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domingo, 5 de dezembro de 2021


 

17.5.3 Os superiores e inferiores
François-Nicolas-Madeleine
Cardeal Morlot, Paris, 1863

 

         A autoridade, da mesma maneira que a fortuna, é uma delegação de que se pedirá contas a quem dela foi investido. Não creiam que ela seja dada para satisfazer ao vão prazer de mandar, nem tampouco, com um direito ou uma propriedade, segundo pensa falsamente a maioria dos poderosos da Terra. Deus, aliás, lhes prova constantemente que ela não é nem uma nem outra coisa, pois a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente à personalidade, seria inalienável. Ninguém pode dizer, entretanto, que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem o seu consentimento. Deus concede autoridade a título de missão ou de prova, quando julga conveniente e da mesma forma a retira.

         Quem quer que seja o depositário da autoridade, seja qual for sua extensão, desde a do senhor sobre o servidor, até a do soberano sobre o seu povo, não deve esquecer que tem almas a seu encargo, que responderá pela boa ou má direção que der aos seus subordinados, e que sobre ele recairão as faltas que estes venham a cometer, os vícios a que forem arrastados em consequência dessa orientação ou dos maus exemplos, do mesmo modo  que recolherá os frutos de sua solicitude, por conduzi-los ao bem.

         Todo homem tem, na Terra, uma pequena ou uma grande missão. Qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem. Desviá-la, pois, do seu sentido, é fracassar no seu cumprimento.

         Se Deus pergunta ao rico: Que você fez da fortuna que devia ser em suas mãos uma fonte espalhando a fecundidade à sua volta? Também perguntará ao que possui alguma autoridade: Que uso você fez dessa autoridade? Que males impediu? Que progressos facultou? Se lhe dei subordinados, não foi para torná-los escravos de sua vontade, nem dóceis instrumentos de seus caprichos e de sua cupidez; se lhe fiz forte e lhe confiei os fracos, foi para que os amparasse e os ajudasse a subir até mim.

         O superior que está compenetrado das palavras do Cristo não despreza nenhum dos que lhe estão abaixo, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem diante de Deus. O Espiritismo lhe ensina que, se eles hoje o obedecem, podem já tê-lo comandado, ou poderão comandá-lo mais tarde, e que então será tratado como os tratou.

         Se o superior tem deveres a cumprir, o inferior também os tem, e não são menos sagrados. Se este também é espírita, sua consciência lhe dirá, melhor ainda, que não está dispensado de cumpri-los, ainda mesmo que seu chefe não cumpra os dele, porque sabe que não deve pagar o mal com o mal, e que as faltas de uns não justificam as de outros. Se sofre na sua posição, dirá que sem dúvida o mereceu, porque ele mesmo talvez tenha abusado outrora de sua autoridade, devendo agora sentir os inconvenientes de que fez os outros sofrerem. Se é forçado a suportar essa posição na falta de outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se a isso como uma prova à sua humildade, necessária ao seu adiantamento.

         Sua crença o guia na sua conduta; ele age como desejaria que seus subordinados agissem com ele, caso ele fosse o chefe. Por isso mesmo é mais escrupuloso no cumprimento das obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe foi confiado será um prejuízo para aquele que o remunera, e a quem deve seu tempo e seus esforços. Numa palavra, ele é guiado pelo sentimento do dever que sua fé lhe dá, e pela certeza de que todo desvio do caminho reto será uma dívida, que terá de pagar mais cedo ou mais tarde.


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