EM
DIA COM O MACHADO 469:
nova
versão da história do barqueiro analfabeto (Jó)
Salve, leitores amigos! Hoje daremos nova
versão à história do barqueiro que não sabia ler nem escrever e do professor
que ele transportava no rio Negro.
João do Barco era um jovem simples, que
morava às margens do rio Negro, um dos afluentes do rio Amazonas. Possuía duas
profissões: pescador e barqueiro. Nesta última, trabalhava das 7h às 19h,
diariamente, transportando as pessoas de margem a outra do rio, sem folga nos
feriados e fins de semana. Pescava entre 5h e 6h da manhã.
Toda a sua existência atual, até então,
baseara-se nos conhecimentos herdados do pai, falecido quando João do Barco
estava com a idade de 15 anos. O pai narrava-lhe muitas histórias. Uma delas
era a de um professor que morrera quando o barco virara e aquele, com muita
raiva do professor, deixara de tentar salvá-lo, por se ter melindrado com as
palavras do mestre, que lhe dissera que o conhecimento das letras era
fundamental para abrir nossas mentes para viagens do espírito, muito além das
meras travessias duma margem à outra do rio.
Quando o barco virara, Sr. Joaquim, o
pai de João, perguntara ao professor:
— O senhor sabe nadar? – Em resposta,
ouviu uma desesperada vítima, antes de se afogar, dizer-lhe, entre glub, glub,
glub:
— Não sei... Salve-me, por favor! – E Sr.
Joaquim, após refletir um instante no quanto era importante para ele garantir a
própria sobrevivência, recomendou-lhe que se agarrasse à pequena tábua que
boiava, solta do barco, a distância.
— Assim que eu nadar até a margem, virei
noutro barco para salvá-lo. — O detalhe é que a citada tábua estava fora do
alcance de quem não sabia nadar, mas não de um bom nadador, como Sr. Joaquim.
Passados os anos, o pai de João do Barco
ocultava seus remorsos com as seguintes palavras ditas ao filho:
— Se um dia você encontrar quem lhe
ensine a ler e escrever, esforce-se em aprender, para que não venha, por
despeito, a deixar alguém morrer. Afinal, aprender nunca é demais, mas fazer o
que se aprende é fundamental.
Como a vida continua, Joaquim também
morreu. Não afogado, como o pobre docente, que deixou família sem provedor e
dezenas de alunos privados do único professor local, mas porque, não sabendo
ler, num dia em que, mais uma vez, se aventurara a atravessar a nado para a
outra margem do rio, por esporte, ignorou o aviso, numa grande placa, à sua
frente, com a seguinte frase: "Nado interditado, pois o rio foi invadido por piranhas vorazes".
— O senhor sabe nadar?
— Não sei, mas e você, sabe ler e escrever?
— Também não, professor, mas vou
propor-lhe uma troca de aprendizagens: eu lhe ensino a nadar e o senhor me
ensina a ler e escrever. Que acha disso?
—Aprovado! — Disse o mestre, ainda com o hábito de avaliar...
O professor aprendeu a nadar, e João
aprendeu a ler e escrever com seu mestre e amigo. Vinte anos após, o agora dr.
João, que se formara em agropecuária, no Campus da Universidade Federal do
Amazonas, em Parintins, tornou-se um dos maiores comerciantes de peixes, proprietário
dalgumas das melhores embarcações da região e dono de famosa escola
local.
Atualmente, João do Barco proporciona emprego
e estudos a cerca de 3.000 famílias amazonenses. Seu ex-professor é o atual diretor
de sua instituição de ensino...
Moral da história: Não importa o que sabemos,
se não passamos isso adiante com humildade e desejo permanente de aprender e compartir.
Somente assim nos livramos da ignorância e da falta de compaixão pelo próximo.
Esta é uma história fictícia. Qualquer
semelhança com a realidade é mera coincidência.
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