Em dia com o Machado 65 (jlo)
Amiga leitora, boa-noite.
Muitas
pessoas desconhecem a grafia de algumas palavras. Por exemplo, ignoram que as
palavras bom-dia, boa-tarde, boa-noite se escrevem com hífen. Conheço mesmo o
caso de uma pessoa que deixou de ser selecionada para o curso de Mestrado em
renomada Universidade sob a alegação, da banca avaliadora, de ter escrito,
algumas vezes, as palavras socioeconômico, sociopolítica e sociolinguística sem
hífen. Tal é a ignorância de muitos doutos professores sobre a importância de
se consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras (VOLP/ABL), norma maior sobre a ortografia em nosso país,
em caso de dúvidas, haja vista a ocorrência corriqueira do registro equivocado
desses e outros vocábulos, se se dessem ao trabalho de consultar o VOLP/ABL.
E nem nos
referirmos, ainda, à ortoépia ou ortoepia, que é a pronúncia correta das
palavras. Sobre isso, falaremos outro dia.
É assim
que, de alienação em alienação, vemos, por aí, pessoas doutas dizerem e, o que
é pior, escreverem de forma errada determinadas palavras as quais, muitas
vezes, fazem mesmo parte do vocabulário cotidiano de sua formação profissional.
Quer
exemplo? Não faz muito tempo, um juiz de direito disse a sua secretária, no
final de um julgamento em que deveria emitir uma sentença condenatória ao réu:
— Dona Solange, peça aos senhores promotor e “defensor
da ativa” para “oporem” suas “rúbricas” no processo, cuja sentença condenatória
do réu foi “retificada” por mim. Depois que eles “porem” suas “rúbricas” eu
assino a sentença.
Ao que a
secretária, mais douta no idioma português que seu Exmº chefe, corrigiu-o
serenamente:
— Pois não,
excelência, o promotor e defensor dativo
aporão suas rubricas, após tomarem conhecimento da ratificação de sua sentença.
Depois que
eles puserem suas rubricas, V. Eª assinará a sentença.
E outra
coisa, excelência, “defensor da ativa” é aquele militar que não quer ir para a
reserva, porque não sabe o que fazer com os conhecimentos sobre disciplina
militar e outras normas de conduta ética abolidas pelos petistas corruptos de
sua grei, que o puseram num posto indigno de sua “grandeza”, sem precisar
prestar concurso para tal. O que temos é defensor
dativo.
E olha que
ela só disse isso por ser amante dele, caso contrário, teria de ficar calada,
para não perder o emprego.
E a falta
de vocabulário do nosso povo? É um tal de coisa pra cá, coisa pra lá, que dá um
baita dó em nós. A começar pelo gênero da própria palavra dó, que muitos pensam
que é feminina. Outro dia, ouvi de um torcedor de um time o seguinte:
— Estou com
uma dó tão grande desse time...
Desconhecimento
puro do gênero masculino de dó.
Fiquei com um dó dele, que só vendo.
O mesmo
ocorre com palavras terminada em –ema: telefonema, fonema, morfema, teorema.
Muita gente pensa que, por terminar em “a” essas palavras são femininas. Então,
não é raro ouvirmos:
— Espera um
pouco, Machado, vou dar uma telefonema, e volto já.
— Não
precisa voltar, sinto vontade de dizer-lhe, dou-lhe um telefonema de despedida e... fui!
E a tal
palavra “coisa”?
A coisa
mais chata que existe é a gente pensar numa coisa, lembrar da coisa, mas não
saber de que coisa se lembrou. Então, na hora de falar, é uma coisa...
Verbos
muito comuns na linguagem nordestina interiorana são, por exemplo: caçar, no sentido de
procurar algo; embrulhar, significando cobrir com cobertor; bolinar, com o
sentido de apalpar alguém visando fim libidinoso; e palavras como: menina,
aplicadas a homens; porreta, com o significado de muito boa; cabra, que tanto
pode ser um bom como um mau homem; peixeira, ou seja, facão; e “fio”, “fia”, em
vez de filho, filha; raparigueiro é o mesmo que mulherengo.
Quer mais
um exemplo? Veja o que disse uma paraibana para seu marido:
— Sivirino,
outro dia, à noitinha, fui caçar uma coisa pra comer, dispois de embrulhar o
Juninho na cama e... menina! Que susto que tomei quando vi, da janela, entrar
pela porteira do vizinho um cabra safado que queria bolinar com a fia dele. Mas
seu Antônio pegou uma peixeira des tamaño e botou o cabra pra correr. Deve de está
correno inté agora.
Resposta do
marido:
— É por que
seu Antônio é um cabra porreta, se não ele metia o porrete na filha, que ficou
dando bola para aquele raparigueiro.
E vamos
ficando por aqui, antes que algum linguista caia de pau em cima de nós,
alegando que estamos discriminando os falantes da “última flor do Lácio”, que
Camões já defendia, e que Olavo Bilac afirmava ser “inculta e bela”.
— Pois eu
lhe afirmo, meu amigo: não há língua mais democrática que a brasileira, como propôs meu amigo Mário
de Andrade em sua Gramatiquinha. Quer um exemplo? Au revoir!
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