Continuação da tradução livre d’O Evangelho segundo o Espiritismo sem fins comerciais (Jorge Leite de Oliveira)
O princípio da concordância é ainda uma garantia
contra as alterações que, em proveito próprio, pretendessem introduzir no Espiritismo
as seitas que dele quisessem apoderar-se, acomodando-o à sua maneira. Quem quer
que tente fazê-lo desviar de seu fim providencial fracassaria, pela bem simples
razão de que os Espíritos, devido à universalidade dos seus ensinos, farão cair
toda modificação que se afaste da verdade.
Resulta de tudo isso uma verdade capital: é que
quem desejasse atravessar-se na corrente de ideias estabelecida e sancionada,
poderia provocar uma pequena perturbação local e momentânea, mas jamais dominar
o conjunto, mesmo no presente e ainda menos no futuro.
E resulta mais, que as instruções dadas pelos
Espíritos sobre os pontos da Doutrina ainda não esclarecidos, não teriam força
de lei, enquanto permanecessem isoladas, só devendo, por conseguinte, ser
aceitas sob todas as reservas, a título de informações.
Daí a necessidade da maior prudência na sua
publicação, e no caso de julgar-se que devem ser publicadas, só devem ser
apresentadas como opiniões individuais, mais ou menos prováveis, mas tendo, em
todo o caso, necessidade de confirmação. É essa confirmação que se deve
esperar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, se não se
quiser ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Os Espíritos Superiores procedem, em suas
revelações, com extrema prudência. Só abordam as grandes questões da doutrina
gradualmente, à medida que a inteligência se torna apta a compreender as
verdades de uma ordem mais elevada, e quando as circunstâncias são propícias
para a emissão de uma ideia nova. Eis porque, desde o começo, eles não disseram
tudo, e nem o disseram até agora, não cedendo jamais à impaciência de pessoas
muito apressadas, que desejam colher os frutos antes de amadurecerem. Seria,
pois, inútil, desejar antecipar o tempo marcado pela Providência para cada
coisa, porque então os Espíritos verdadeiramente sérios recusam positivamente
sua ajuda. Mas os Espíritos levianos, pouco se incomodando com a verdade,
respondem a tudo. É por isso que, sobre todas as questões prematuras, há sempre
respostas contraditórias.
Os princípios acima não são o resultado de uma
teoria pessoal, mas a forçosa consequência das condições em que os Espíritos se
manifestam. É evidente que, se um Espírito diz uma coisa num lugar, enquanto
milhões dizem o contrário por toda parte, a presunção de verdade não pode estar
com aquele que ficou só, e nem se aproximar da sua opinião, pois pretender que
um só tenha razão contra todos seria tão ilógico de parte de um Espírito como
de parte dos homens. Os Espíritos verdadeiramente sábios, quando não se sentem
suficientemente esclarecidos sobre uma questão, não a resolvem jamais de
maneira absoluta. Declaram tratar do assunto de acordo com a sua opinião
pessoal e aconselham esperar-se a confirmação.
Por maior, mais bela e justa que seja uma ideia, é
impossível que reúna, desde o princípio, todas as opiniões. Os conflitos de que
dela resultam são a consequência inevitável do movimento que se processa. São
mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade, e convém que se
produzam desde logo, para que as ideias falsas sejam afastadas desde logo. Os
espíritas que revelam alguns temores devem ficar tranquilos. Todas as
pretensões isoladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do grande e
poderoso critério do controle universal.
Já não será à opinião de um homem que se aliarão os
outros, mas à voz unânime dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós
ou qualquer outro que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco um
Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. É a universalidade dos
Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Esse é o
caráter essencial da Doutrina Espírita, nisso está a sua força e a sua
autoridade. Deus quis que a Sua Lei fosse assentada sobre uma base inabalável,
e foi por isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só.
É diante desse poderoso tribunal, que nem conhece o
conluio, nem as rivalidades ciumentas, nem o sectarismo, nem as divisões
nacionais, que virão quebrar-se todas as oposições, todas as
ambições, todas as pretensões à supremacia individual, que nos quebraríamos nós mesmos, se quiséssemos substituir esses decretos soberanos por nossas próprias
ideias. Será ele somente que resolverá todas as questões
litigiosas, que fará calar as dissidências e dará razão a quem de direito.
Diante desse imponente acordo de todas as vozes do céu, que pode a opinião de
um homem ou de um Espírito? Menos que uma gota d’água que se perde no oceano,
menos que a voz de uma criança abafada pela tempestade.
A opinião universal, eis portanto o juiz supremo,
aquele que pronuncia em última instância. Ela forma-se de todas as opiniões
individuais. Se uma delas é verdadeira, tem na balança o seu peso relativo; se
ela é falsa, não pode prevalecer sobre as outras. Nesse imenso concurso, as individualidades
desaparecem, e eis aí uma nova derrota para o orgulho humano.
Esse conjunto harmonioso já se esboça; portanto,
este século não passará antes que ele brilhe em todo o seu esplendor, de
maneira a resolver todas as incertezas; porque, de ora em diante, vozes
poderosas terão recebido a missão de se fazerem ouvir, para reunir os homens
sob a mesma bandeira, uma vez que o campo esteja suficientemente preparado.
Enquanto isso, aquele que flutuar entre dois sistemas opostos poderá observar
em que sentido se forma a opinião geral: é o indício certo do sentido em que se
pronuncia a maioria dos Espíritos nos diversos pontos em que se comunicam. É
um sinal não menos certo de qual dos dois sistemas prevalecerá.
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