EM DIA COM O MACHADO 397:
NÃO BASTA SER HONESTO...
NÃO BASTA SER HONESTO...
Jorge Leite de Oliveira (de Brasília)
Jojorgeleite@gmail.com
Outro dia, li interessante texto de um
articulista filosófico que me fez refletir na diferença entre honestidade e
integridade. A primeira, segundo ele, está relacionada àquilo que fazemos
quando somos observados ou seremos avaliados. A segunda é a que se manifesta
intimamente, quanto nossa opção decorre da observância criteriosa daquilo que
consideramos ético. Isso passa pela coerência entre pensar e fazer, mesmo
quando estamos sós.
A honestidade decorre de nossa escolha
pelo que socialmente é considerado correto, mas com vistas a não sermos
criticados ou penalizados por terceiros. Está ligada à personalidade,
proveniente do latim “persona”: máscara. A integridade manifesta-se na coerência
de nossos atos éticos, mesmo na ausência do julgamento alheio, sem qualquer
expectativa de recompensa pelo que fazemos. É um acordo entre nós e Deus,
atributo do espírito, cuja Lei está “escrita em nossa consciência”[1].
Para o Cristão, é a fidelidade à proposta do Cristo: “Sede perfeitos, como é Perfeito vosso Pai que está nos céus”
(Mateus, 5:48. Destaquei). Relaciona-se à nossa individualidade.
Para ser mais claro, nessa distinção,
vou citar um caso contado por advogado amigo meu, com destacada atuação
jurídica e política. Conversamos durante duas ou três horas, e uma das coisas
que ele me narrou serve como motivo de reflexão ao presidente de uma gigantesca
empresa pública chamada Santa Cruz, no Espírito Santo, cujo lema é: “Santa Cruz,
acima de tudo; Espírito Santo, acima de todos”.
Antes de assumir a direção da empresa,
seu atual presidente, ora tratado por MB, era quase desconhecido agente público
federal. Trabalhava num modesto gabinete de subsidiária de Santa Cruz e pouco
produzia, pois não gozava de prestígio entre seus pares. Pessoa influente na empresa
citada por meu preclaro amigo, que tratarei por H, propôs-lhe conversar com MB,
para que este assumisse a direção da instituição, pois MB tinha pleno
conhecimento de tudo o que nela ocorria, embora sem poderes para atuar
legalmente contra seus dirigentes corruptos.
Em síntese, moveu-se o mundo, para que MB saísse do anonimato e fosse eleito
presidente da empresa, cuja produção de minério bruto está sendo dilapidada ao
longo de décadas. Sua eleição foi um sucesso, pois milhares de famílias da
empresa renovaram sua esperança em tempos melhores, com justiça social e
próspera economia, além de expurgo dos maus dirigentes subalternos e
funcionários corruptos.
Depois disso, meu amigo H., cuja esposa
e filho são também da área jurídica, sabendo que dezenas de toneladas de NIÓBIO,
minério MAIS VALIOSO DO QUE O OURO, há anos, são vendidas pela empresa a outros
países ao preço de UM DÓLAR a TONELADA, foi ao gabinete do agora chefe da Santa
Cruz para denunciar-lhe a monstruosa fraude e propor-lhe medida saneadora em
benefício de sua empresa, cuja imensa reserva mineral vem sendo lesada por
empresários inescrupulosos, que se tornaram bilionários, com base em lacuna de
lei que permite classificar toda a sua rica produção simplesmente como minério.
Sua ideia, brilhante como sempre, era
classificar e industrializar todos os minérios, antes que saíssem da empresa, o
que multiplicaria enormemente seu preço, criaria milhares de empregos e evitaria
a quebra futura da Santa Cruz. Para isso, medidas administrativas rígidas
precisariam ser tomadas, além de proposta de correção das falhas da lei, com
sua substituição por lei mais rigorosa.
Qual não foi a surpresa de H., quando MB
lhe respondeu, quase gritando: “Você não é meu amigo. Quer que me matem?”
Humilhado, H. e sua família
afastaram-se do pusilânime defensor da grande empresa, para nunca mais ali
voltar. Agora, daqui a três anos, está pensando em apoiar alguém mais preparado
para lidar com os corruptos da Santa Cruz.
Conclusão, para administrar grandes
empresas, não basta a máscara da honestidade, é preciso integridade moral, que
também requer inteligência, coragem e coerência, além de fé verdadeira.
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