A ingratidão dos filhos e
os laços de família - Agostinho (conclusão)
Quando os pais fizeram tudo para o adiantamento moral dos
filhos, se não conseguiram êxito, não têm do que lamentar, e sua consciência
pode estar tranquila. Quanto à amargura muito natural que experimentam, pelo
insucesso de seus esforços, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação,
pela certeza de que é apenas um atraso momentâneo, e que lhes será dado
acabarem noutra existência a obra então começada, e que um dia o filho ingrato
os recompensará com o seu amor (Ver cap. 13, it. 19).
Deus não coloca as provas acima das forças daquele que as pede;
só permite as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta
de possibilidades, mas de vontade, pois quantos existem que, em lugar de
resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem. É para estes que estão reservados
o choro e lamentações, em suas existências posteriores.
Admirem, porém, a bondade de Deus, que não fecha jamais a porta
ao arrependido. Um dia surge em que o culpado se cansa de sofrer, e seu orgulho
é por fim abatido. É então que Deus abre
os braços paternais para o filho pródigo que se lança aos seus pés. Provas
fortes, ouça-me bem, quase sempre são o sinal do fim do sofrimento e do aperfeiçoamento
do Espírito, quando são aceitas diante de Deus. É um momento supremo em que,
sobretudo, importa não falir pela murmuração, se não se quiser perder o fruto
da prova e ter de recomeçar.
Em vez de reclamarem, agradeçam a Deus, que lhes oferece a
ocasião de vencer, para lhes dar o prêmio da vitória. Então, quando, saídos do
turbilhão do mundo terrestre, vocês entrarem no mundo dos Espíritos, serão ali
aclamados, como o soldado que saiu vitorioso do meio da luta.
De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração.
Alguém que suporta com coragem a miséria das privações materiais, sucumbe ao
peso das amarguras domésticas, machucado pela ingratidão dos seus. Oh, é uma
pungente angústia isso! Mas que pode, nessas circunstâncias, reerguer a coragem
moral, senão o conhecimento das causas do mal, e a certeza de que, se há longas
dilacerações, não há desesperos eternos, apesar disso? Pois não é da vontade de
Deus que sua criatura sofra para sempre.
Que há de mais consolador, de mais encorajador, do que esse
pensamento de que depende de si, de seus próprios esforços, abreviar o
sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é necessário não
reter o olhar na Terra e só ver uma existência. O olhar precisa elevar-se, pairar no infinito do passado
e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revela a seus olhos. Esperem
com paciência, porque isso lhes explica o que lhes parecia monstruosidades da
Terra. Então, os ferimentos que vocês receberam não lhes parecem mais que
simples arranhaduras. Nesse golpe de vista
lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu verdadeiro
sentido. Com a reencarnação, já não são mais
os laços frágeis da matéria que ligam seus membros, mas os laços duráveis do
Espírito, que se perpetuam e se consolidam ao se depurarem, em vez de se quebrarem.
Os Espíritos que a semelhança de gostos, identidade de progresso
moral e de afeição levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos,
nas suas migrações terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam no espaço,
dando origem às famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas peregrinações, eles
são momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes pelos seus novos
progressos.
Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos, Deus
permite que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de receberem
conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Estes causam, às
vezes, problemas, mas esta é a prova, esta é a tarefa. Acolham-nos, pois, como irmãos; ajudem-nos e, mais tarde,
no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvado do naufrágio
os que, por sua vez, poderão salvar outros.
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