18.2 A porta estreita
Entrem pela porta
estreita, porque larga é a porta da perdição, e o caminho que leva a ela é espaçoso, e
muitos são os que entram por ela. A porta da vida é pequena. Estreito é o caminho que leva
a ela, e poucos são os que a encontram (Mateus, 7:13-14).
Ao que alguém lhe perguntou:
Senhor, são poucos, então, os que se salvam? Ele lhe respondeu: Esforce-se por entrar
pela porta estreita, porque lhe digo que muitos procurarão entrar por ela não o
conseguirão. E quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vocês
estarão de fora, e começarão a bater à porta, dizendo: Abra-nos, Senhor. Ele lhes
responderá, dizendo: Não sei de onde vocês são.
– Então vocês começarão a dizer: Nós somos aqueles
que, em sua presença, comemos e bebemos, a quem ensinou nas nossas praças. E
ele lhes responderá: Não sei donde vocês são. Apartem-se de mim todos os que cometem
iniquidade.
Ali será o choro e o
ranger de dentes, quando vocês virem que Abraão, Isaac, Jacó e todos os
profetas estão no Reino de Deus e que vocês ficam fora dele. E virão do oriente
e do ocidente e do setentrião e do meio dia, muitos que se assentarão à mesa no
Reino de Deus. Então os que forem os últimos serão os primeiros, e os que forem
os primeiros serão os últimos (Lucas,
13:23-30).
A porta da perdição é larga, porque as más paixões são numerosas
e o caminho do mal é o mais frequentado pela maioria das pessoas. A da salvação
é estreita porque quem deseje transpô-la deve fazer grandes esforços sobre si
mesmo para vencer suas más tendências, e poucos se resignam a isso. Completa-se
a máxima: Muitos são os chamados e poucos os escolhidos.
Tal é o estado atual da humanidade terrena, porque, sendo
a Terra um mundo de expiação, nela o mal predomina. Quando estiver transformada,
o caminho do bem será o mais frequentado. Essas palavras devem ser entendidas,
portanto, em sentido relativo e não absoluto. Se tal houvesse de ser o estado
normal da humanidade, Deus teria voluntariamente condenado à perdição a imensa
maioria das criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é
todo justiça e todo bondade.
Mas de quais delitos esta humanidade seria culpada, para
merecer uma sorte tão triste, no presente e no futuro, se toda ela estivesse na
Terra e a alma não tivesse outras existências? Porque tantos entraves semeados
no seu caminho? Por que essa porta tão estreita, que apenas a um pequeno número
é dado transpor, se a sorte da alma está definitivamente fixada após a morte?
É assim que, com a unicidade da existência, estamos
incessantemente em contradição com nós mesmos e com a justiça de Deus. Com a
anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga, a luz
se faz sobre os pontos mais obscuros da fé, o presente e o futuro tornam-se
solidários com o passado, e só então podemos compreender toda a profundidade,
toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.
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