Em dia com o
Machado 348 )jó(
Mais leitura e menos alienação em 2019
Boa noite!
Neste final de ano, faço um apelo a
todos os brasileiros que não me leem: leiam mais! Sei que isto é um paradoxo:
como pedir a quem não nos lê para ler mais? Certamente, quem não gosta de ler
jamais lerá o meu apelo, salvo... Isto mesmo: salvo um hercúleo esforço para
ler um pouco mais graças a seu incentivo, prezada leitora, ou devido a seu supremo
apelo, caro leitor. Pois certamente vocês enfatizarão de tal modo os benefícios
da leitura, que ao menos meia dúzia, quatro ou três, um, talvez, em sua
homenagem, resolva ler minha crônica.
Aos leigos, identifico-me: sou Machado
de Assis, não o autor defunto, como o
foi Brás Cubas, “autor” de suas memórias póstumas; mas sim o primeiro escritor
brasileiro imortal, segundo a Academia Brasileira de Letras, que ajudei a
fundar.
No meu tempo, levantei estatística sobre
o número de analfabetos existentes no Brasil. A coisa não melhorou muito
atualmente. As desculpas são as mais esfarrapadas possíveis. Exemplo: “Saio de
casa cedo para o trabalho, viajo duas horas para chegar à repartição e outras
duas horas para voltar a casa. Quando chego, tomo banho, janto e vou dormir”.
E durante as viagens de ida e volta ao
trabalho, o que você faz? perguntaríamos. Tempo perdido. A resposta já está
pronta: “Durmo”. Há quem mal lê uma linha de um texto e já tem sono profundo.
Nem precisa tomar melatonina para adormecer. A receita é infalível: dê-lhe um
texto qualquer em prosa ou poesia e pronto! Não há café que mantenha essa
criatura acordada.
Acompanhei alguns programas televisivos
que exemplificam bem a ignorância do brasileiro. Um rábula, investigado por tentar
burlar a justiça que ele próprio jurou defender, respondeu ao seu entrevistador
que é “adevogado”. A filha de um grande comunicador, cujo nome não declinarei
por clemência à ignorância, perguntou a seus colegas de programa como é que se
escreve “decepcionado”. O outro colega, tão ignorante quanto ela, não conseguiu escrever, em português, a palavra
“ignorante”. Daí ela cair na gargalhada e gozar do colega por não saber
escrever, quando ela própria não o sabe.
Toda semana é um festival de ignorância no
programa de TV a que me referi. Entretanto, com toda a certeza, milhões... eu
disse: milhões de brasileiros e brasileiras que afirmam não terem tempo para
ler veem o programa e se divertem muito com a insipiência desses e de outros
personagens televisivos.
Em outro canal, a apresentadora, jovem e
bonita loira, lia a correspondência de seus ouvintes, quando se saiu com esta:
“— Fulana pergunta o que fazer para curar sua nostalgia”. Em seguida, pôs as
mãos nas costas e explicou ao telespectador que “nostalgia” é dor nas costas. A
criatura não sabe diferenciar “lombalgia” de “nostalgia”...
Mas enquanto meus fiéis leitores não
passam de uma dúzia de gatos pingados, esses e outros programas de reality show ou de funk são apreciados por milhões de semianalfabetos que, mesmo tendo
curso universitário, quando muito, têm vaga lembrança do curso que fizeram. De
cultura geral, quase nada sabem. De besteirol, conhecem tudo. Se for
pornografia então...
Adiós. Emmanuel convida-me para nova
entrevista.
Nota do
autor: À exceção das citações, todos os textos de minhas crônicas são
fictícios, ou seja, de minha elaboração pessoal ou por mim parafraseados. Nada
há neles que se possa dizer ter sido psicografado, exceto o que for mediúnico
e, nesse caso, referenciado.
"Mas enquanto meus fiéis leitores não passam de uma dúzia de gatos pingados, esses e outros programas de reality show ou de funk são apreciados por milhões de semianalfabetos que, mesmo tendo curso universitário, quando muito, têm vaga lembrança do curso que fizeram. De cultura geral, quase nada sabem. De besteirol, conhecem tudo. Se for pornografia então...".
ResponderExcluirFalaste uma grande verdade meu amigo: como a mentalidade humana é, ainda, tão rasteira...
Rosemberg