DESOBSESSÃO
Era uma festa em honra de Jesus.
Emoldurando extensas luminárias.
As flores do recinto eram doce fragrância
E os crentes demonstravam cimos de elegância.
Eis um guarda a exclamar: “Sou um homem correto;
Pobres aqui não entram. Sou mandado.
Tenho as prerrogativas de um soldado.
Não quero ouvir pessoas descontentes,
A festa de Jesus não comporta indigentes”.
Carregavam crianças em feridas.
O chicote do guarda agitou-se no escuro
E ele disse: “Aqui não pode haver monturo”.
Que traz consigo jovem obsedada.
Ele profere frases sem respeito
E a mãezinha lhe diz com carinho e com jeito:
“Cala-te, minha filha; esperemos a paz....”
O obsessor cruel exclama: “Para trás!
Sou das trevas e não suporto a luz,
Não queremos a fé, nem queremos Jesus...”
O guarda conduziu todo o grupo ao recanto,
Enquanto a mãe dizia, a desmandar-se em pranto:
“Quem nos trará, oh! Céus, a Bênção do Senhor,
Se não temos aqui acolhimento e amor?!...”
Das filas da pobreza, um moço desliza,
Vem à jovem que sofre e fala em voz amiga:
“Posso tentar algum socorro agora?”
“Tente, senhor!” – rogou a mãezinha que chora.
Quando o estranho, porém, se aproxima de todo,
O verdugo infeliz se atira no chão de lodo
E brada: “Sai daqui, Messias Nazareno,
A fim de injuriar-te eu não me desordeno.”
Calmo o moço lhe pediu: “Oh! Deixa a menina.
Acomodado à treva, o ódio te domina!...”
A entidade infeliz saiu, desesperada...
Logo o moço tocou a jovem desmaiada...
Ela acordou, beijando a mamãe com desvelo,
Qual se livrasse, ali, de horrível pesadelo.
Entre os pobres se ouviu enorme gritaria...
O salvador da moça quem seria?
No entanto, o herói da noite desapareceu...
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