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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018





Continuação da tradução livre d’O Evangelho segundo o Espiritismo sem fins comerciais (Jorge Leite de Oliveira)

O princípio da concordância é ainda uma garantia contra as alterações que, em proveito próprio, pretendessem introduzir no Espiritismo as seitas que dele quisessem apoderar-se, acomodando-o à sua maneira. Quem quer que tente fazê-lo desviar de seu fim providencial fracassaria, pela bem simples razão de que os Espíritos, devido à universalidade dos seus ensinos, farão cair toda modificação que se afaste da verdade.
Resulta de tudo isso uma verdade capital: é que quem desejasse atravessar-se na corrente de ideias estabelecida e sancionada, poderia provocar uma pequena perturbação local e momentânea, mas jamais dominar o conjunto, mesmo no presente e ainda menos no futuro.
E resulta mais, que as instruções dadas pelos Espíritos sobre os pontos da Doutrina ainda não esclarecidos, não teriam força de lei, enquanto permanecessem isoladas, só devendo, por conseguinte, ser aceitas sob todas as reservas, a título de informações.
Daí a necessidade da maior prudência na sua publicação, e no caso de julgar-se que devem ser publicadas, só devem ser apresentadas como opiniões individuais, mais ou menos prováveis, mas tendo, em todo o caso, necessidade de confirmação. É essa confirmação que se deve esperar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, se não se quiser ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Os Espíritos Superiores procedem, em suas revelações, com extrema prudência. Só abordam as grandes questões da doutrina gradualmente, à medida que a inteligência se torna apta a compreender as verdades de uma ordem mais elevada, e quando as circunstâncias são propícias para a emissão de uma ideia nova. Eis porque, desde o começo, eles não disseram tudo, e nem o disseram até agora, não cedendo jamais à impaciência de pessoas muito apressadas, que desejam colher os frutos antes de amadurecerem. Seria, pois, inútil, desejar antecipar o tempo marcado pela Providência para cada coisa, porque então os Espíritos verdadeiramente sérios recusam positivamente sua ajuda. Mas os Espíritos levianos, pouco se incomodando com a verdade, respondem a tudo. É por isso que, sobre todas as questões prematuras, há sempre respostas contraditórias.
Os princípios acima não são o resultado de uma teoria pessoal, mas a forçosa consequência das condições em que os Espíritos se manifestam. É evidente que, se um Espírito diz uma coisa num lugar, enquanto milhões dizem o contrário por toda parte, a presunção de verdade não pode estar com aquele que ficou só, e nem se aproximar da sua opinião, pois pretender que um só tenha razão contra todos seria tão ilógico de parte de um Espírito como de parte dos homens. Os Espíritos verdadeiramente sábios, quando não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questão, não a resolvem jamais de maneira absoluta. Declaram tratar do assunto de acordo com a sua opinião pessoal e aconselham esperar-se a confirmação.
Por maior, mais bela e justa que seja uma ideia, é impossível que reúna, desde o princípio, todas as opiniões. Os conflitos de que dela resultam são a consequência inevitável do movimento que se processa. São mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade, e convém que se produzam desde logo, para que as ideias falsas sejam afastadas desde logo. Os espíritas que revelam alguns temores devem ficar tranquilos. Todas as pretensões isoladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do grande e poderoso critério do controle universal.
Já não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós ou qualquer outro que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco um Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. É a universalidade dos Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Esse é o caráter essencial da Doutrina Espírita, nisso está a sua força e a sua autoridade. Deus quis que a Sua Lei fosse assentada sobre uma base inabalável, e foi por isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só.
É diante desse poderoso tribunal, que nem conhece o conluio, nem as rivalidades ciumentas, nem o sectarismo, nem as divisões nacionais,  que virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições, todas as pretensões à supremacia individual, que nos quebraríamos nós mesmos, se quiséssemos substituir esses decretos soberanos por nossas próprias ideias. Será ele somente que resolverá todas  as questões litigiosas, que fará calar as dissidências e dará razão a quem de direito. Diante desse imponente acordo de todas as vozes do céu, que pode a opinião de um homem ou de um Espírito? Menos que uma gota d’água que se perde no oceano, menos que a voz de uma criança abafada pela tempestade.
A opinião universal, eis portanto o juiz supremo, aquele que pronuncia em última instância. Ela forma-se de todas as opiniões individuais. Se uma delas é verdadeira, tem na balança o seu peso relativo; se ela é falsa, não pode prevalecer sobre as outras. Nesse imenso concurso, as individualidades desaparecem, e eis aí uma nova derrota para o orgulho humano.
Esse conjunto harmonioso já se esboça; portanto, este século não passará antes que ele brilhe em todo o seu esplendor, de maneira a resolver todas as incertezas; porque, de ora em diante, vozes poderosas terão recebido a missão de se fazerem ouvir, para reunir os homens sob a mesma bandeira, uma vez que o campo esteja suficientemente preparado. Enquanto isso, aquele que flutuar entre dois sistemas opostos poderá observar em que sentido se forma a opinião geral: é o indício certo do sentido em que se pronuncia a maioria dos Espíritos nos diversos pontos em que se comunicam. É um sinal não menos certo de qual dos dois sistemas prevalecerá.

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