13.5.9 A piedade
Miguel - Bordeaux,
1862
A piedade é a virtude que mais os aproxima dos anjos. É a irmã da caridade que os conduz a Deus. Ah, deixem seus corações enternecer-se diante das misérias e dos sofrimentos de seus semelhantes. Suas lágrimas são um bálsamo que vocês derramam nas feridas deles. E quando, tocados por uma doce simpatia, vocês conseguem restituir-lhes a esperança e a resignação, que encanto experimentam vocês! É verdade que esse encanto tem uma certa amargura, porque surge ao lado do infortúnio; mas se não apresenta o forte sabor dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por estes; pelo contrário, tem uma penetrante doçura que deleita a alma.
A piedade, quando bem sentida, é amor; o amor é devotamento; o devotamento é o esquecimento de si mesmo; e esse esquecimento, essa abnegação em favor dos infelizes é a virtude por excelência, que o Divino Messias praticou em toda a sua vida e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime.
Quando essa doutrina for restabelecida na sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a Terra feliz, fazendo reinar enfim a concórdia, a paz e o amor.
O sentimento mais apropriado a fazê-los progredir, domando seu egoísmo e seu orgulho, aquele que dispõe sua alma à humildade à beneficência e ao amor ao próximo, é a piedade! Essa piedade que os comove até as fibras mais íntimas, diante do sofrimento de seus irmãos, que leva vocês a estender-lhes as mãos caridosas e arranca de vocês lágrimas de simpatia.
Nunca sufoquem, portanto, em seus corações, essa emoção celeste, nem façam como esses egoístas endurecidos que fogem dos aflitos, para que a visão de suas misérias não lhes perturbe por um instante a alegre existência. Receiem ficar indiferentes, quando puderem ser úteis! A tranquilidade conseguida ao preço de uma indiferença culposa é a tranquilidade do Mar Morto, que oculta na profundeza de suas águas a lama fétida e a corrupção.
Quão longe está a piedade, entretanto, de causar a perturbação e o tédio de que se receia o egoísta! Não há dúvida de que a alma experimenta, ao contato da desgraça alheia, angustiando-se, um estremecimento natural e profundo, que faz vibrar todo o seu ser e o afeta penosamente. Mas a compensação é grande quando vocês conseguem devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se comove ao aperto da mão amiga, e cujo olhar úmido, por vezes, de emoção e reconhecimento, volta-se com doçura para vocês, antes de se elevar ao Céu, agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um amparo.
A piedade é o melancólico, mas celeste precursor da caridade, primeira das virtudes que a tem por irmã, e cujos benefícios ela prepara e enobrece.
Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira
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