17.5.2 A virtude
François-Nicolas-Madeleine
Paris, 1863
A virtude,
no seu mais alto grau, abrange todas as qualidades essenciais que constituem o
homem de bem. Ser bom, caridoso, trabalhador, sóbrio, modesto são as qualidades
do homem virtuoso. Infelizmente, elas são muitas vezes acompanhadas de pequenas
doenças morais, que lhes tiram a graça, as atenuam. Aquele que ostenta sua virtude não é virtuoso, pois lhe
falta a qualidade principal: a modéstia, e sobra-lhe o vício que lhe é mais
contrário: o orgulho. A virtude verdadeiramente digna desse nome não gosta de
exibir-se. Nós a adivinhamos, mas ela se esconde na obscuridade e foge à admiração das multidões. Vicente de Paulo era virtuoso;
o digno Cura d'Ars era virtuoso, assim como
muitos outros pouco conhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses
homens de bem ignoravam que fossem
virtuosos; eles deixavam-se ir na corrente de suas santas inspirações e praticavam
o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos. Deixavam-se
levar pela corrente de suas aspirações, e praticavam o bem com absoluto
desinteresse e completo esquecimento de si mesmos.
É à
virtude, assim compreendida e praticada que os convido, meus filhos. É a essa
virtude realmente cristã e verdadeiramente espírita, que os convido a
consagrar-se. Mas afastem de seus corações o sentimento de orgulho, de vaidade,
de amor próprio, que sempre tiram o encanto das mais belas qualidades. Não imitam
essa pessoa que se apresenta como modelo e se gaba das próprias qualidades a
todos os ouvidos tolerantes. Essa virtude ostentada esconde, quase sempre, uma porção
de pequenas torpezas e odiosas covardias.
Em
princípio, quem se exalta, quem levanta uma
estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples ato, todos os méritos
que efetivamente podia ter. Mas que direi
daquele cujo valor está em parecer o que
não é? Admito perfeitamente que quem faz o bem
sente uma satisfação íntima no fundo do coração, mas desde que essa satisfação
se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio.
Oh, todos vocês,
a quem a fé espírita aqueceu com seus raios, e que sabem quanto a humanidade está
longe da perfeição, nunca cedam a isso! A virtude é uma graça, que desejo para
todos os espíritas sinceros, mas com esta advertência: mais vale poucas virtudes
com modéstia, do que muitas com orgulho. É
pelo orgulho que as humanidades sucessivamente se têm perdido; é pela humildade
que elas deverão redimir-se um dia.
Tradução livre de Jorge Leite de
Oliveira
http://lattes.cnpq.br/0494890808150275
Nenhum comentário:
Postar um comentário