Em
dia com o Machado 51 (jlo)
A vida é meio estranha. Não estranhemos, pois, as
coincidências da novela Amor à vida. Quantas vezes, a fortuna ou a desgraça
passam rente a nós sem que o percebamos. Há poucos dias, foi anunciada a morte,
pela imprensa, de uma digna dona de casa, sequestrada dentro da garagem de um
grande shopping em Brasília. Preso, o
marginal disse que outra senhora escapou por pouco de sua sanha assassina, pois
o vigilante do shopping passara de
moto próximo a ele, que, então, resolvera aguardar a próxima incauta.
É esquisito como as pessoas que, aparentemente, menos
condições físicas têm para desempenhar determinadas profissões, em grande
número de casos, são exatamente as que ali estão ou, ao menos, desejariam estar
ou nunca ter dali saído.
Exemplo 1. Quando fui professor de um centro
universitário, na Baviera, é claro, observei que diversos mestres tinham ou
passaram a ter problemas auditivos. Logo eles, que tanto precisam de uma
acuidade auricular elevada... E eram excelentes e dedicados profissionais. Não
sei se poderia me enquadrar nessa categoria, mas também sofria com a audição
oscilante, após 22 anos de magistério, até que entreguei o boné e passei a
escrever abobrinhas para leitores pacientes como você.
Exemplo 2. Conheci um palestrante de temas filosóficos
brilhante. Sua palavra arrebatava multidões, pela facilidade de expressão e
eloquência. Após quarenta anos de atuação, em pleno voo para os EUA, onde era
aguardado por grande número de admiradores, sofreu um AVC e agora, ao
conversar, mal consegue concatenar as ideias em uma única frase curta. Sua dor
moral deve ser duríssima de suportar, mas ele, denodada e humildemente,
aproveita as palestras de outras grandes almas que o convidam, atualmente, para
autografar as dezenas de obras de alto nível que publicou antes do AVC. Força, Raul Teixeira! És um vencedor!
Exemplo 3. Parece que os acontecimentos e nossas vidas se
entrelaçam com pessoas as mais longínquas, as quais passam a se relacionar
conosco de uma forma aparentemente programada, cujo conteúdo desconhecemos, mas
reside no nosso inconsciente. Distante 2.000 km da cidade onde nasci e de onde
me afastara há mais de trinta anos, constituí família e, certa ocasião, fomos
hospedados em outro estado, diverso do estado natal e daquele em que residia
outros 2.000 quilômetros. Pois bem, em dado momento, minha esposa, em conversa
com a mulher do tio do agora nosso genro, descobriu que essa senhora fora
colega de trabalho de um dos meus irmãos, sete anos atrás, e até foto com ele
ela nos mostrou. Isso ocorreu em Pernambuco, onde meu irmão residira por dois
anos com a família, mas agora retornara para o Rio de Janeiro, nossa cidade de
origem. Jamais o ouvíramos falar dessa sua ex-colega e fora a primeira vez que lá estivemos. Quantos milhões de habitantes tem Recife?
Assim se multiplicam os exemplos e as “coincidências” em
nossas vidas. Não estranhemos, pois, que a mãe conviva anos próximo à filha
roubada sem a reconhecer. Um dia, a verdade virá à tona e então nada do que
estava oculto deixará de ser descoberto. Procure nos seus registros da memória,
leitora amiga, e você descobrirá “coincidências” tão fantásticas que aceitará
de boa vontade aquelas narradas nas novelas, filmes, contos e romances. Por vezes, a realidade suplanta a ficção.
Também, se for boa observadora, perceberá que a lei de
causa e efeito e a influência espiritual em nossas vidas é muito maior do que
se possa imaginar. Não foi à toa que o personagem shakespeariano disse aquela
célebre frase, tão conhecida que não preciso repetir: “Há muito mais coisas
entre o céu e a terra do que possa imaginar vossa vá filosofia”.
É por isso que devemos ser honestos com nossa
consciência. Nela reside o dedo de Deus a nos abençoar ou nos responsabilizar
por cada ato nosso, mínimo que seja. Ele nos diz, Alma para alma:
— Sê bom, pois o bem é Minha
Lei. Se tentares fraudá-la e não pagares teu erro ainda nesta encarnação,
terás de retornar em condições penosas para reparar teus equívocos. Desse
modo, a eternidade te será penosa, enquanto não viveres em harmonia com Meus
propósitos em relação a ti: a felicidade, que só é verdadeira quando se sabe
ser. E, para tal, é preciso conhecer, conviver e fazer.
Ou seja, é preciso servir para vir a ser.
Bom fim de semana!