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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013


Em dia com o Machado 33 (jlo)

            Há pouco tempo (2012), desencarnou um articulista extraordinário: MillôR Fernandes. Uma característica dele, meu caro leitor, era escrever seu nome de uma forma diferente a cada vez que publicava um texto em um periódico. Jornalista, escritor, cartunista, dramaturgo e humorista de um humor inteligente como o de poucos, MillÔr descobriu, aos 17 anos que seu nome de batismo “Milton” fora escrito de forma equivocada, mais parecendo “MilLôr”. Gostou tanto da ideia que a adotou para o resto da vida.
            MiLlôr, que desencarnou aos 87 anos, ficou órfão de pai com um ano de idade e, aos dez perdeu a mãe. Tornou-se ateu, desde então, dizia...
            Iniciou sua carreira jornalística aos 14 anos e, aos 19, juntou-se com um grupo de jovens jornalistas articuladores da revista “O Cruzeiro” que, em poucos anos, elevou a tiragem de 11.000 a 750.000 exemplares semanais.
            Suas frases trocadilhescas, de cunho satírico são altamente criativas. Vamos a algumas:
“O futuro chegou com tanta rapidez que começo a desconfiar que agora ele já está atrás de mim”.
“O verdadeiro milagre brasileiro: uma democracia completamente isenta de democratas.”
“À minha volta todos, sempre reclamando de carga de imposto, do governo impostor, de bitributação. Não entendo. Ainda reclamam. E se o governo resolver cobrar mesmo a TRIbutação?”.
 “Um recém-nascido é a prova de que a natureza não desistiu do ser humano. Já os pró-aborto. Já os pró-eutanásia.” (sic)
            Sobre a questão do julgamento, vejamos o que escreveu numa de suas “fábulas”:

Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um cão. O cão não muito grande, mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão. "Quanto tempo!". O cão aproveitou as saudações, se embarafustou casa adentro e logo o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa.

O dono da casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a coisa não era com ele. "Ora, veja você, a última vez que nos vimos foi..." "Não, foi depois, na..." "E você, casou também?" O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante. "Quem morreu definitivamente foi o tio... você se lembra dele?" "Lembro, ora, era o que mais... não?"

O cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passando) e deixou lá as marcas digitais de sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora preferiam não tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara, e se foi. Se foi.

Mas ainda ia indo, quando o dono da casa perguntou: "Não vai levar o seu cão?" "Cão? Cão? Cão? Ah, não! Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?"

Moral: Quando notamos certos defeitos nos amigos, devemos sempre ter uma conversa esclarecedora.

            Para nossa reflexão final, amigo leitor, mais duas frases fabulosas desse não menos fabuloso escritor:
          “Claro, sabemos muito bem que VOCÊ, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?”
                        Esse é o MIllôr, que nos deixou fisicamente, por uma mera circunstância de tempo dilatado, conforme seu pedido ao Criador. Foram 87 anos de pura genialidade e de uma alma generosa, cujo único objetivo era divertir e divertir-se, ainda que, por vezes, suas tiradas humorísticas tivessem alvos certeiros, em especial, na política.
            “Não. Nada que faço tem um significado especial, ou algum outro. As circunstâncias traçam os acontecimentos e eu as sigo. Claro, faço parte das circunstâncias que alguém vai seguir.”

            Entendo... Eu também já disse algo parecido no século XIX. Quando quiser, venha tomar um cafezinho aqui em casa.         
            Até breve, millôr; um grande abraço, MILLÔR!

Fonte de consulta:
Disponível em: <www2.uol.com.br/millor/frases/fraes>: Millôr online. Acesso em 21 jan. 2013.

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