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domingo, 1 de setembro de 2013

Em dia com o Machado 65 (jlo)

            Amiga leitora, boa-noite.

            Muitas pessoas desconhecem a grafia de algumas palavras. Por exemplo, ignoram que as palavras bom-dia, boa-tarde, boa-noite se escrevem com hífen. Conheço mesmo o caso de uma pessoa que deixou de ser selecionada para o curso de Mestrado em renomada Universidade sob a alegação, da banca avaliadora, de ter escrito, algumas vezes, as palavras socioeconômico, sociopolítica e sociolinguística sem hífen. Tal é a ignorância de muitos doutos professores sobre a importância de se consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (VOLP/ABL), norma maior sobre a ortografia em nosso país, em caso de dúvidas, haja vista a ocorrência corriqueira do registro equivocado desses e outros vocábulos, se se dessem ao trabalho de consultar o VOLP/ABL.
            E nem nos referirmos, ainda, à ortoépia ou ortoepia, que é a pronúncia correta das palavras. Sobre isso, falaremos outro dia.
            É assim que, de alienação em alienação, vemos, por aí, pessoas doutas dizerem e, o que é pior, escreverem de forma errada determinadas palavras as quais, muitas vezes, fazem mesmo parte do vocabulário cotidiano de sua formação profissional.
            Quer exemplo? Não faz muito tempo, um juiz de direito disse a sua secretária, no final de um julgamento em que deveria emitir uma sentença condenatória ao réu:
             — Dona Solange, peça aos senhores promotor e “defensor da ativa” para “oporem” suas “rúbricas” no processo, cuja sentença condenatória do réu foi “retificada” por mim. Depois que eles “porem” suas “rúbricas” eu assino a sentença.
            Ao que a secretária, mais douta no idioma português que seu Exmº chefe, corrigiu-o serenamente:
            — Pois não, excelência, o promotor e defensor dativo aporão suas rubricas, após tomarem conhecimento da ratificação de sua sentença.
            Depois que eles puserem suas rubricas, V. Eª assinará a sentença.
            E outra coisa, excelência, “defensor da ativa” é aquele militar que não quer ir para a reserva, porque não sabe o que fazer com os conhecimentos sobre disciplina militar e outras normas de conduta ética abolidas pelos petistas corruptos de sua grei, que o puseram num posto indigno de sua “grandeza”, sem precisar prestar concurso para tal. O que temos é defensor dativo.
            E olha que ela só disse isso por ser amante dele, caso contrário, teria de ficar calada, para não perder o emprego.
            E a falta de vocabulário do nosso povo? É um tal de coisa pra cá, coisa pra lá, que dá um baita dó em nós. A começar pelo gênero da própria palavra dó, que muitos pensam que é feminina. Outro dia, ouvi de um torcedor de um time o seguinte:
            — Estou com uma dó tão grande desse time...
            Desconhecimento puro do gênero masculino de . Fiquei com um dó dele, que só vendo.
            O mesmo ocorre com palavras terminada em –ema: telefonema, fonema, morfema, teorema. Muita gente pensa que, por terminar em “a” essas palavras são femininas. Então, não é raro ouvirmos:
            — Espera um pouco, Machado, vou dar uma telefonema, e volto já.
            — Não precisa voltar, sinto vontade de dizer-lhe, dou-lhe um telefonema de despedida e... fui!
            E a tal palavra “coisa”?
            A coisa mais chata que existe é a gente pensar numa coisa, lembrar da coisa, mas não saber de que coisa se lembrou. Então, na hora de falar, é uma coisa...
            Verbos muito comuns na linguagem nordestina interiorana são, por exemplo: caçar, no sentido de procurar algo; embrulhar, significando cobrir com cobertor; bolinar, com o sentido de apalpar alguém visando fim libidinoso; e palavras como: menina, aplicadas a homens; porreta, com o significado de muito boa; cabra, que tanto pode ser um bom como um mau homem; peixeira, ou seja, facão; e “fio”, “fia”, em vez de filho, filha; raparigueiro é o mesmo que mulherengo.
            Quer mais um exemplo? Veja o que disse uma paraibana para seu marido:
            — Sivirino, outro dia, à noitinha, fui caçar uma coisa pra comer, dispois de embrulhar o Juninho na cama e... menina! Que susto que tomei quando vi, da janela, entrar pela porteira do vizinho um cabra safado que queria bolinar com a fia dele. Mas seu Antônio pegou uma peixeira des tamaño e botou o cabra pra correr. Deve de está correno inté agora.
            Resposta do marido:
            — É por que seu Antônio é um cabra porreta, se não ele metia o porrete na filha, que ficou dando bola para aquele raparigueiro.
            E vamos ficando por aqui, antes que algum linguista caia de pau em cima de nós, alegando que estamos discriminando os falantes da “última flor do Lácio”, que Camões já defendia, e que Olavo Bilac afirmava ser “inculta e bela”.

            — Pois eu lhe afirmo, meu amigo: não há língua mais democrática que a brasileira, como propôs meu amigo Mário de Andrade em sua Gramatiquinha. Quer um exemplo? Au revoir!

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