17.5.4 O homem no mundo
Um Espírito protetor
Bordeaux, 1863
Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração
daqueles que se reúnem sob o olhar do Senhor, implorando a assistência dos bons
Espíritos. Purifiquem, portanto, seus corações. Não
deixem que neles se alojem pensamentos mundanos ou fúteis. Elevem seus espíritos
àqueles a quem vocês apelam, a fim de que eles possam, encontrando em vocês as disposições
favoráveis, lançar em profusão as sementes que devem germinar em seus corações,
para neles produzir os frutos da caridade e da justiça.
Não creiam, porém, que ao exortá-los incessantemente à
prece e à evocação mental, queiramos levá-los a viver uma vida mística, que os
mantenha fora das leis da sociedade em que estão condenados a viver. Não, vivam
com os homens de sua época, como devem viver os homens. Sacrifiquem-se às
necessidades, às frivolidades mesmo de cada dia, mas façam-no com um sentimento
de pureza que as possa santificar.
Vocês foram chamados ao contato de espíritos de naturezas
diversas, de caracteres opostos; não melindrem a nenhum daqueles com quem se
encontrarem. Sejam alegres e felizes, mas seja a sua alegria a de uma boa
consciência e a felicidade do herdeiro do céu, que conta os dias que o
aproximam de sua herança.
A
virtude não consiste numa aparência severa e lúgubre, em repelir os prazeres
que a condição humana permite. Basta reportar todos os seus atos ao Criador que
lhes deu vida. Basta, ao começar ou
acabar uma tarefa, que elevem o pensamento ao Criador, pedindo-lhe, num impulso
da alma, a sua proteção para executá-la ou a sua bênção para a obra acabada. Ao
fazerem qualquer coisa, voltem seus pensamentos à fonte suprema; nada façam sem
que a lembrança de Deus venha purificar e santificar seus atos.
A perfeição, como disse o Cristo, está inteiramente na
prática da caridade absoluta, mas os deveres da caridade estendem-se a todas as
posições sociais, desde a mais ínfima até a mais elevada. O homem que vivesse isolado
não teria como exercer a caridade. Somente no contato com seus semelhantes, nas
lutas mais penosas, ele encontra a ocasião de praticá-la. Aquele que se isola,
portanto, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de perfeição; só tendo
de pensar em si, sua vida é a de um egoísta. (Ver cap. V, n" 26).
Não imaginem, portanto, que para viver em constante
comunicação conosco, para viver sob o olhar do Senhor, seja preciso entregar-se
ao cilício e cobrir-se de cinzas. Não, não,
ainda uma vez lhes dizemos. Sejam felizes no quadro das necessidades humanas,
mas que em sua felicidade não entre jamais um pensamento nem um ato que o possa
ofender ou faça velar a face dos que os amam e os dirigem. Deus é amor e abençoa
aqueles que amam santamente.
Tradução livre de Jorge Leite de Oliveira
http://lattes.cnpq.br/0494890808150275
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