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terça-feira, 11 de dezembro de 2018



Prosseguimos abaixo com nossa livre tradução d'O Evangelho segundo o Espiritismo:

III - NOTÍCIAS HISTÓRICAS

Para bem compreender certas passagens dos Evangelhos, é necessário conhecer o valor de muitas palavras que são frequentemente empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Essas palavras, já não tendo para nós o mesmo sentido, foram quase sempre mal interpretadas, gerando algumas incertezas. O entendimento da sua significação explica também o verdadeiro significado de certas máximas, que parecem estranhas à primeira vista.

SAMARITANOS - Após o cisma das dez tribos, Samaria tornou-se a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruída muitas vezes, ela foi, sob o domínio romano, sede administrativa da Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado o Grande, a embelezou com suntuosos monumentos e, para agradar a Augusto, deu-lhe o nome de Augusta, em grego Sebaste.
Os samaritanos estiveram quase sempre em guerra contra os reis de Judá. Uma aversão profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam todas as formas de relações recíprocas. Os samaritanos, para tornarem a cisão mais profunda e não terem de ir a Jerusalém, para a celebração das festas religiosas, construíram um templo próprio e adotaram certas reformas. Admitiam apenas o Pentateuco, que contém a lei de Moisés, e rejeitavam todos os livros que lhe haviam sido posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta Antiguidade. Para os judeus ortodoxos, eles eram heréticos, e por isso eram desprezados, anatematizados e perseguidos. O antagonismo das duas nações tinha, portanto, como único princípio, a divergência de opiniões religiosas, embora as suas crenças tivessem a mesma origem. Eles eram os protestantes daquele tempo.
Ainda hoje encontram-se samaritanos em algumas regiões do Oriente, particularmente em Naplouse e em Jaffa. Eles observam a lei de Moisés com maior rigor do que os outros judeus, e só se casam entre si.

NAZARENOS - Nome dado, na antiga lei, aos judeus que faziam votos, por toda a vida ou por algum tempo, de conservar-se em pureza perfeita. Adotavam a castidade, a abstinência de bebidas alcoólicas e não cortavam os cabelos. Sansão, Samuel e João Batista eram nazarenos.
Mais tarde, os judeus deram esse nome aos primeiros cristãos, por referência a Jesus de Nazaré.
Esse foi também o nome de uma seita herética dos primeiros séculos da era cristã, que, assim como os ebionitas, dos quais adotara certos princípios, misturava práticas mosaicas aos dogmas cristãos. Essa seita desapareceu no século quarto.

PUBLICANOS - Eram assim chamados, na Roma antiga, os cavalheiros arrendatários das taxas públicas, encarregados da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, fosse em Roma mesmo ou noutras partes do Império. Eles assemelhavam-se aos arrendatários gerais e aos contratantes do antigo regime na França, e aos que ainda existem em algumas regiões. Os riscos  que corriam faziam que se fechassem os olhos para o seu enriquecimento que, para muitos, eram produtos de cobranças e de lucros escandalosos. O nome publicano foi dado, mais tarde, a todos os que lidavam com o dinheiro público e aos seus agentes subalternos. Hoje, a palavra é tomada em sentido pejorativo, para designar os negocistas e seus agentes pouco escrupulosos. Diz-se, às vezes: "ávido como publicano; rico como um publicano", ao se referir a fortunas de má procedência.
Da dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram, e o que mais causava irritações entre eles. Ele provocou muitas revoltas e foi transformado numa questão religiosa, porque era considerado contrário à lei. Chegou-se mesmo a formar um partido poderoso, que tinha por chefe um certo Judas, chamado o Gaulonita, que estabelecera como princípio o não pagamento do imposto. Os judeus tinham, portanto, horror ao imposto e, por consequência, a todos os que se encarregavam de arrecadá-lo. Esse o motivo de sua aversão pelos publicanos de todas as categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas  bastante estimáveis, mas que, em virtude de suas funções, eram desprezadas, juntamente com as pessoas de suas relações, todas confundidas na mesma repulsa. Os judeus bem considerados julgavam comprometer-se, tendo relações íntimas com eles.

PORTAGEIROS - Eram os cobradores de baixa categoria encarregados do recebimento dos direitos de entrada nas cidades. Suas funções correspondiam mais ou menos à dos funcionários aduaneiros e dos cobradores de taxas sobre mercadorias. Eles sofriam também a reprovação aplicada aos publicanos em geral. É por essa razão que encontramos frequentemente no Evangelho o nome de publicano ligado à designação de gente de má vida. Essa qualificação não se referia aos devassos e aos vagabundos; era uma expressão de menosprezo, sinônimo de gente de má companhia, indigna de relações com gente de bem.

FARISEUS - (do hebraico: parasch, divisão, separação). A tradição constituía parte importante da teologia judaica. Consistia na reunião das interpretações sucessivas dadas aos trechos das escrituras, que se haviam transformado em artigos de dogma. Isso era, entre os doutores, motivo de discussões intermináveis, na maioria das vezes sobre simples questões de palavras ou de formas, à semelhança das disputas teológicas e das sutilezas da escolástica medieval. Daí surgiram diferentes seitas, que pretendiam cada qual o monopólio da verdade, e como acontece quase sempre, detestando-se cordialmente umas às outras.
Entre essas seitas, a mais influente era a dos fariseus, que tinha HileI como chefe, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma célebre escola, onde se ensinava que a fé só era dada pelas Escrituras. Sua origem remonta aos anos 180 ou 200 antes de Cristo. Os fariseus foram perseguidos em diversas épocas, principalmente sob o domínio de Hircânio, sumo pontífice e rei dos judeus, Aristóbulo e Alexandre, reis da Síria. No entanto, como este último lhes restituiu as honras e os bens, eles recuperaram o poder, conservando-o até a ruína de Jerusalém, no ano 70 da Era Cristã, quando então o seu nome desapareceu, em consequência da dispersão dos judeus.
Os fariseus desempenhavam papel ativo nas controvérsias religiosas. Observadores servis das práticas exteriores do culto e das cerimônias, cheios de ardoroso proselitismo, inimigos das inovações, eles afetavam grande severidade de princípios. Mas, sob as aparências de uma devoção meticulosa, escondiam costumes dissolutos, muito orgulho, e sobretudo excessivo desejo de dominação. A religião, para eles, era mais um meio de subir do que objeto de uma fé sincera. Tinham apenas exterioridades e ostentação de virtudes, mas com isso exerciam grande influência sobre o povo,  aos olhos de quem  eram considerados santas personagens. Eis porque eram muito poderosos em Jerusalém.
Eles criam, ou pelo menos fingiam crer na Providência, na imortalidade da alma, na eternidade das penas e na ressurreição dos mortos (cap. IV, n° 4). Jesus, que acima de tudo prezava a simplicidade e as qualidades de coração, que preferia da lei o espírito que vivifica à letra que mata, entregou-se, durante toda a sua missão, a desmascarar essa hipocrisia e, em consequência disso, os transformou em seus inimigos encarniçados. Foi por isso que eles se ligaram com os príncipes dos sacerdotes para revoltar o povo contra Ele e eliminá-lo.

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