Estudo d'O Livro dos Espíritos
123
— Por que Deus permitiu que os Espíritos pudessem seguir o caminho do mal?
—
Como ousais pedir a Deus contas de seus atos? Pensais poder penetrar os seus
desígnios? No entanto, podeis dizer isto:
a sabedoria de Deus está na liberdade de escolher que Ele deixa a cada
um, pois cada um tem o mérito de suas
obras.
Comentário
É
no livre-arbítrio que nos concedeu que Deus demonstra sua suprema sabedoria. Se
criasse todos com discernimento suficiente, desde o seu princípio como
espírito, para só tomar o caminho do bem, onde estaria o mérito de todos os
seus filhos. O livre-arbítrio, porém, desenvolve-se paulatinamente. No início
de nossa evolução, somos como crianças a quem a tutela dos pais ou responsáveis
nunca deixa de atuar, mostrando-lhes que suas atitudes têm consequências boas
ou más. Com o tempo, adquirimos maturidade suficiente para fazermos nossas
escolhas, mas sabendo de antemão que consequências elas terão cedo ou tarde.
124
— Uma vez que há Espíritos que, desde o
princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá,
talvez, gradações entre esses dois extremos?
—
Sim, certamente, e constituem a maioria.
Comentário
A
maioria dos espíritos ainda é a dos que ora optam pelo bem, ora pelo mal. Com o
discernimento sobre as consequências dessa ou daquela escolha é que o espírito
pode evoluir mais ou menos rapidamente. Quanto mais apegado à matéria e seus aparentes
benefícios, sempre ligados à temporalidade da vida física na Terra, mais tempo
levará o espírito para evoluir espiritualmente.
125
— Os Espíritos que seguiram o caminho do mal poderão chegar ao mesmo grau de
superioridade que os outros?
—
Sim; mas as eternidades lhes serão mais longas.
Comentários
Todos
chegaremos à perfeição, mas quem mais trabalha no bem do próximo, mais faz em
benefício próprio. Por isso recomenda-nos o Espírito da Verdade, no capítulo 6 d’O
evangelho segundo o espiritismo para nos amar, mas também nos instruir.
Por
estas palavras — as eternidades — deve-se entender a ideia que os Espíritos
inferiores fazem da perpetuidade de seus sofrimentos, cujo termo não lhes é
dado ver, ideia que se renova em todas as provas nas quais sucumbem.
Observação: Até aqui, a tradução é de Evandro Noleto Bezerra. A partir daqui,
a tradução é de Guillon Ribeiro. Ambas as obras são excelentes, mas por questão de acesso mais fácil ao arquivo do saudoso presidente da FEB, optamos por utilizar a obra do Evandro nos vídeos e a do Guillon nestes textos comentados. Conforme dissemos, no início deste trabalho, os comentários sem destaque são nossos; os destacados em itálico são de Allan Kardec.
126.
Chegados ao grau supremo da perfeição, os Espíritos que andaram pelo caminho do
mal têm, aos olhos de Deus, menos mérito do que os outros?
—
Deus olha de igual maneira para os que se transviaram e para os outros e a
todos ama com o mesmo coração. Aqueles são chamados maus, porque sucumbiram.
Antes, não eram mais que simples Espíritos.
Comentário
Isso
faz-nos lembrar uma feliz imagem sobre as opções que temos de chegar a um lugar
distante, a uma estância feliz. Uns optam por ir a pé, outros de bicicleta, outros
de carro, trem, navio ou de avião. Os que vão pelo meio de transporte mais
rápido, mais cedo chegarão a seu destino. Se procuramos sempre a via do bem,
mais rapidamente chegaremos à perfeição, mas se tropeçamos na caminhada a pé,
ou ainda que usando meio de transporte mais lento que o avião, mais tarde
chegaremos ao destino final. A imagem pode não traduzir tudo o que se refere à
escolha dos espíritos para chegar à perfeição, mas permite-nos ter uma ideia,
ainda que apagada, do que podemos escolher para chegar ao termo feliz de nossa
viagem. Todos chegarão lá, mas os que fizerem as melhores escolhas chegarão
mais cedo e mais rapidamente desfrutarão dos benefícios da estância feliz.
127.
Os Espíritos são criados iguais quanto às faculdades intelectuais?
—
São criados iguais, porém, não sabendo donde vêm, preciso é que o
livre-arbítrio siga seu curso. Eles progridem mais ou menos rapidamente em
inteligência como em moralidade.
Comentários
Partimos
do mesmo princípio. Uns tendo sido criados antes, mas o que vai proporcionar a
evolução é o bom uso do livre-arbítrio bem utilizado por cada espírito. A evolução
tem que ocorrer tanto no sentido intelectual quanto no moral.
Os
Espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem nem por isso são
Espíritos perfeitos. Não têm, é certo, maus pendores, mas precisam adquirir a
experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançar a perfeição.
Podemos compará-los a crianças que, seja qual for a bondade de seus instintos naturais,
necessitam de se desenvolver e esclarecer e que não passam, sem transição, da
infância à madureza. Simplesmente, assim como há homens que são bons e outros
que são maus desde a infância, também há Espíritos que são bons ou maus desde a
origem, com a diferença capital de que a criança tem
instintos já inteiramente formados, enquanto que o Espírito, ao formar-se, não
é nem bom, nem mau; tem todas as tendências e toma uma ou outra direção, por
efeito do seu livre-arbítrio.
128.
Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria
especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?
—
Não; são os Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e
reúnem todas as perfeições.
Comentários
Os
chamados anjos são espíritos puros, que foram criados, como todos os demais,
simples e ignorantes, mas que percorreram mais ou menos rapidamente, ao longo
dos milênios as escalas evolutivas, até se tornarem perfeitos em relação a nós.
A
palavra anjo desperta geralmente a idéia de perfeição moral. Entretanto, ela se
aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora
da Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das
trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui
na sua melhor acepção.
129.
Os anjos hão percorrido todos os graus da escala?
—
Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem
murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo
para chegar à perfeição.
Comentário
É
o que dissemos antes. Quanto mais opção pelo bem e esforço em aprender, mais rápida
é a ascensão do espírito.
Essa resposta nos traz à memória o simbolismo da
escada de Jacó, que em sonho viu uma escada que se conectava ao céu e nela os
anjos subiam e desciam (Gênesis, 28:10- 17). É também essa escada o
símbolo de comunicação entre o Céu e a Terra. Ela nos dá também a ideia da
condição dos espíritos puros que são os representantes de Deus entre nós.