Em dia com o Machado 37 (jlo)
Quão pouco se leia neste chão é o
que pouca gente percebe, há longos anos. E não venha me lembrar de ter dito que
um bibliômano mo afirmou o contrário, em A
semana de 11 de ago. de 1895: “muita gente diz que pouco se lê em meu país”.
Em minha época, uma das causas era o
mau aspecto dos livros, a desigual forma das edições, o mau gosto, em síntese.
Já não creio que assim seja. Muito menos o seria por falta de estantes.
Atualmente, estão sobrando estantes, o que está fadado a desaparecer são os
livros.
Quando passo por uma banca de
revistas e jornais, sinto um dó danado do jornaleiro. O mundo está
informatizado e já se divulga, por exemplo, o seguinte slogam nos sites de relacionamento: “Eu leio livros digitalizados,
e você?” Pobre livreiro, pobre bibliotecário, pobre jornaleiro. Pois se se lê
livros digitalizados, o que se dirá de jornais e revistas, cada vez mais
digitais?
Antigamente, ao final de uma
pesquisa, colocava-se a bibliografia. Atualmente, nem isso mais é correto, para
quem segue ou recomenda as normas técnicas atualizadas. É referências, mané, que se escreve no final da obra e não mais referências bibliográficas ou bibliografia.
Veja o que prevê a última NBR 6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas,
a tão temida ABNT por alguns acadêmicos e desprezada por alguns
autossuficientes pesquisadores, que, para disfarçar sua ignorância, continuam
usando as normas de décadas atrás, quando ainda se praticava a bibliografia no
final da pesquisa.
Mas, se pouco se lê, muito se
escreve. E mal, muito mal. É temerário escrever, literariamente, em nossa era
da reprodução digital, um conto com mais de cinco páginas, um romance com
quinhentas. Por isso optei pela crônica, e olhe lá...
Daqui a pouco, vão pedir-me que
reduza o tamanho das sofridas linhas do meu texto. É possível até que me peçam
poemas, mas poemas curtos, de uma estrofe. Então, já começo a ensaiar meus
versos tortos:
Sê como o sândalo, que se derrama
Em perfumes aos dentes da má
serra.
Perdoa a quem te fere e não
reclama
Do amigo enganado que contigo
erra.
São sofríveis, mas se comparados, em extensão, aos
textos ilustrados dos sites de relacionamento, pelo menos faz o leitor refletir
um pouco e, se estiver disposto, clicar em “curtir”.
O interessante, num dos versos acima
é que a máxima “Seja como o sândalo que perfuma o machado que o fere”, teve o
machado substituído pela serra, apócope de motosserra, para ficar mais
atualizada com a nossa era da pós-modernidade.
Ainda bem, pois também sou Machado e
não desejo ferir ninguém...
Ah, você não sabe o que é apócope.
Não tem problema, não vou mandá-la para o dicionário de papel. Acesse seu
dicionário eletrônico e, de imediato, terá o conceito.
Só não pode fazer como um ex-aluno
meu, de uma turma de Geografia de um grande Centro Universitário particular,
que confundiu as palavras “instalado” e “entalado”
em minha aula de português. Não se entale, instale-se no significado correto,
de acordo com o contexto escrito acima.
Ficou curioso para saber a história
do aluno? Na próxima crônica eu conto, se é que não já a contei alhures. Prove
que gosta de ler: consulte minhas atuais crônicas e outras, deste meu
secretário, neste blog e veja se não já contei esse hilariante caso, pois se
meu texto é longo, minha memória é curta.
Agora é hora de concluir esta, que
já está entalada na garganta de muita gente boa.
Um velho conhecido meu, o Tolentino,
diretor da Imprensa Nacional, se não me engano, até o nosso último encontro,
discordou de mim, quando lhe disse que o livro de papel, assim como os
periódicos, estavam com os dias contados. E isso foi há poucos anos. Mas,
quando já se começa a divulgar as vantagens do livro eletrônico em relação ao
da árvore, é o momento de dizer ao sândalo:
— Fique frio, irmão, continue
emanando teu perfume, sem medo da motosserra, pois não demora muito, vão sobrar
árvores no mundo.
A não ser que se produzam livros
perfumados para concorrer com os eletrônicos que, por enquanto, ainda não têm
perfume.
Mas enquanto isso não ocorre, te
cuida, meu...
Boa-madrugada!
Ps. do meu
secretário Jorge Leite de Oliveira (nome completo para não haver dúvida):
Corra, enquanto
ainda existem livros e compre um dos meus em qualquer boa livraria. O texto acadêmico está na oitava edição
e é publicado pela Ed. Vozes. Traz muitos textos interessantes e modelos de
crônicas, artigos, ensaios, monografias, resumos, resenhas, referências,
citações, dissertação etc. etc. etc. Tudo atualizado pela ABNT.
Título completo: Texto acadêmico: técnicas de redação e
de pesquisa científica.
O outro foi editado
este ano, mas já é sucesso nas boas livrarias. Também foi publicado pela Vozes
e traz muitos tipos de gêneros textuais e literários.
Tem a colaboração,
em coautoria, do bibliotecário e mestre em ciência da informação Geraldo
Campetti Sobrinho e do professor Manoel Craveiro.
Seu título: Guia prático de leitura e escrita.
http://jojorgeleite.blogspot.com.br/ Acesse para ler "Em dia com o Machado 37". Bom-domingo!
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