Em dia com o Machado 39 (jlo)
E continua a saga da corrida no
parque
Estacionamento central (do início do parque). Ao sair
do carro, deparamo-nos com nada menos do que quatro policiais-montados em seus
cavalos fazendo a ronda do estacionamento. Então, comentei com Orozino:
— Rapaz, em
apenas 48h meu apelo foi atendido. Estarei sonhando? Me belisca. Ainda não eram
dezoito horas. Creio que 17h45. Quase dei um hurra e tornei ao meu amigo:
— Parece que nosso
crônico apelo foi lido pelo Sr. Secretário de segurança.
Não obtive outra
resposta senão esta:
— Será?
Nesse devaneio,
prossegui. O dia estava nublado e uma chuva fina começava a descer do zimbório.
Por um fenômeno meteorológico chamado resfriamento
adiabático, os cumulonimbus
começavam a precipitar-se sobre nossas cabeças. Enquanto corria, Orozino cantava,
feliz:
— Ah, dia...
Ao que completei: — ...bático!
— Como?
—Adiabático, o
fenômeno que desencadeia a chuva...
— Ora, vá para os
diabos...
— Parece que hoje
as águas vão rolar.
— Isso é o cúmulo
— Nimbus,
completei.
— Para com isso,
m. a.
— Sai pra lá com
seu calundu, “horrozino”. La vita è bella!
— Mas a chuva
molha... Olha que aguaceiro desce sobre nossas cabeças.
— Pior é o
temporal de ignorância que grassa sorrateiro em muitos selfs.
— Lá vem você com
suas tiradas filosóficas!
Alcançamos o
antigo banheiro tão elogiado em nossa crônica 35. Surpresa!
continuava fechado...
Não nos atrevemos
a tentar ir ao grande banheiro em frente, pois seria constrangedor identificarmo-nos
ao guarda que ali se postava à entrada, exigindo documento com nome, CPF e
identidade... Mas também não estávamos aperreados, graças a Deus!
Iniciamos a corrida.
Como o dia ainda estava claro, embora as nuvens sombrias, ao passarmos pela
maioria dos banheiros, até o km 3, todos os guardas estavam a postos e
respondiam-nos os cumprimentos, educadamente.
Até chegarmos ao
km 4, observei, também, que todos os postes de iluminação estavam iluminados.
Então cochichei ao Zé Orozino:
— Que beleza! Todos os postes dando luz. Ao que
ele me respondeu:
— Calma, não nos precipitemos. Vamos em frente...
Ultrapassamos o
km 4 e começamos a contar um... dois... três... quatro postes sem iluminação.
Cinco... seis...vinte postes apagados. Lembrei-lhe uma estrofe de um poema
de autoria do meu secretário, na época
em que foi militar, premiado com medalha de bronze, em concurso instituído pela
revista Brasília:
Um, dois, três, quatro... quatro, três, dois, um...
Lá vamos nós caminhando ao relento...
E de que vale o nosso pensamento,
Se numa guerra morrer é comum?
Um, dois, três, quatro... quatro, três, dois, um...
Lá vamos nós caminhando ao relento...
E de que vale o nosso pensamento,
Se numa guerra morrer é comum?
—
Mas não estamos numa guerra, respondeu-me o Zé.
—
Sei não... Se isto aqui continuar desse jeito, daqui a algum tempo não sobrará
viva alma.
—
Talvez as luzes ainda não estejam todas acesas, afinal ainda não são 18h30...
Então,
fomos em frente e contamos outros 31 postes apagados, quando já nos
aproximávamos das 19h.
—
Se somados esses 31 aos 20 anteriores, quanto dá? Perguntei ao Zé.
—
51, respondeu-me, sem pensar...
—
Taí, uma boa ideia! E ele:
—
Arrgh!
De
repente, chegamos ao km 7 e a luz esplandeceu, deslumbrando-nos. E contamos, os
dois juntos:
—
Um... dois... três... quatro... Parecia que a cena da corrida anterior iria se
repetir e todos os postes, dali até o final estariam luzindo sobre nossas
cabeças.
A
chuva apertava... De repente, a partir do km 7,5 os postes apagados começaram a
surgir do nosso lado esquerdo, permanecendo assim até o fim dos dez gloriosos
quilômetros do parque. Então, meu amigo mostrou-me, apontando para o céu:
—
Veja que lindo arco-íris! Quem sabe ele não nos anuncia que encontraremos um
pote cheio de ouro no final da corrida?
Prosseguimos
até o fim da pista, mas somente o ouro da chuva nos brindou, o que já é um
tesouro nesse clima seco de Brasília, não é mesmo, amiga leitora?
—
E vocês acham que, com essa chuva, alguém vai querer assaltá-los no parque?
—
Psiu! Fica quietinha, senão...
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