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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 


17.5.2 A virtude

François-Nicolas-Madeleine

Paris, 1863

 

         A virtude, no seu mais alto grau, abrange todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caridoso, trabalhador, sóbrio, modesto são as qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, elas são muitas vezes acompanhadas de pequenas doenças morais, que lhes tiram a graça, as atenuam. Aquele que ostenta sua virtude não é virtuoso, pois lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e sobra-lhe o vício que lhe é mais contrário: o orgulho. A virtude verdadeiramente digna desse nome não gosta de exibir-se. Nós a adivinhamos, mas ela se esconde na obscuridade e foge à admiração das multidões. Vicente de Paulo era virtuoso; o digno Cura d'Ars era virtuoso, assim como muitos outros pouco conhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem ignoravam  que fossem virtuosos; eles deixavam-se ir na corrente de suas santas inspirações e praticavam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos. Deixavam-se levar pela corrente de suas aspirações, e praticavam o bem com absoluto desinteresse e completo esquecimento de si mesmos.

         É à virtude, assim compreendida e praticada que os convido, meus filhos. É a essa virtude realmente cristã e verdadeiramente espírita, que os convido a consagrar-se. Mas afastem de seus corações o sentimento de orgulho, de vaidade, de amor próprio, que sempre tiram o encanto das mais belas qualidades. Não imitam essa pessoa que se apresenta como modelo e se gaba das próprias qualidades a todos os ouvidos tolerantes. Essa virtude ostentada esconde, quase sempre, uma porção de pequenas torpezas e odiosas covardias.

         Em princípio,  quem se exalta, quem levanta uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples ato, todos os méritos que efetivamente podia ter. Mas que direi daquele cujo valor  está em parecer o que não é? Admito perfeitamente que quem faz o bem sente uma satisfação íntima no fundo do coração, mas desde que essa satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio.

         Oh, todos vocês, a quem a fé espírita aqueceu com seus raios, e que sabem quanto a humanidade está longe da perfeição, nunca cedam a isso! A virtude é uma graça, que desejo para todos os espíritas sinceros, mas com esta advertência: mais vale poucas virtudes com modéstia, do que muitas com orgulho. É pelo orgulho que as humanidades sucessivamente se têm perdido; é pela humildade que elas deverão redimir-se um dia.

 

Tradução livre de Jorge Leite de Oliveira

http://lattes.cnpq.br/0494890808150275

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