Em dia com o
Machado 340 }Jó)
Que procuras?
jojorgeleite@gmail.com
—
Boa noite, amigo, já estamos em seu lar para a entrevista de hoje.
—
Boa noite, Emmanuel, boa noite, Machado. Alegro-me muito em vê-los. Passo a
palavra ao Bruxo do Cosme Velho para iniciar a nova entrevista...
—
Obrigado, Jó. Então, sem mais delonga, vamos ao que interessa. Gostaria de sua
opinião, Emmanuel, sobre esta pergunta do Cristo: “Que buscais?” (João, 1: 38)
—
Amigos, a vida tem por base imensurável quantidade de experiências. Em cada
nova existência individual, aprende-se mais um pouco. Nada está estagnado.
Observa o vegetal, aparentemente estático, quando o vento não lhe agita os
galhos e as folhas. Sobre o solo que Jó pisa, imensa quantidade de seres
microscópicos se agitam. Aliás, mesmo na ponta de seu dedo, ou no ar que nosso
irmão respira, a vida se manifesta invisível
ao seu olhar... Todos os seres buscam a bênção e a misericórdia do Pai que está
em toda parte. Onde o nada? Em lugar algum...
—
Entretanto, Emmanuel, entre uma e outra leitura filosófica que fiz, após
reencarnar no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839,
uma dúvida permanecia em minha mente sempre em busca do miúdo para dele fazer
um grande e inefável acontecimento literário. Se Deus é bom, onisciente e
onipotente, como defendia, um século antes do meu, Rousseau, eu não sabia refutar Voltaire, que
negava um destes atributos à Divindade, com base apenas na fé: segundo este,
Deus não podia ser bom, onisciente e onipotente ao mesmo tempo, porque ante uma
tragédia como a que ocorrera em Portugal, quando morreram, em terremoto, mais
de cinquenta mil pessoas, uma dessas qualidades ficaria prejudicada.
Para
Voltaire, se Deus fosse bom e onisciente, não seria onipotente, pois, se tudo
pudesse, poderia evitar a catástrofe portuguesa, mas deixou que ela ocorresse.
Se fosse onisciente e onipotente, não seria bom, pois tudo sabendo e tudo
podendo, deixou que 50 mil dos seus filhos morressem sem qualquer chance de
sobrevivência. E se fosse bom e onipotente, não seria onisciente, pois não
saberia que, somente ali, em Portugal, tantas vidas, inocentes e pecadoras,
seriam sacrificadas juntas. Onde estava o Pai, quando esse e outros desastres
ecológicos ocorreram, desde que Ele criou o mundo?
—
Machado, esse pensamento só seria racional sem a chave da vida trazida pelo
Espiritismo. Essa chave está na reencarnação. Sem ela, as desigualdades sociais
do mundo ficariam sem explicação racional. Quando Jesus se refere às
bem-aventuranças para os aflitos, estava referindo-se às compensações na vida
futura. Deus não age por capricho,
permitindo a alguns uma vida sem preocupações e a outros a fatalidade das
tragédias. Todas as vicissitudes, todos os sofrimentos inevitáveis por que o
Espírito imortal passa na existência física têm uma causa justa.
Coube
aos Espíritos, sob a direção de Jesus, explicar-nos, racionalmente, aquilo que
a crença na unicidade da existência não tinha condições de explicar. Somente
remontando às causas pregressas das provas e
expiações humanas, o que nos é concedido pela certeza da reencarnação, podemos
evitar um raciocínio deturpado, que nega qualquer dos atributos Divinos e nos
deixa entregues à revolta e a todo tipo de consequências baseadas em nossos
atos contrários à lei do amor, única lei que nos libertará do mal e dos seus
resultados nefastos.
—
E foi por saber disso que Jesus perguntou aos que o seguiam o que eles
buscavam, nobre Emmanuel?
—
Sim, Jó, a lei de ação e reação explica o porquê de uns serem atendidos,
imediatamente, no que pedem, e outros não...
—
Mas então como explicar a seguinte afirmação de Jesus, narrada por Marcos,
11:24: “Por isso vos digo: tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que já o
recebestes, e assim será pra vós”?
—
Isso está na Bíblia de Jerusalém, que é mais clara, nesse ponto, que as demais
bíblias traduzidas. Ora, se já recebemos algo que não temos, é porque,
certamente, o que agora não temos, já obtivemos em outra ocasião, que pode ter
sido existência anterior. Por outro lado, se seremos atendidos no que agora
pedimos, certamente precisaremos ter crédito para que, no momento oportuno, a
Bondade Divina nos conceda o bem do qual formos credores.
—
Agora entendi o significado do provérbio: “Ajuda-te que o Céu te ajudará”.
—
É isso, amigo Jó. A singela pergunta do Senhor não se restringe apenas aos que
o seguiam. Aplica-se igualmente a todos os seus novos seguidores, estejam ou
não nos templos do mundo. Em especial ao servidor espírita, cabem diversos
compromissos ante a Boa-Nova renascente na Terra.
—
Quais são esses compromissos, bondoso Emmanuel?
—
Sintetizo-os na repetição destas frases finais:
A cada criatura que
desperta em mais altos níveis da fé raciocinada, soa a interpelação do Senhor
como sendo convite às obras em que se afirme a caridade real. Assim, escuta no
íntimo, em cada lance das próprias atividades, a austera palavra do Condutor
Divino, convocando-te à coerência entre o ideal e o esforço, entre a promessa e
a realização.
Analisa o que fazes.
Observa o que dizes. Medita em torno de tuas aspirações mais ocultas. Que
resposta forneces à indagação do Senhor?
Quem segue o Cristo,
vive-lhe o apostolado.
Serve, coopera e
caminha avante, sem temor ou vacilação, lembrando-te de que o Verbo da Verdade
incide sobre nós, a cada dia, perguntando incessantemente: Que buscais?
Quando
voltei a cabeça, já não vi mais meus amigos. Agora busco suas palavras e
exemplos de vida.
Referências
BÍBLIA de
Jerusalém. 3. imp. São Paulo: Paulus, 2004.
XAVIER, Francisco Cândido. O
Evangelho de Emmanuel: comentários ao evangelho segundo João. Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva.
1. ed. Brasília: FEB, 2015, p. 34 e 35.
O Evangelho
segundo o Espiritismo em tradução no português atual
Conforme informamos no
último número, damos continuidade à tradução livre, sem fins comerciais, em
terceira pessoa, de L’Évangile selon le
Spiritisme — O Evangelho segundo o
Espiritismo, 3. ed., rev., corr.
e modif. Paris, 1866.
Parafraseando Allan
Kardec, que os bons Espíritos nos auxiliem a concluir este trabalho, se essa
for a Vontade de Deus.
Para os homens em
particular, esta é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da
vida privada ou pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na
justiça mais rigorosa; é, finalmente, e acima de tudo, o caminho infalível da
felicidade que está por vir, uma ponta do véu sobre a vida futura que foi
levantado. É essa parte que faz o objeto exclusivo deste livro.
Todos admiram a moral
evangélica; cada um proclama sua sublimidade e necessidade, mas muitos o fazem
confiados no que ouviram falar dele ou por fé em algumas máximas que se
tornaram proverbiais; no entanto, poucos a conhecem completamente, menos ainda
entendem e sabem deduzir suas consequências. A razão é, em grande parte, por
causa da dificuldade de ler o Evangelho, que é ininteligível para grande número de
pessoas. A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, fazem com
que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces
sem entendê-las, ou seja, sem proveito.
Os preceitos da
moral, difundidos aqui e ali, se
confundem com a massa de outras narrativas e passam despercebidos. Desse modo,
é impossível fazer um estudo e meditação à parte desses preceitos.
É certo que já foram
escritos tratados da moral evangélica, mas seu estilo literário moderno
tira-lhes a simplicidade que lhes dá encanto e autenticidade. Ocorre o mesmo
com as máximas destacadas, reduzidas à sua expressão proverbial mais simples;
são, então, apenas aforismos que perdem parte de seu valor e interesse, pela
ausência dos acessórios e pelas circunstâncias em que foram enunciados.
Para remediar esses
inconvenientes, reunimos nesta obra os artigos que podem constituir,
propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de culto; nas
citações mantivemos tudo o que era útil para o desenvolvimento do pensamento,
apenas excluindo o que era estranho ao assunto. Temos escrupulosamente
respeitado a tradução original de Sacy, bem como a divisão do versículo. Mas,
em vez de nos atermos a uma ordem cronológica impossível e sem qualquer
vantagem real em tal assunto, as máximas foram agrupadas e classificadas
metodicamente de acordo com sua natureza, de modo que sejam deduzidas tanto
quanto possível uma da outra. A indicação dos números de ordem dos capítulos e
versículos permite recorrer-se à classificação vulgar, se for considerado
apropriado.
Este seria apenas um
trabalho material de utilidade secundária somente. O essencial seria colocá-lo
ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras e o desenvolvimento
de todas as consequências, com o objetivo de aplicá-lo às diferentes posições
da vida. É isso que tentamos fazer com a ajuda dos bons Espíritos que nos
assistem.
AMIGO JORGE:
ResponderExcluirDesculpe a demora em responde-lo; é que o tempo, por vezes, fica meio curto; mas é sempre um prazer tê-lo comigo em meu pc, sobretudo, quando, por agora, temos a bênção de, conjuntamente, participarmos de sua tradução daquele que, para mim, é o mais importante livro da codificação espírita: "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (AK). Obra que, aliás, fora tão inspirada, de perto, pelo Espírito de Verdade, e que, por sinal, fala de modo claro, e sem dúvida alguma, de nossa posição de Espíritos falidos, quedados à matéria dos mundos por fenomenologia cíclica, que, por agora, nos reconduz aos páramos divinos por evolução salvífica e redentora.
Forte abraço do amigo de sempre:
fernandorosembergpatrocinio.blogspot.com.br
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