13.5.6 Cárita
Lyon, 1861
Há diversas maneiras de fazer a caridade, que muitos de vocês
confundem com a esmola. Existe, entretanto, grande diferença entre elas. A
esmola, meus amigos, algumas vezes é útil, porque alivia os pobres; mas é quase
sempre humilhante, tanto para o que a dá, quanto para o que a recebe. A
caridade, pelo contrário, liga o benfeitor ao beneficiado e, além disso, se
disfarça de muitas maneiras! Pode-se ser caridoso mesmo entre parentes e
amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando-se mutuamente as
fraquezas, cuidando de não ferir o amor-próprio de ninguém. Para vocês,
espíritas, na sua maneira de agir em relação aos que não pensam como vocês,
induzindo os menos esclarecidos a crer, sem os chocar, sem afrontar suas
convicções, mas levando-os amigavelmente às nossas reuniões, onde eles poderão ouvir-nos, e onde saberemos encontrar a
brecha que nos permitirá penetrar nos seus corações. Eis uma das formas da
caridade.
Escutem agora o que é a caridade para com os pobres, esses
deserdados do mundo, mas recompensados por Deus, se sabem aceitar as suas
misérias sem murmurar, o que depende de vocês. Vou-me fazer compreender por um
exemplo.
Vejo muitas vezes na semana uma reunião de damas de todas
as idades. Para nós, como vocês sabem, são todas irmãs. Que fazem elas? Trabalham
rápido, rápido. Os dedos são ágeis. Vejam também como os rostos estão radiantes
e como seus corações batem em uníssono! Mas qual o seu objetivo? É que elas
veem aproximar-se o inverno, que será rude para as famílias pobres. As formigas
não puderam acumular durante o verão os grãos necessários à provisão, e a maior
parte de seus recursos está utilizada. As pobres mães se inquietam e choram,
pensando nos filhinhos que, neste inverno, sofrerão frio e fome! Mas paciência,
pobres mulheres!
Deus inspirou a outras,
mais afortunadas que vocês. Elas se reuniram e confeccionam roupinhas. Depois,
num destes dias, quando a neve tiver coberto a terra, e vocês murmurarem,
dizendo: "Deus não é justo!", pois é esta a expressão comum
dos seus períodos de sofrimento, verão surgir um dos filhos dessas boas
trabalhadoras que se constituíram em operárias dos pobres.
Sim, é para vocês que elas trabalham, e seus
lamentos se transformarão em bênçãos, porque, no coração dos infelizes, o amor
segue de bem perto o ódio.
Como todas essas trabalhadoras necessitam de
encorajamento, vejo as comunicações dos bons Espíritos lhe chegarem de todas as
partes. Os homens que fazem parte dessa sociedade oferecem também seu concurso,
fazendo uma dessas leituras que tanto agradam. E nós, para recompensar o zelo
de todos e de cada um em particular, prometemos a essas obreiras laboriosas boa
clientela, que lhes pagará à vista, em bênçãos, única moeda que circula no céu,
assegurando-lhes, ainda, sem medo de errar, que essa moeda não lhes faltará.
Tradução livre da terceira edição francesa pelo professor doutor Jorge Leite de Oliveira
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