Em dia com o Machado 34 (jlo)
Amiga leitora, você que é mãe e
educadora por excelência, cuida bem de teus filhos desde pequeno, para que,
mais tarde, esse lindo pimpolho ou pimpolha não venha a ter sérios problemas de
relacionamento social.
Explico-me. Geraldino, quando tinha
seis anos, foi levado pela irmã a sua primeira escola primária. Ali foi deixado
aos cuidados das madres e professoras, pois o colégio era administrado por
freiras.
Logo no recreio da primeira aula, no
pátio da escola, encontrou um menino um pouco maior que ele e se aproximou
tentando fazer amizade. Para sua surpresa, porém, o colega ameaçou-o com as
seguintes palavras: — Você não tem medo de mim? Se eu quiser, posso lhe
bater...
Nenhum adulto perto, para orientar
ambas as crianças. Por certo, o ameaçador já ouvira ameaça semelhante de outra
criança maior que ele e agora, como bom discípulo, “educava” Geraldino.
Em sua casa, Geraldino fora “orientado”
por seu pai: — Não quero que você brinque com moleques. E tem mais, se chegar
em casa chorando por ter apanhado na rua, apanha também de mim.
Ó tempos! Ó equívocos, em que a
educação tinha por base a pancadaria intimidatória e as crianças precisavam
deduzir, das palavras paternas, o que precisariam fazer para a sobrevivência
num mundo em que os fracos não tinham vez. Dedução de Geraldino: todos os
meninos são “moleques” e qualquer um que me der um tapa deve levar, no mínimo
dois. Chegar em casa chorando por ter apanhado, jamais, pois tenho que mostrar
a papai que sou o mais forte de todos os que atravancarem meu caminho.
Resultado, Geraldino não podia ver
outra criança, maior ou menor que ele, que já lhe parecia estar diante de um
inimigo. Sem noção das próprias capacidades físicas, muitas vezes, batia em
crianças menores que ele e enfrentava, nem sempre com sucesso, outras, maiores
ou iguais. Mas, se chegasse em casa com o nariz sangrando ou com o olho roxo,
dizia que levara um tombo, na rua. Melhor passar por acidentado em uma queda do
que dizer a verdade e apanhar duas vezes.
O tempo passou, Geraldino cresceu,
casou-se, teve filhos e, agora, como avô de um dos filhos de seu filho, jogava
bola com o neto de três anos, em um pequeno campo, ao lado de um parquinho,
quando aproximou-se um pirralho de menos de três anos (mais precisamente, dois
anos e oito meses, segundo a mãe) e pediu, educadamente: — Posso jogar?
— Claro, disse o vovô, vamos
combinar assim, jogam vocês dois contra mim.
Geraldino percebeu que seu neto não
gostou da ideia. Passava a bola para o neto Zezinho e este nunca a passava para
Caio, o novo amiguinho. Então, o avô resolveu repassar a bola para Caio, que a
chutava em direção ao gol e gritava, contente, a cada tento marcado no gol
vazio. Às vezes, corria em direção contrária, mas era orientado a chutar no gol
ou para Zezinho, este, porém, nunca a devolvia para o coleguinha e, sim, para o
avô.
Em dado momento, Zezinho deixou
Geraldino e Caio brincando sozinhos e se afastou para trás de um pequeno
arbusto, ali ficando sem querer participar da brincadeira com o novo amiguinho.
Priscila, a mãe de Caio,
aproximou-se de Zezinho e tentou, de todas as formas, convencê-lo a brincar com
seu filho. Tudo inútil.
Geraldino, por sua vez, propôs-lhe
ser o juiz e jogarem os dois meninos. Para sua surpresa, Zezinho respondeu-lhe:
— Então, jogam vocês dois. Eu serei o juiz.
Vendo que Zezinho nada queria com
ele, Caio afastou-se, seguido pela mãe e, com certa relutância, Zezinho foi levado
de volta a casa, nas costas do avô.
Ao chegarem, a mãe de Zezinho estranhou
sua cara zangada, e Geraldino contou-lhe o ocorrido. Ouvindo isso, a ama do
menino, não perdeu tempo e saiu em sua defesa: — Ele é muito bom menino. O que
aconteceu foi que, outro dia, um menino maior que ele o ameaçou no parquinho
dizendo que ia lhe bater. Ao ouvir isso, Zezinho respondeu-lhe: — Mas você não
é meu amigo? E o menino voltou a dizer, agressivo: — Não! Eu vou é lhe dar uma
surra.
Mães e pais, acompanhem seus filhos
pequeninos em seus folguedos e amizades, para que o círculo vicioso da maldade
e ignorância não lhes invadam a frágil cabecinha! Provavelmente, aquele menino
estava repassando o que aprendera com outro maior que ele, e agora, Zezinho
recebera o primeiro aviso de que meninos maiores não são amigos de outros,
pequeninos, a quem lhes cabe intimidar.
Não deixem, sempre, seus filhos com
suas amas. Procurem mostrar-lhes que o mundo lá fora é bom, que apenas algumas
crianças não estão sendo bem-educadas, entretanto, cabe-lhes como crianças, não
maltratarem as outras, principalmente quando estas são menores que elas.
O acompanhamento paterno, em
especial na idade infantil dos filhos, é fundamental a que não ocorram
complexos futuros e aversão ao meio social. Outros perigos podem surgir, como o
de adultos inescrupulosos, que praticam a pedofilia, como a influência negativa
de personalidades infantis desestruturadas pela própria desestabilização de
seus lares, como o da omissão de socorro e de orientação, junto ao despreparo
daqueles que não se sentem na obrigação de educar os filhos alheios. E assim
por diante.
Procurem saber de seus filhos,
quando não estiverem com eles, como estão sendo tratados, por coleguinhas e
adultos. E não julguem que seus filhos sejam melhores que os dos outros, mas
acompanhem seus passos, proximamente ou a distância, diariamente, para que eles
cresçam com a mente sadia, o corpo são e contribuam para a melhoria da sociedade,
com a qual interajam sempre positivamente.
Se desejamos um mundo melhor para
nossos filhos, é preciso ser seus amigos e confidentes antes mesmo de seus
primeiros passos. E orientá-los adequadamente, sem ameaça, mas com muito amor e
compreensão.
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