Páginas

sábado, 7 de setembro de 2013

Em dia com o Machado 66 (jlo)

            — Amigos, não é novidade para ninguém que a escravidão foi abolida do Brasil por meio da chamada Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888.   
            — Mas... que tipo de escravidão, Machado, se nem a dos negros foi abolida? Há tantos grilhões prendendo corpos e mentes neste mundo ímpio, que já não se contam os ais que se elevam aos espaços, mais altos que os condores poéticos de Castro Alves.
            — Digam-me, então, meus caros Silva de Oliveira Costa, Costa de Oliveira Silva e Oliveira Costa e Silva, que outras escravidões vocês conhecem?  
            — A escravidão a um nome insuportável é uma delas, Bruxo! Outro dia, minha mulher foi fazer uma consulta ginecológica e foi atendida pelo ginecologista chamado Gênese Boceta. Antes os nossos nomes que este, né?
            — Concordo com você, Silva, que tal nome, atualmente, é estranho; antes, porém, devo esclarecer-lhe que boceta, no meu tempo, era um nome como outro qualquer, com o significado de caixinha ovalada. Quer conferir? Leia em Conto de Escola (In: ASSIS, Machado. Várias Histórias), terceiro parágrafo: “Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé (...)”.
            — Pois eu conheci um alfaiate que colocou os seguintes nomes em seus três filhos: Índio Curupira, Cacique Morubixaba e Águia da Pena Branca. Perguntei-lhe por que escolhera tais nomes e sua resposta foi curta e grossa:
            — Quem mandou...?
            — É verdade, Costa, quem mandou ser filho de um filho da...
            — Calma, do Cosme... Quer que chame Dom Casmurro para acalmá-lo? Mas, eu concordo com o Silva. Há nomes de uma simploriedade sinistra.
            — Exemplifique, Oliveira...
            — Pois não, Velho, ouça este: Simplício Simplório da Simplicidade Simples.
            — Meu caro, não lhe pedi para fazer aliteração poética e, sim, citar nome...
            — Pois esse é o nome que um pai teve a coragem de pôr em seu filho.
            — Há frases que justificam o nome do seu autor, como, por exemplo, a citada por Kika Gadha: “A probabilidade de você se sujar comendo é diretamente proporcional à roupa clara que precise usar”.
            Estoutra é do japonês chamado Kitonto Kifostes: “Quando, após anos sem necessitar usar algo, você o joga no lixo, no dia seguinte você precisa daquilo”.
            Agora, uma do Tamus Ferradus: “Se você pensa que as coisas vão melhorar, é por que algo lhe passou despercebido”.
            Ring Allan Bell chegou à seguinte conclusão: “Você vai pegar o telefone exatamente a tempo de dizer alô quando alguém acabou de desligá-lo”.
            Conheci um homem chamado Colapso Cardíaco da Silva. Morreu do coração.
            Um menino de nome José Catarrinho vivia gripado; porém o soldado Carabino Tiro Certo, contrariamente ao nome, foi reprovado na prova de tiro do seu quartel...
            — Coisas da vida, Bruxo do Cosme Velho!
            — Isso é apelido, meu nome é Joaquim Maria...
            — Está vendo só? Há Maria no seu nome. Homenagem a sua mãe?
            — Não somente a ela, Roge, como a todas as Marias humilhadas pelos canalhas que tiveram a coragem de se vingar em seus filhos, frutos indesejados e inocentes de sua paixão, com nomes como Pancrácio, meu escravo alforriado.
            — E como justificar a vingança paterna, Bruxo, quando o pai dá nome a seu filho de Produto do Amor Conjugal de Marichá e Maribel?
            — Deixa eu responder, Machado! Esse é idiota completo, e deveria, como os demais abestalhados que se lhe assemelham, passar o dia lendo e corrigindo, em cartório, todos esses nomes ilegais, até não mais haver um só servo da safadeza satânica desses Sátrapas!
            — Obrigado, Emeil Antivírus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  A dança é língua internacional (Irmão Jó)   Não há dança que não sirva De inspiração sempre viva.   Vendo um casal a dançar Põe-se o poeta...