Em dia com o
Machado 66 (jlo)
— Amigos,
não é novidade para ninguém que a escravidão foi abolida do Brasil por meio da
chamada Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888.
— Mas...
que tipo de escravidão, Machado, se nem a dos negros foi abolida? Há tantos
grilhões prendendo corpos e mentes neste mundo ímpio, que já não se contam os
ais que se elevam aos espaços, mais altos que os condores poéticos de Castro
Alves.
— Digam-me,
então, meus caros Silva de Oliveira Costa, Costa de Oliveira Silva e Oliveira
Costa e Silva, que outras escravidões vocês conhecem?
— A
escravidão a um nome insuportável é uma delas, Bruxo! Outro dia, minha mulher
foi fazer uma consulta ginecológica e foi atendida pelo ginecologista chamado Gênese
Boceta. Antes os nossos nomes que este, né?
— Concordo
com você, Silva, que tal nome, atualmente, é estranho; antes, porém, devo
esclarecer-lhe que boceta, no meu tempo, era um nome como outro qualquer, com o
significado de caixinha ovalada. Quer conferir? Leia em Conto de Escola (In: ASSIS,
Machado. Várias Histórias), terceiro parágrafo: “Uma vez sentado, extraiu da
jaqueta a boceta de rapé (...)”.
— Pois eu
conheci um alfaiate que colocou os seguintes nomes em seus três filhos: Índio Curupira,
Cacique Morubixaba e Águia da Pena Branca. Perguntei-lhe por que escolhera tais
nomes e sua resposta foi curta e grossa:
— Quem
mandou...?
— É
verdade, Costa, quem mandou ser filho de um filho da...
— Calma, do
Cosme... Quer que chame Dom Casmurro para acalmá-lo? Mas, eu concordo com o
Silva. Há nomes de uma simploriedade sinistra.
— Exemplifique,
Oliveira...
— Pois não,
Velho, ouça este: Simplício Simplório da Simplicidade Simples.
— Meu caro,
não lhe pedi para fazer aliteração poética e, sim, citar nome...
— Pois esse
é o nome que um pai teve a coragem de pôr em seu filho.
— Há frases
que justificam o nome do seu autor, como, por exemplo, a citada por Kika Gadha:
“A probabilidade de você se sujar comendo é diretamente proporcional à roupa
clara que precise usar”.
Estoutra é
do japonês chamado Kitonto Kifostes: “Quando, após anos sem necessitar usar
algo, você o joga no lixo, no dia seguinte você precisa daquilo”.
Agora, uma
do Tamus Ferradus: “Se você pensa que as coisas vão melhorar, é por que algo
lhe passou despercebido”.
Ring Allan
Bell chegou à seguinte conclusão: “Você vai pegar o telefone exatamente a tempo
de dizer alô quando alguém acabou de desligá-lo”.
Conheci um
homem chamado Colapso Cardíaco da Silva. Morreu do coração.
Um menino
de nome José Catarrinho vivia gripado; porém o soldado Carabino Tiro Certo, contrariamente
ao nome, foi reprovado na prova de tiro do seu quartel...
— Coisas da
vida, Bruxo do Cosme Velho!
— Isso é
apelido, meu nome é Joaquim Maria...
— Está
vendo só? Há Maria no seu nome. Homenagem a sua mãe?
— Não
somente a ela, Roge, como a todas as Marias humilhadas pelos canalhas que
tiveram a coragem de se vingar em seus filhos, frutos indesejados e inocentes
de sua paixão, com nomes como Pancrácio, meu escravo alforriado.
— E como
justificar a vingança paterna, Bruxo, quando o pai dá nome a seu filho de Produto
do Amor Conjugal de Marichá e Maribel?
— Deixa eu
responder, Machado! Esse é idiota completo, e deveria, como os demais
abestalhados que se lhe assemelham, passar o dia lendo e corrigindo, em
cartório, todos esses nomes ilegais, até não mais haver um só servo da safadeza
satânica desses Sátrapas!
— Obrigado, Emeil Antivírus.
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