Marmande, 1862.
Seres humanos, por que lamentam as calamidades que vocês mesmos
amontoaram sobre suas cabeças? Desprezaram a santa e divina moral do Cristo;
não se admirem então de que a taça da iniquidade haja transbordado por toda a
parte.
O mal-estar se generaliza. De quem é a culpa, senão de vocês
mesmos, que incessantemente procuram esmagar uns aos outros? Vocês não podem
ser felizes sem mútua benevolência, mas como a benevolência pode existir junto
com o orgulho? O orgulho é a fonte de todos os seus males. Apliquem-se, pois, à
tarefa de destruí-lo, se não quiserem perpetuar suas funestas consequências. Um
só meio vocês têm para isso, mas esse meio é infalível: tomarem por regra invariável
de sua conduta a lei do Cristo, lei que têm rejeitado ou falseado na sua
interpretação.
Por que vocês têm em tão grande estima o que brilha e encanta os
olhos, em vez do que toca o coração? Porque o vício desenvolvido na opulência é
o objeto da sua adulação, enquanto nada mais têm do que um olhar de desdém para
o verdadeiro mérito, que se oculta na obscuridade? Que um rico libertino,
perdido de corpo e alma, se apresente em qualquer lugar, e todas as portas lhe
são abertas, todas as honras são para ele, enquanto mal se concede uma saudação
ao homem de bem que vive do seu trabalho. Quando a consideração que se dispensa
aos outros é medida pelo peso do ouro que eles possuem, ou pelo nome que
trazem, que interesse podem eles ter de se corrigirem de seus defeitos?
A situação seria outra, entretanto, se o vício dourado fosse
fustigado pela opinião pública, como o é o vício em andrajos. Mas o orgulho é
indulgente para tudo quanto o lisonjeia. Século de cupidez e de dinheiro, dizem
vocês. Sem dúvida; mas por que deixaram as necessidades materiais sobrepujarem o
bom senso e à razão? Por que cada um deseja elevar- se acima do seu irmão? Hoje, a sociedade sofre as consequências disso.
Não esqueçam que tal estado de coisas é sempre o sinal de
decadência moral. Quando o orgulho atinge seu extremo, é indício de uma próxima
queda, pois Deus sempre pune os soberbos. Se às vezes os deixa subir, é para
lhes dar tempo de refletir e de emendar-se, sob os golpes que, de tempos em
tempos, desfere no seu orgulho como advertência. Mas, em vez de humilharem,
eles se revoltam. Então, quando a medida está cheia, Deus a revira por completo,
e a queda é tanto mais terrível, quanto mais alto hajam subido.
Pobre raça humana, cujo egoísmo corrompeu todos os caminhos, reanime-se,
apesar de tudo! Em sua misericórdia infinita, Deus lhe envia poderoso remédio
para seus males, socorro inesperado à sua aflição. Abra os olhos à luz: aqui
estão as almas dos que não mais vivem na Terra, para lhes recordar os
verdadeiros deveres. Elas dir-lhe-ão com a autoridade da experiência, quanto as
vaidades e as grandeza de sua passageira existência são pequeninas, diante da
eternidade. Dir-lhe-ão que, no Além, será maior o que foi menor entre os pequenos
deste mundo; que o que mais amou seus irmãos será também o mais amado no Céu;
que os poderosos da Terra, se abusaram da sua autoridade, serão obrigados a
obedecer aos seus servos; que a caridade e a humildade, enfim, essas duas irmãs
que estão sempre de mãos dadas, são os títulos mais eficazes para se obter
graça diante do Eterno.
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