Em dia com o Machado 282 (jÓ)
—
Amigo Machado, andam dizendo por aí que a Federação Espírita Brasileira (FEB)
não representa o Espiritismo no Brasil. Que você acha disso?
—
Cada um tem o direito de expressar sua opinião como queira, meu caro Joteli.
Mas isso não significa ser o dono da verdade, cuja posse, por atribuição
divina, cabe unicamente a Jesus Cristo. Aliás, quem apoia tal opinião, por
vezes contraditória, quer um Espiritismo puramente filosófico e científico,
contrariando o caráter religioso da Doutrina Espírita. Acrescento, ainda, que,
sendo o Espiritismo uma crença baseada na razão e contrária à restrição da
liberdade de consciência, não há qualquer instituição, no Brasil e no Mundo,
que tenha autoridade para impor posicionamento radical sobre qualquer dos seus
postulados. Não existe dogma no Espiritismo.
—
Então, o programa febiano...
—
É o do Cristo e de seus enviados, sejam eles encarnados ou desencarnados, desde
que não contrariem Jesus e a Doutrina Espírita na forma revelada pelos espíritos
a Allan Kardec.
—
E a frase do espírito Emmanuel a Chico de que, se aquele estivesse em desacordo
com Jesus e com Kardec, o grande médium mineiro deveria ficar com estes?
—
Você conhece uma figura de linguagem chamada metonímia? Mais precisamente, a figura
em que o nome do autor substitui a obra?
—
Ah, sim, agora entendi. Emmanuel se referia à doutrina de Jesus e a dos
espíritos seus enviados, ao citar Kardec...
—
Isso mesmo, Joteli, embora espírito de alta elevação, como homem, Kardec não
era infalível, qual o foi Jesus, e, por isso mesmo, com toda a humildade,
afirmou, alto e bom som: A DOUTRINA É
DOS ESPÍRITOS, COUBE A MIM APENAS SUA SISTEMATIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
METODOLÓGICA, além da hermenêutica pessoal.
—
Desse modo, Bruxo amigo, só devemos crer nas respostas e comentários dos
espíritos contidos nas obras básicas do Espiritismo, certo?
—
Alto lá! Já dizia Paulo de Tarso, há dois mil anos: “Não extingais o Espírito;
não desprezeis as profecias. Discerni tudo e ficai com o que é bom. Guardai-vos
de toda espécie de mal.” (Bíblia de
Jerusalém, I Tessalonicenses,
5: 19- 22); e seu discípulo Erasto, em O
livro dos médiuns (LM), recomenda: “É preferível rejeitar dez verdades do
que aceitar uma única mentira, uma só teoria errônea” (LM, cap. XX, it. 230).
—
Ah, então, deduzo que a FEB foi criada “não para dogmatizar, mas apenas para se
fazer o fulcro de propagação da mensagem de Allan Kardec, toda ela calcada nos
postulados do Cristianismo”,[1] como afirmou, certa vez,
Luciano dos Anjos, meu amigo Bruxo?
—
Exatamente, estive lá, algumas vezes, no século XIX, e pude testemunhar esse
propósito elevado da Casa-Mater do Espiritismo no Brasil, segundo
revelação dos enviados de Jesus: Ismael, Emmanuel, Humberto de Campos etc.
—
Machado, meu bom amigo, por que a FEB não responde a seus difamadores?
—
Deixo a palavra final com o nobre Luciano dos Anjos:
[...] ela não se
envolve em questões políticas, em assuntos pessoais, em acontecimentos que possam
degenerar em escândalo ou desmoralização. Às vezes mal compreendida pelos menos
serenos e menos prudentes; não é o que lhe basta, porém, para se desviar da sua
tradicional linha de conduta e de comportamento autenticamente cristãos. Por
isso, pode haver os que, desavisados, acabem sendo motivo de vergonha e
decepção; mas esses labéus não a atingem nunca, na posição altaneira de
comedimento em que sistematicamente se coloca. (ANJOS, 1975. Op. cit, loc. cit).
[1] In: Crônicas de um
e de outro — de Kennedy ao homem artificial. Rio de Janeiro: FEB, 1975,
cap. 29).
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