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terça-feira, 7 de outubro de 2025

 ESTUDO D'O LIVRO DOS ESPÍRITOS



206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de qualquer família, seguir-se-á que o culto dos antepassados seja ridículo?
“De modo nenhum. Todo homem deve considerar-se ditoso por pertencer a uma família em que encarnaram Espíritos elevados. Se bem os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por isso menos afeição consagram aos que lhes estão ligados pelos elos da família, dado que muitas vezes eles são atraídos para tal ou qual família pela simpatia, ou pelos laços que anteriormente se estabeleceram. Mas ficai certos de que os vossos antepassados não se honram com o culto que lhes tributais por orgulho. Em vós não se refletem os méritos de que eles gozem, senão na medida dos esforços que empregais por seguir os bons exemplos que vos deram. Somente nestas condições lhes é grata e até mesmo útil a
lembrança que deles guardais.”
 
Comentário
O respeito e a consideração que temos com nossos antepassados é sempre muito grata a estes. O que não devemos é nos sentirmos orgulhosos por descendermos desse ou daquele personagem de destaque no passado, sem que isso nos incentive a seguir-lhes os bons exemplos.
 
207. Frequentemente, os pais transmitem aos filhos a parecença física. Transmitirão também alguma parecença moral?
“Não, que diferentes são as almas ou Espíritos de uns e outros. O corpo deriva do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças apenas há consanguinidade.”
 
a) Donde se originam as parecenças morais que costuma haver entre pais e filhos?
“É que uns e outros são Espíritos simpáticos, que reciprocamente se atraíram pela analogia dos pendores.”
 
Comentário
Quando há simpatia entre pais e filhos, pode-se dizer que ambos fazem parte da mesma família espiritual amiga. Isso pode ocorrer até mesmo com quem não faz parte da família consanguínea, pois somos imortais e a reencarnação nos dá a entender que podemos ter feito parte da família dessas pessoas. Mas a semelhança física nada tem a ver com a da moral, haja vista que cada Espírito é um ser à parte.
 
208. Nenhuma influência exercem os Espíritos dos pais sobre o filho depois do nascimento deste?
“Ao contrário: bem grande influência exercem. Conforme já dissemos, os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho.”
 
Comentário
A educação é um dever que os pais têm para com os filhos. Se não for boa, parte da culpa pelo mau procedimento filial caberá a seus pais pela desorientação dessa família.
 
209. Por que de pais bons e virtuosos nascem filhos de natureza perversa? Por outra: por que as boas qualidades dos pais nem sempre atraem, por simpatia, um bom Espírito para lhes animar o filho?
“Não é raro que um mau Espírito peça lhe sejam dados bons pais, na esperança de que seus conselhos o encaminhem por melhor senda e muitas vezes Deus lhe concede o que deseja.”
 
Comentário
O Espírito dos filhos independem das qualidades de seus pais. Mas quando um filho tem más tendências, os bons exemplos paternos servem para auxiliá-los a se corrigirem, caso o desejem.
 
210. Pelos seus pensamentos e preces podem os pais atrair para o corpo, em formação, do filho um bom Espírito, de preferência a um inferior?
“Não, mas podem melhorar o Espírito do filho que lhes nasceu e está confiado. Esse o dever deles. Os maus filhos são uma provação para os pais.”
 
Comentário
 
Quando os pais oram, podem fazer refletir o Espírito que lhes foi confiado, para que sintam a importância de se tornarem melhores. Se tal Espírito não se deixa comover pelas preces e continua perverso é porque seu nascimento será provacional para seus pais.
 
211. Donde deriva a semelhança de caráter que muitas vezes existe entre dois irmãos, mormente se gêmeos?
“São Espíritos simpáticos que se aproximam por analogia de sentimentos e se sentem felizes por estar juntos.”
 
Comentário
Quando dois irmãos se amam é porque são Espíritos que já nascem com afinidade e se sentem felizes por estar juntos na mesma família.
 
212. Há dois Espíritos, ou, por outra, duas almas, nas crianças cujos corpos nascem ligados, tendo comuns alguns órgãos?
“Sim, mas a semelhança entre elas é tal que faz vos pareçam, em muitos casos, uma só.”
 
Comentário
Desde que haja dois cérebros distintos em cabeças diferentes, ali estão dois Espíritos, mesmo que compartilhando os mesmos membros. A semelhança de manifestação, nesse caso, é apenas fisiológica.
 
213. Pois que nos gêmeos os Espíritos encarnam por simpatia, donde provém a aversão que às vezes se nota entre eles?
“Não é de regra que sejam simpáticos os Espíritos dos gêmeos. Acontece também que Espíritos maus entendam de lutar juntos no palco da vida.”
 
Comentário
Há Espíritos que pedem para nascer junto com outros, como é o caso de gêmeos, para tentarem se reconciliar de passados culposos. Por isso, nem todos os gêmeos são simpáticos uns para com os outros.

 


domingo, 28 de setembro de 2025

 ESTUDO D'O LIVRO DOS ESPÍRITOS



204. Uma vez que temos tido muitas existências, a nossa parentela vai além da que a existência atual nos criou?

“Não pode ser de outra maneira. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações que remontam às vossas existências anteriores. Daí, muitas vezes, a simpatia que vem a existir entre vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos.”

 

Comentário

Nossa parentela é o mundo. Todos, como filhos de Deus, somos irmãos, já disse Jesus. Como nossas relações remontam a várias existências físicas, podemos já ter tido como parentes um vizinho ou colega de escola ou trabalho, além de outras pessoas.

 

205. A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura destruidora dos laços de família, com o fazê-los anteriores à existência atual.

“Ela os distende; não os destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade.”

 

a) Ela, no entanto, diminui a importância que alguns dão à genealogia, visto que qualquer pode ter tido por pai um Espírito que haja pertencido a outra raça, ou que haja vivido em condição muito diversa.

“É exato; mas essa importância assenta no orgulho. Os títulos, a categoria social, a riqueza, eis o que esses tais veneram nos seus antepassados. Um, que coraria de contar, honrado sapateiro, orgulhar-se-ia de descender de um gentil-homem devasso. Digam, porém, o que disserem, ou façam o que fizerem, não obstarão a que as coisas sejam como são, que não foi consultando-lhes a vaidade que Deus formulou as Leis da Natureza.”

 

Comentário

Os laços de família se fortificam com a reencarnação, haja vista que, do mundo espiritual, os familiares que desencarnam antes continuam acompanhando os que ainda estão no corpo físico e, muitas vezes, preparando um reencontro futuro, não somente no plano espiritual como no retorno a outro corpo. Os verdadeiros títulos para o Espírito não são os que ele obtém na existência na Terra e sim os que o tornam melhor como Espírito.
Daí, pessoas que ocupam posições humildes entre nós podem estar bem acima, no plano espiritual, dos doutores que se encontram entre nós.


sexta-feira, 26 de setembro de 2025

 ESTUDO D'O LIVRO DOS ESPÍRITOS




194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?
“Não, visto que não pode degenerar.”
a) A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?
“Sim, se se arrependeu. Isso constitui então uma recompensa.”
 
Comentários
 
O homem não degenera. Se é bom, ou permanece nessa condição ou melhora-se cada vez mais. Entretanto, se é mau pode permancer estacionado, caso não se esforce em melhorar.
 
A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Em suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, não como Espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode mais tarde animar o mais humilde obreiro e vice-versa, por isso que, entre os homens, as categorias estão, frequentemente, na razão inversa da elevação
das qualidades morais. Herodes era rei e Jesus, carpinteiro.
 
195. A possibilidade de se melhorarem noutra existência não será de molde a fazer que certas pessoas perseverem no mau caminho, dominadas pela ideia de que poderão corrigir-se mais tarde?
“Aquele que assim pensa em nada crê e a ideia de um castigo eterno não o refrearia mais do que qualquer outra, porque sua razão a repele, e semelhante ideia induz à incredulidade a respeito de tudo. Se unicamente meios racionais se tivessem empregado para guiar os homens, não haveria tantos céticos. De fato, um Espírito imperfeito poderá, durante a vida corporal, pensar como dizes; mas, liberto que se veja da matéria, pensará de outro modo, pois logo verificará que fez cálculo errado e, então, sentimento oposto a esse trará ele para a sua nova existência. É assim que se efetua o progresso e essa a razão por que, na Terra, os homens são desigualmente adiantados. Uns já dispõem de experiência que a outros falta, mas que adquirirão pouco a pouco. Deles depende o acelerar-se-lhes o progresso ou retardar-se indefinidamente.”
 
Comentários
 
Pelas consequências sofridas com o mal, todos os Espíritos, cedo ou tarde, arrependem-se do rumo equivocado tomado e passa a esforçar-se em ser melhor.
 
O homem, que ocupa uma posição má, deseja trocá-la o mais depressa possível. Aquele, que se acha persuadido de que as tribulações da vida terrena são consequência de suas imperfeições, procurará garantir para si uma nova existência menos penosa e esta ideia o desviará mais depressa da senda do mal do que a do fogo eterno, em que não acredita.
 
196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de crisol ou de depurador, por onde têm que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição?
“Sim, é exatamente isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem; somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas, atingem a finalidade para que tendem.”
a) É o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou o Espírito que influi sobre o corpo?
“Teu Espírito é tudo; teu corpo é simples veste que apodrece: eis tudo.”
 
Comentários
O aperfeiçoamento do Espírito ocorre na condição de encarnado, embora no mundo espiritual ele também se melhore, pelas múltiplas tarefas que ali desempenha. Mas é no corpo físico que ele vai por em prática seus conhecimentos adquiridos no mundo espiritual.
 
O suco da vide nos oferece um símile material dos diferentes graus da depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das quais se despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique em que a alma tem que entrar para se purificar. Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
 
197. Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade?
“Algumas vezes o é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.”
a) Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?
“Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”
 
Comentário
Somente pelo corpo, o Espírito herda as características de seus pais. Se morre em idade muito pequena, isso pode ser prova para a criança ou para seus pais, mas não significa que ela seja menos adiantada que seus pais.
 
198. Não tendo podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence a alguma das categorias superiores?
“Se não fez o mal, igualmente não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer. Se for um Espírito puro, não o é pelo fato de ter animado apenas uma criança, mas porque já progredira até à pureza.”
 
Comentário
O Espírito é recompensado pelo bem que fez, se não o praticou na encarnação de pouco tempo de vida isso não o coloca em situação de privilégio ante a Divindade.
 
199. Por que tão frequentemente a vida se interrompe na infância?
“A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais.”
a) Que sucede ao Espírito de uma criança que morre pequenina?
“Recomeça outra existência.”
 
Comentários
Quando o Espírito interrompe voluntariamente ou não sua existência, pode renascer por pouco tempo noutro corpo. Também pode acontecer de essa morte da criança seja prova ou expiação para os pais por diversos motivos: aborto, por exemplo.
 
Se uma única existência tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero humano, da que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à Justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é real para todos. O futuro a todos toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só de si mesmos se podem queixar. Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus atos, como tem deles a responsabilidade.
Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se veem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão? A lei civil as absolve de seus crimes,
porque diz que elas obraram sem discernimento. Tem razão a lei, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito dessa falta de progresso, as consequências, não dos atos que praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela Justiça de Deus.
 
200. Têm sexos os Espíritos?
“Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.”
 
Como lemos nas obras complementares às de Allan Kardec, nas regiões inferiores, os Espíritos ainda mantêm as ilusões do sexo. Ali, aquele que foi homem se mantém com a estrutura perispiritual de homem; e quem foi mulher também continua com sua natureza feminina. Apenas os Espíritos superiores não mais necessitam das ilusões sexuais. Esses, ainda que se manifestem com a aparência masculina ou feminina, não mais necessitam do sexo para externar seu amor.
 
201. Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?
“Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”
 
Comentário
Essa mudança não ocorre bruscamente. Somente após o Espírito houver adquirido todas as experiências num sexo acontece a mudança para outro, até que ele se purifique. Nesse caso, o Espírito já não tem sexo, ora manifestando característica de um, ora de outro sexo.
 
202. Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?
“Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”
 
Comentários
 
Superadas as provas que o Espírito passe num sexo, ele pode renascer no sexo oposto, a fim de que evolua em conhecimento e amor.
 
Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que sabem os homens.
 
203. Transmitem os pais aos filhos uma parcela de suas almas, ou se limitam a lhes dar a vida animal a que, mais tarde, outra alma vem adicionar a vida moral?
“Dão-lhes apenas a vida animal, pois que a alma é indivisível. Um pai obtuso pode ter filhos inteligentes e vice-versa.”
 
Comentário
O Espírito é único. Não há duas pessoas, como não há dois Espíritos iguais. A inteligência de cada um está de acordo com o progresso que realizou. Por esse motivo, o Espírito de um filho pode ser mais adiantado do que seus pais.


terça-feira, 16 de setembro de 2025

Estudo d'O Livro dos Espíritos


 

186. Haverá mundos em que o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o perispírito?

“Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos puros.”

a) Parece resultar daí que, entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de Espírito puro, não há linha divisória perfeitamente demarcada; não?

“Semelhante demarcação não existe. A diferença entre um e outro estado se vai apagando pouco a pouco e acaba por ser imperceptível, tal qual se dá com a noite às primeiras claridades do alvorecer.”

 

Comentário

Os Espíritos puros já não necessitam reencarnar. Seus corpos definitivos são os perispirituais, que não são observáveis por nossos sentidos, bem como os próprios Espíritos puros. À medida que o Espírito se aperfeiçoa, seu próprio perispírito vai tornando-se mais e mais etéreo, até se fundir, por assim dizer, com o próprio Espírito, como ocorre com os Espíritos puros.

 

187. A substância do perispírito é a mesma em todos os mundos?

“Não; é mais ou menos etérea. Passando de um mundo a outro, o Espírito se reveste da matéria própria desse outro, operando-se, porém, essa mudança com a rapidez do relâmpago.”

 

Comentário

Essa mudança de perispírito, como podemos deduzir da informação acima, ocorre instantaneamente, quando o Espírito passa de um mundo a outro.

 

 

188. Os Espíritos puros habitam mundos especiais, ou se acham no espaço universal, sem estarem mais ligados a um mundo do que a outros?

“Habitam certos mundos, mas não lhes ficam presos, como os homens à Terra; podem, melhor do que os outros, estar em toda parte.”

 

Comentário

Embora não se achem presos a um determinado mundo, os Espíritos puros habitam mundos celestes, como é descrita a escala dos mundos n’O Evangelho Segundo o Espiritismo.

 

 

189. Desde o início de sua formação, goza o Espírito da plenitude de suas faculdades?

“Não, pois que para o Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.”

 

Comentário

Tal como nós, que passamos da fase embrionária ao feto e deste ao bebê, que também se torna criança, depois jovem e adulto, os Espíritos evoluem do instinto à inteligência, que somente aos poucos se desenvolve.

 

 

190. Qual o estado da alma na sua primeira encarnação?

“O da infância na vida corporal. A inteligência então apenas desabrocha: a alma se ensaia para a vida.”

 

Comentário

É o que já foi informado antes. Em sua primeira encarnação, a alma ainda vive pelos instintos, mas gradualmente a inteligência se desenvolve.

 

 

191. As dos nossos selvagens são almas no estado de infância?

“De infância relativa, pois já são almas desenvolvidas, visto que já nutrem paixões.”

a) Então, as paixões são um sinal de desenvolvimento?

“De desenvolvimento, sim; de perfeição, porém, não. São sinal de atividade e de consciência do eu, porquanto, na alma primitiva, a inteligência e a vida se acham no estado de germe.”

 

Comentários

As paixões são próprias das almas que já possuem certo desenvolvimento, mas a inteligência, aí ainda que já consciente de si, não possui completo desenvolvimento.

 

A vida do Espírito, em seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa gradualmente do estado de embrião

ao de infância, para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que para o Espírito não há declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; que a sua vida, que teve começo, não terá fim; que imenso tempo lhe é necessário, do nosso ponto de vista, para passar da infância espírita ao completo desenvolvimento; e que o seu progresso se realiza, não num único mundo, mas vivendo ele em mundos diversos. A vida do Espírito, pois, se compõe de uma série de existências corpóreas, cada uma das quais representa para ele uma ocasião de progredir, do mesmo modo que cada existência corporal se compõe de uma série de dias, em cada um dos quais o homem obtém um acréscimo de experiência e de instrução. Mas, assim como, na vida do homem, há dias que nenhum fruto produzem, na do Espírito, há existências corporais de que ele nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar.

 

192. Pode alguém, por um proceder impecável na vida atual, transpor todos os graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se Espírito puro, sem passar por outros graus intermédios?

“Não, pois o que o homem julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. Poderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. Dá-se com o Espírito o que se verifica com a criança que, por mais precoce que seja, tem de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. Demais, ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala. Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida atual, tanto menos longas e penosas lhe serão as provas que se seguirem.”

a) Pode ao menos o homem, na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura menos prenhe de amarguras?

“Sem dúvida. Pode reduzir a extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidoso permanece sempre no mesmo ponto.”

 

Comentário

Conforme os Espíritos têm-nos dito, as encarnações são inumeráveis, pois a meta da perfeição exige que evoluamos não somente no aspecto moral quanto no intelectual. Entretanto, quanto melhor direção dermos à nossa vida na prática do bem, melhor nos sentimos espiritualmente. Uma coisa é certa a frase citada por Kardec n’O Evangelho segundo o Espiritismo: “Ajuda-te que o Céu te ajudará é a expressão da realidade do que acontece em benefício de quem se empenha na verdadeira sabedoria, que alia o conhecimento à prática das boas obras.

 

 

193. Pode um homem, nas suas novas existências, descer mais baixo do que esteja na atual?

“Com relação à posição social, sim; como Espírito, não.”

 

Comentário

Quanto o homem utiliza mal seu livre-arbítrio, pode descer, noutra encarnação, senão na atual, de uma posição de destaque social à mais modesta, mas seu estado espiritual permanece o mesmo. Também em missão, Espíritos de alta elevação podem reencarnar em posições modestas, para darem exemplos de renúncia e humildade, aliados ao amor ao próximo em sua mais ampla definição.

 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

 

Estudo d'O Livro dos Espíritos





184. Tem o Espírito a faculdade de escolher o mundo em que passe a habitar?

“Nem sempre. Pode pedir que lhe seja permitido ir para este ou aquele e pode obtê-lo, se o merecer, porquanto a acessibilidade dos mundos, para os Espíritos, depende do grau da elevação destes.”

a) Se o Espírito nada pedir, que é o que determina o mundo em que ele reencarnará?

“O grau da sua elevação.”

 

Comentário

Em geral, todo o planejamento reencarnatório ocorre no mundo espiritual e o Espírito retorna ao convívio daquela família que ficou na Terra em novas condições. Se foi um mau filho, agora poderá assumir a função de pai ou mãe de quem prejudicou para se reconciliar com estes. Se foi mau pai ou mãe agora terá que se reconciliar igualmente com aquele(s) a quem fez mal. Ir para outro mundo é situação em que o Espírito pode necessitar expiar faltas graves ou para lá ir em missão, após ter progredio noutro mundo inferior àquele para onde vai.

 

 

185. O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada mundo?

“Não; os mundos também estão sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado inferior e a própria Terra sofrerá idêntica transformação. Tornar-se-á um paraíso, quando os homens se houverem tornado bons.”

 

Comentários

Assim como os Espíritos, os mundos evoluem. Inicialmente primitivos, como os seres humanos “simples e ignorantes”, com o passar dos milênios sua população evoluir e contribui para a evolução do mundo em que habita.

 

É assim que as raças, que hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia, substituídas por seres cada vez mais perfeitos, pois que essas novas raças transformadas sucederão às atuais, como estas sucederam a outras ainda mais grosseiras.


sábado, 6 de setembro de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos



174. Tornar a viver na Terra constitui uma necessidade?

“Não; mas, se não progredistes, podereis ir para outro mundo que não valha mais do que a Terra e que talvez até seja pior do que ela.”

 Comentário

Os Espíritos nos informam que se não nos esforçarmos para evoluir em amor e conhecimento, ficaremos estacionados na mesma posição espiritual, pois não há retrocesso no adiantemento do Espírito. Entretanto, pode ocorrer de Espíritos preguiçosos ou insistentes no mal serem degredados para mundos inferiores ao em que eles estejam encarnados, como vem ocorrendo com o nosso planeta.

175. Haverá alguma vantagem em voltar-se a habitar a Terra?

“Nenhuma vantagem particular, a menos que seja em missão, caso em que se progride aí como em qualquer outro planeta.”

a) Não se seria mais feliz permanecendo na condição de Espírito?

“Não, não; estacionar-se-ia e o que se quer é caminhar para Deus.”

 Comentário

Quando um Espírito alcança evolução espiritual que o coloca muito acima daquela em que estão os Espíritos encarnados na Terra, não há mais necessidade de que ele reencarne aqui, salvo em missão, o que ocorre com diversos Espíritos que continuam atuando em nosso planeta por amor a inumeráveis pessoas. Mas até que atinja a pureza, todos terão que reencarnar, ainda que em mundos muito mais felizes do que a Terra, pois é na matéria que o Espírito mais contribui com a obra de Deus.

 

176. Depois de haverem encarnado noutros mundos, podem os Espíritos encarnar neste, sem que jamais aí tenham estado?

“Sim, do mesmo modo que vós em outros. Todos os mundos são solidários: o que não se faz num faz-se noutro.”

a) Assim, homens há que estão na Terra pela primeira vez?

“Muitos, e em graus diversos de adiantamento.”

b) Pode-se reconhecer, por um indício qualquer, que um Espírito está pela primeira vez na Terra?

“Nenhuma utilidade teria isso.”

Comentário

Os mundos são solidários, dizem-nos os Espíritos que colaboram com Jesus no adiantamento da Terra. Daí, é possível que alguns de nós já tenhamos encarnado e reencarnado em outros mundos. Como nosso foco deve ser no que fazer para nosso adiantamento em amor e sabedoria, não há nenhum interesse em saber se já existimos noutros mundos nas inumeráveis reencarnações que já pudemos ter.

177. Para chegar à perfeição e à suprema felicidade, destino final de todos os homens, tem o Espírito que passar pela fieira de todos os mundos existentes no Universo?

“Não, porquanto muitos são os mundos correspondentes a cada grau da respectiva escala e o Espírito, saindo de um deles, nenhuma coisa nova aprenderia nos outros do mesmo grau.”

a) Como se explica então a pluralidade de suas existências em um mesmo globo?

“De cada vez poderá ocupar posição diferente das anteriores e nessas diversas posições se lhe deparam outras tantas ocasiões de adquirir experiência.”

Comentário

A resposta dos Espíritos, como sempre, é lógica. Não há necessidade que habitemos todos os mundos do Universo, haja vista o nível evolutivo semelhante entre diversos mundos, como vemos na informação sobre a escala dos mundos: primitivos, de expiação e provas, felizes e celestes ou divinos, conforme consta n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 3, item 4.

 

178. Podem os Espíritos encarnar em um mundo relativamente inferior a outro onde já viveram?

“Sim, quando em missão, com o objetivo de auxiliarem o progresso, caso em que aceitam alegres as tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem.”

a) Mas não pode dar-se também por expiação? Não pode Deus degredar para mundos inferiores Espíritos rebeldes?

“Os Espíritos podem conservar-se estacionários, mas não retrogradam. Em caso de estacionamento, a punição deles consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio conveniente à sua natureza, as existências mal-empregadas.”

b) Quais os que têm de recomeçar a mesma existência?

“Os que faliram em suas missões ou em suas provas.”

 Comentário

Os Espíritos não retrogradam em sua condição evolutiva, mas podem permanecer estacionados no mal, utilizando de modo errado seu livre-arbítrio. É quando Deus, por intermédio dos Espíritos elevados, bane tais Espíritos malévolos para mundos inferiores, onde muito terão de expiar, mas também poderão aproveitar sua nova situação para auxiliar o progresso dos seres que habitam tais mundos.

 

179. Os seres que habitam cada mundo hão todos alcançado o mesmo nível de perfeição?

“Não; dá-se em cada um o que ocorre na Terra: uns Espíritos são mais adiantados do que outros.”

Comentário

Não sendo todos os Espíritos criados ao mesmo tempo e também havendo aqueles que melhor aproveitaram seu tempo na aquisição da sabedoria, pela prática do amor e do conhecimento, o grau de perfeição é diferente, sendo, portanto, uns “mais adiantados do que outros”, como é informado acima.

 180. Passando deste planeta para outro, conserva o Espírito a inteligência que aqui tinha?

“Sem dúvida; a inteligência não se perde. Pode, porém, acontecer que ele não disponha dos mesmos meios para manifestá-la, dependendo isto da sua superioridade e das condições do corpo que tomar.” (Veja-se: “Influência do organismo”, cap. VII, Parte 2a.)

Comentário

Os conhecimentos adquiridos por cada Espírito jamais se perdem, mas pode acontecer que, renascendo em corpos com limitações, o Espírito fique, por algum tempo, sem condições de manifestar seus conhecimentos.

 181. Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?

“É fora de dúvida que têm corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria. Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso o que assinala a diferença entre os mundos que temos de percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso Pai, sendo, conseguintemente, de muitos graus essas moradas. Alguns o sabem e desse fato têm consciência na Terra; com outros, no entanto, o mesmo não se dá.”

 Comentário

Todos os Espíritos têm corpos, mas quanto mais grosseiro é o estado do mundo em que se esteja encarnado, mais densos são esses corpos. Em mundos superiores, nosos sentidos limitados e instrumentos materiais não permitiria enxergar os corpos eterizados das entidades elevadas que ali encarnam.

182. É-nos possível conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?

“Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais. Quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria.”

 Comentário

Ainda hoje, a ciência da Terra não possui condição de identificar o estado físico e moral dos mundos mais evoluídos do que o nosso. Um exemplo disso é Júpiter cujo estado físico é tão etéreo, bem como dos Espíritos que ali encarnam que, para nós, é como se ali não existisse condições de vida. O que ocorre é que o homem na Terra ainda tem por parâmetro de avaliação as leis que aqui vigem. Nos mundos elevados, a matéria é, por assim dizer, quintessenciada, fugindo à nosso observação.

 À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita. Torna-se-lhe menos densa a matéria, deixa de rastejar penosamente pela superfície do solo, menos grosseiras se lhe fazem as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se nutrirem. O Espírito se acha mais livre e tem, das coisas longínquas, percepções que desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só pelo pensamento entrevemos.

Da purificação do Espírito decorre o aperfeiçoamento moral, para os seres que eles constituem, quando encarnados. As paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da fraternidade. Assim é que, nos mundos superiores ao nosso, se desconhecem as guerras, carecendo de objeto os ódios e as discórdias, porque ninguém pensa em causar dano ao seu semelhante. A intuição que seus habitantes têm do futuro, a segurança que uma consciência isenta de remorsos lhes dá, fazem que a morte nenhuma apreensão lhes cause. Encaram-na de frente, sem temor, como simples transformação.

A duração da vida, nos diferentes mundos, parece guardar proporção com o grau de superioridade física e moral de cada um, o que é perfeitamente racional. Quanto menos material o corpo, menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam. Quanto mais puro o Espírito, menos paixões a miná-lo. É essa ainda uma graça da Providência, que desse modo abrevia os sofrimentos.

 

183. Indo de um mundo para outro, o Espírito passa por nova infância?

“Em toda parte a infância é uma transição necessária, mas não é, em toda parte, tão obtusa como no vosso mundo.”

 Comentário

Em todos os mundos, quando encarnado, o Espírito passa por um período de infância, enquanto seu corpo não se desenvolve. Mas em mundos elevados a infância do corpo do Espírito é bastante curta. Um Espírito encarnado ali, tem na infância a inteligência de uma pessoa adulta aqui na Terra. Quando, excepcionalmente, tais Espíritos encarnam em nosso mundo, em missão, já nos primeiros anos de sua existência demonstram uma inteligência muito acima da média. Segundo a revista Exame, o QI médio de uma pessoa é 100, mas o mais novo membro da Mensa é um menino cujo QI é 160. Seu nome é Joseph Harris-Birtill. Com pouco mais de dois anos, esse menino já lia livros inteiros. Em todos os tempos, renasceram na Terra gênios que, desde os primeiros anos, já tinham QI muito acima da média, como Mozart, Beethoven, Einstein etc. São Espíritos que renascem entre nós em missão.


quarta-feira, 27 de agosto de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos



161. Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda não se enfraqueceram em consequência da idade ou das moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultaneamente?

“Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.”

Comentário

Nas mortes violentas, o socorro espiritual é imediato. Desse modo, a separação entre a alma e o corpo é, em geral, muito rápida. O que não ocorre no caso dos suicidas, tendo em vista que sua morte violenta foi causada pelo próprio autocida. 

162. Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a consciência de si mesmo?

“Não raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício.”

Comentários

Enquanto houver atividade cerebral no cabeça separada do corpo, o que pode levar alguns minutos, o Espírito que não perdeu os sentidos antes da decapitação pode conservar sua consciência, o que não dura muito tempo.

 

Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais, mais tenazes os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo. 

163. A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?

“Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação.”

Comentário

À exceção de Espíritos de alta elevação, todos os demais passam por um período de confusão mental ou perturbação, que pode durar pouco tempo ou, no caso dos suicidas, longo tempo, que eles imaginam durar para sempre, mas que a bondade Divina, no tempo certo os socorrerá.

 164. A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para todos os Espíritos?

“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”

Comentário

É o que antecipamos, em questão anterior. O Espírito puro recobra imediatamente a consciência. O ser ainda preso às impressões da matéria fica mais tempo em perturbação.

 165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?

“Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação; mas a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.”

Comentários

O conhecimento do Espiritismo não é salvo conduto para ninguém. É preciso que nos esforcemos na prática da caridade e da sabedoria para que nos libertemos rapidamente dos liames corporais e alcemos voo às regiões elevadas do mundo espiritual.

 

Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos.

Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, desde quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.

Aquela perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto. Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpá-lo. Esse fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não creem dormir. É que têm o sono por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam livremente e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos revelam essa particularidade, se bem que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente. Todavia, sempre mais generalizada se apresenta essa particularidade entre os que, mesmo doentes, não pensavam em morrer. Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterramento como se fora o de um estranho, falando desse ato como de coisa que lhe não diz respeito, até o momento em que compreende a verdade.

A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem, que se conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranquilo despertar. Para aquele cuja consciência ainda não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à proporção que ele da sua situação se compenetra.

Nos casos de morte coletiva, tem sido observado que todos os que perecem

ao mesmo tempo nem sempre tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu lado, ou só se preocupa com os que lhe interessam.

 166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?

“Sofrendo a prova de uma nova existência.”

a) Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?

“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

b) A alma passa então por muitas existências corporais?

“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”

c) Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?

“Evidentemente.”

Comentário

É a Doutrina da reencarnação que Allan Kardec, mesmo proveniente de família católica, rapidamente assimilou, por nela ver a única que explica as desigualdades sociais, físicas e intelectuais entre cada ser humano.

167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?

“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

 Comentário

A reencarnação tem por fim tornar o Espírito perfeito. Como somos imortais, cabe a cada um de nós esforçar-se em evoluir mais rapidamente, a fim de alcançar essa perfeição.

168. É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?

“A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.”

 Comentário

Como foi dito anteriormente, a finalidade da reencarnação é a purificação do Espírito, quando não mais terá necessidade de reencarnar.

169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos?

“Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.”

Comentário

Para atingir a pureza, que requer amor e sabedoria, são necessárias inumeráveis encarnações.

170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?

“Espírito bem-aventurado; puro Espírito.”

Comentário

A pureza do Espírito é, portanto a meta de cada um de nós.

171. Em que se funda o dogma da reencarnação?

 “Na Justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”

Comentários

 Deus é justo. Não poderia, assim, tratar igualmente seres que se diferem em conhecimento e bondade. Entretanto, como bom Pai, faculta a cada um dos seus filhos a possibilidade de alcançar a felicidade dos justos.

 

Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua Justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Não obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio em que foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.

A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da Justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.

O homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na Justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a ideia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utilizará em nova existência.

  172. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?

“Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”

Comentário

Assim como existe a pluralidade das existências na Terra, também há inumerável quantidade de mundos no Universo. Desse modo, podemos ter vivido em outro mundo, que pode ter sido pior do que este ou melhor, dependendo do grau de evolução de cada Espírito. Os que vieram de mundo melhor, em geral reencarnam na Terra em missão, mas pode ocorrer que também isso ocorra como expiação.

173. A cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou pode ter muitas no mesmo globo?

“Pode viver muitas vezes no mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um mundo superior.”

a) Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra?

“Certamente.”

b) Podemos voltar a este, depois de termos vivido em outros mundos?

“Sem dúvida. É possível que já tenhais vivido algures e na Terra.”

 Comentário

Conforme dissemos acima, podemos encarnar em diversos mundos, mas em geral o Espírito vive muitas encarnações num mesmo mundo.

  ESTUDO D'O LIVRO DOS ESPÍRITOS 206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de qualquer família, seguir-se-á...