Em dia com o Machado 91 (jlo)
Amigo leitor, começo parafraseando Fernando Pessoa, que tomou
para si o espírito da frase “Navegar é preciso, viver não é preciso” do
italiano Petrarca, que, por sua vez a parafraseou de um general romano chamado
Pompeu, o qual, para encorajar os marinheiros medrosos, dizia-lhes: Navegare necesse, vivere non est necesse.
Pois bem, navegar é uma viagem que exige precisão no
percurso, o que, desde os tempos antigos se alcançava com o uso dos
astrolábios, depois, das bússolas e, atualmente, por meio dos GPS.
Quanto à navegação via internet, world wide web, abreviada para www, essa viagem nem sempre é precisa... Muitas vezes, não é preciso.
E viver, é preciso? Não, pois, na vida, temos altos e
baixos, não há precisão. Viver exige coragem, determinação, escolhas e
tentativas nem sempre as mais certas.
Agora, mudando um pouco a paráfrase, já não sei se lhe
digo que comunicar é preciso ou que é preciso comunicar, mas o certo é que
ocorre cada coisa na comunicação que até os defuntos pulam de seus túmulos.
Quer um exemplo? Leia isto:
Avisos paroquiais
Atenção, amados irmãos, neste mês de fevereiro, haverá uma missa
cantada por todos os defuntos de nossa paróquia.
Outro aviso:
Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que
desejem que sejam lembrados.
Leiam também estes:
Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda beneficente. É uma boa
ocasião para se livrarem de coisas inúteis. Tragam seus maridos.
O preço do curso sobre oração e jejum não inclui as refeições.
Para todos os que têm filhos e não sabem, temos na paróquia uma área
especial para crianças.
Frases
jornalísticas
Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de câncer
a cada ano.
Ela contraiu a doença na época em que estava viva.
A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço.
O presidente é um jovem sexagenário de 80 anos.
Redações
escolares
Maria viu seu irmão sentado em sua cadeira
De
quem é a cadeira, dele, ou dela?
As mulheres não compram só os maridos.
Para quem não gosta de
pontuar fica o aviso: a falta de uma vírgula pode mudar completamente o sentido
de uma frase. Se houvesse sido colocada a vírgula após “compram”, no contexto
da frase, apenas os maridos seriam os compradores de algo.
José ficou no banco, quando viu Joana com os binóculos.
Na frase acima, não se
sabe em que banco José ficou. No banco da praça? No banco comercial? No banco
da escola? Ó mistério!
E Joana, foi vista por
José quando estava com binóculos ou José estava com binóculos quando viu Joana?
Ó dúvida cruel. É quando o aluno que escreveu tal “pérola literária” ameaça até
de morte a pobre professora com a justificativa de que, para ele, a frase só
tem um sentido. Para ele...
Outro dia, um amigo de meu
secretário falou-lhe o seguinte:
—
Estou com vontade novamente de ir a Paris.
Ao que Joteli perguntou-lhe:
—
Quando você foi lá a última vez?
Resposta do amigo:
—
Nunca fui a Paris.
—
Mas você não disse que queria ir lá novamente?
—
Não, o que eu disse foi que “estava com vontade novamente” de ir lá; mas como
não tenho dinheiro, fico só na vontade.
Como podemos observar, amigo leitor,
a ambiguidade tanto pode servir para fazer humor, produzir textos literários ou
comerciais propositadamente com duplo sentido, como também expressa ignorância
crassa de quem fala ou escreve.
Para Pessoa, porém, o que é preciso
é criar; enquanto, para nós, para criar é preciso aprender, e, para aprender, é
preciso, é necessário viver, pois “Viver é aprender!”
Au
revoir.
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