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terça-feira, 29 de janeiro de 2013


Em dia com o Machado 34 (jlo)

 

            Amiga leitora, você que é mãe e educadora por excelência, cuida bem de teus filhos desde pequeno, para que, mais tarde, esse lindo pimpolho ou pimpolha não venha a ter sérios problemas de relacionamento social.

            Explico-me. Geraldino, quando tinha seis anos, foi levado pela irmã a sua primeira escola primária. Ali foi deixado aos cuidados das madres e professoras, pois o colégio era administrado por freiras.

            Logo no recreio da primeira aula, no pátio da escola, encontrou um menino um pouco maior que ele e se aproximou tentando fazer amizade. Para sua surpresa, porém, o colega ameaçou-o com as seguintes palavras: — Você não tem medo de mim? Se eu quiser, posso lhe bater...

            Nenhum adulto perto, para orientar ambas as crianças. Por certo, o ameaçador já ouvira ameaça semelhante de outra criança maior que ele e agora, como bom discípulo, “educava” Geraldino.

            Em sua casa, Geraldino fora “orientado” por seu pai: — Não quero que você brinque com moleques. E tem mais, se chegar em casa chorando por ter apanhado na rua, apanha também de mim.

            Ó tempos! Ó equívocos, em que a educação tinha por base a pancadaria intimidatória e as crianças precisavam deduzir, das palavras paternas, o que precisariam fazer para a sobrevivência num mundo em que os fracos não tinham vez. Dedução de Geraldino: todos os meninos são “moleques” e qualquer um que me der um tapa deve levar, no mínimo dois. Chegar em casa chorando por ter apanhado, jamais, pois tenho que mostrar a papai que sou o mais forte de todos os que atravancarem meu caminho.

            Resultado, Geraldino não podia ver outra criança, maior ou menor que ele, que já lhe parecia estar diante de um inimigo. Sem noção das próprias capacidades físicas, muitas vezes, batia em crianças menores que ele e enfrentava, nem sempre com sucesso, outras, maiores ou iguais. Mas, se chegasse em casa com o nariz sangrando ou com o olho roxo, dizia que levara um tombo, na rua. Melhor passar por acidentado em uma queda do que dizer a verdade e apanhar duas vezes.

            O tempo passou, Geraldino cresceu, casou-se, teve filhos e, agora, como avô de um dos filhos de seu filho, jogava bola com o neto de três anos, em um pequeno campo, ao lado de um parquinho, quando aproximou-se um pirralho de menos de três anos (mais precisamente, dois anos e oito meses, segundo a mãe) e pediu, educadamente: — Posso jogar?

            — Claro, disse o vovô, vamos combinar assim, jogam vocês dois contra mim.

            Geraldino percebeu que seu neto não gostou da ideia. Passava a bola para o neto Zezinho e este nunca a passava para Caio, o novo amiguinho. Então, o avô resolveu repassar a bola para Caio, que a chutava em direção ao gol e gritava, contente, a cada tento marcado no gol vazio. Às vezes, corria em direção contrária, mas era orientado a chutar no gol ou para Zezinho, este, porém, nunca a devolvia para o coleguinha e, sim, para o avô.

            Em dado momento, Zezinho deixou Geraldino e Caio brincando sozinhos e se afastou para trás de um pequeno arbusto, ali ficando sem querer participar da brincadeira com o novo amiguinho.

            Priscila, a mãe de Caio, aproximou-se de Zezinho e tentou, de todas as formas, convencê-lo a brincar com seu filho. Tudo inútil.

            Geraldino, por sua vez, propôs-lhe ser o juiz e jogarem os dois meninos. Para sua surpresa, Zezinho respondeu-lhe: — Então, jogam vocês dois. Eu serei o juiz.

            Vendo que Zezinho nada queria com ele, Caio afastou-se, seguido pela mãe e, com certa relutância, Zezinho foi levado de volta a casa, nas costas do avô.

            Ao chegarem, a mãe de Zezinho estranhou sua cara zangada, e Geraldino contou-lhe o ocorrido. Ouvindo isso, a ama do menino, não perdeu tempo e saiu em sua defesa: — Ele é muito bom menino. O que aconteceu foi que, outro dia, um menino maior que ele o ameaçou no parquinho dizendo que ia lhe bater. Ao ouvir isso, Zezinho respondeu-lhe: — Mas você não é meu amigo? E o menino voltou a dizer, agressivo: — Não! Eu vou é lhe dar uma surra.

            Mães e pais, acompanhem seus filhos pequeninos em seus folguedos e amizades, para que o círculo vicioso da maldade e ignorância não lhes invadam a frágil cabecinha! Provavelmente, aquele menino estava repassando o que aprendera com outro maior que ele, e agora, Zezinho recebera o primeiro aviso de que meninos maiores não são amigos de outros, pequeninos, a quem lhes cabe intimidar.

            Não deixem, sempre, seus filhos com suas amas. Procurem mostrar-lhes que o mundo lá fora é bom, que apenas algumas crianças não estão sendo bem-educadas, entretanto, cabe-lhes como crianças, não maltratarem as outras, principalmente quando estas são menores que elas.

            O acompanhamento paterno, em especial na idade infantil dos filhos, é fundamental a que não ocorram complexos futuros e aversão ao meio social. Outros perigos podem surgir, como o de adultos inescrupulosos, que praticam a pedofilia, como a influência negativa de personalidades infantis desestruturadas pela própria desestabilização de seus lares, como o da omissão de socorro e de orientação, junto ao despreparo daqueles que não se sentem na obrigação de educar os filhos alheios. E assim por diante.

            Procurem saber de seus filhos, quando não estiverem com eles, como estão sendo tratados, por coleguinhas e adultos. E não julguem que seus filhos sejam melhores que os dos outros, mas acompanhem seus passos, proximamente ou a distância, diariamente, para que eles cresçam com a mente sadia, o corpo são e contribuam para a melhoria da sociedade, com a qual interajam sempre positivamente.

            Se desejamos um mundo melhor para nossos filhos, é preciso ser seus amigos e confidentes antes mesmo de seus primeiros passos. E orientá-los adequadamente, sem ameaça, mas com muito amor e compreensão.

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