textos ilustrados dos sites de relacionamento, pelo menos faz o leitor refletir um pouco e, se estiver disposto, clicar em “curtir”.
            O interessante, num dos versos acima é que a máxima “Seja como o sândalo que perfuma o machado que o fere”, teve o machado substituído pela serra, apócope de motosserra, para ficar mais atualizada com a nossa era da pós-modernidade.
            Ainda bem, pois também sou Machado e não desejo ferir ninguém...
            Ah, você não sabe o que é apócope. Não tem problema, não vou mandá-la para o dicionário de papel. Acesse seu dicionário eletrônico e, de imediato, terá o conceito.
            Só não pode fazer como um ex-aluno meu, de uma turma de Geografia de um grande Centro Universitário particular, que confundiu as palavras “instalado”  e “entalado” em minha aula de português. Não se entale, instale-se no significado correto, de acordo com o contexto escrito acima.
            Ficou curioso para saber a história do aluno? Na próxima crônica eu conto, se é que não já a contei alhures. Prove que gosta de ler: consulte minhas atuais crônicas e outras, deste meu secretário, neste blog e veja se não já contei esse hilariante caso, pois se meu texto é longo, minha memória é curta.            
            Agora é hora de concluir esta, que já está entalada na garganta de muita gente boa.
            Um velho conhecido meu, o Tolentino, diretor da Imprensa Nacional, se não me engano, até o nosso último encontro, discordou de mim, quando lhe disse que o livro de papel, assim como os periódicos, estavam com os dias contados. E isso foi há poucos anos. Mas, quando já se começa a divulgar as vantagens do livro eletrônico em relação ao da árvore, é o momento de dizer ao sândalo:
            — Fique frio, irmão, continue emanando teu perfume, sem medo da motosserra, pois não demora muito, vão sobrar árvores no mundo.
            A não ser que se produzam livros perfumados para concorrer com os eletrônicos que, por enquanto, ainda não têm perfume.
            Mas enquanto isso não ocorre, te cuida, meu...
            Boa-madrugada!

Ps. do meu secretário Jorge Leite de Oliveira (nome completo para não haver dúvida):

Corra, enquanto ainda existem livros e compre um dos meus em qualquer boa livraria. O texto acadêmico está na oitava edição e é publicado pela Ed. Vozes. Traz muitos textos interessantes e modelos de crônicas, artigos, ensaios, monografias, resumos, resenhas, referências, citações, dissertação etc. etc. etc. Tudo atualizado pela ABNT.
Título completo: Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica.

O outro foi editado este ano, mas já é sucesso nas boas livrarias. Também foi publicado pela Vozes e traz muitos tipos de gêneros textuais e literários.
Tem a colaboração, em coautoria, do bibliotecário e mestre em ciência da informação Geraldo Campetti Sobrinho e do professor Manoel Craveiro.
Seu título: Guia prático de leitura e escrita.

Um comentário:

  1. http://jojorgeleite.blogspot.com.br/ Acesse para ler "Em dia com o Machado 37". Bom-domingo!

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