COMUNICAR É PRECISO IV (Jorge Leite)
“Todos nós sabemos
alguma coisa.
Todos nós ignoramos
alguma coisa.
Por isso aprendemos
sempre.” -
Paulo Freire.
Outro dia, li o seguinte aviso
num e-mail enviado por uma respeitável instituição jurídica:
“Caso não gostaria de receber
mais nossas correspondências [...]”. Estranhou? Eu também.
Correção: “Caso não queiras
receber mais nossas correspondências [...]”.
Um amigo nosso, muito culto,
costuma escrever: “Vou dá um aviso
aos companheiros.”
Comunicou? Claro. Mas e o
português? Escuro como água turva...
Corrigindo: “Vou dar um aviso aos amigos, assistentes
sociais, colegas de trabalho, etc..”
Companheiros? Nada haver com a política (?). Certo?
Errado. O certo é: Nada a ver com a política...
A não ser que outro contexto
exija a inexistência de algo na
política. Mas então dir-se-ia, por exemplo: A senadora disse quase nada haver na política que não seja motivo
de escândalo em nosso país.
Aviso de elevador: “Antes de
entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar.”
Certo? Bem, dá para entender.
Então, comunicou.
Formalmente, porém, a frase
contém duas impropriedades:
1ª – “o mesmo” não é sujeito de
nenhuma frase e deveria ser substituído por “ele”;
2ª – quando o emissor distante se
dirige a um destinatário, o pronome a ser utilizado é “esse” e não “este”.
Exemplo: Encaminho a V. Sª esse dicionário...
Então, no aspecto formal, a frase
deveria ser corrigida para:
Antes de entrar no elevador,
verifique se ele está nesse andar.
O se conjunção atrai o se
pronome. Nesse caso, a frase poderia ser a seguinte:
Antes de entrar no elevador,
verifique se ele se encontra nesse andar.
Referências
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro
de Salles. Dicionário Houaiss da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
CIPRO NETO, Pasquale. Inculta e bela 1. 4. ed. São Paulo:
Publifolha, 2002, p. 134- 135.
QUESTÕES VERNÁCULAS (2ª edição)
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Veremos nesta semana algo
sobre construção de frases, grafia e pronúncia de algumas palavras bem
conhecidas:
1.
“Havia muitas pessoas
no local” e não "Haviam muitas pessoas...”, porque o verbo haver, no sentido de
"existir", mantém sempre a forma singular.
2.
Em razão disso,
devemos dizer sempre: “Houve muitos convidados na festa”, e não “Houveram
muitos convidados na festa”. “Pode haver problemas”, e não “Podem haver
problemas”.
3.
“A partir de agora vou
mudar”, e não “À partir de agora vou mudar”, porque a crase só se compreende
quando a palavra que se segue for feminina, esteja ou não oculta. “Partir” é
verbo e, portanto, repele o artigo “a”, que forma a crase ao fundir-se com a
preposição “a”.
4.
“Isto veio para eu
ler”, e não “para mim ler”, porque o pronome pessoal “eu” é o único cabível em
construções dessa natureza. Da mesma maneira que ninguém diria: “Isto é para ti
fazer”, é impensável dizer: “Isto é para mim fazer”.
5.
Se não houvesse o
verbo “ler” na frase mencionada no tópico anterior, aí sim o pronome seria
“mim”. Exemplos: “Isto veio para mim”, “Ela enviou esta carta para mim”, da
mesma forma que diremos “Isto veio para ti”, “Este e-mail é para ti”.
6.
“Ficamos com um grande
dó”, e não “Ficamos com uma grande dó”, porque a palavra “dó” quando feminina
significa uma das sete notas musicais.
7.
“Problema” lê-se tal
como se escreve: “problema”. Não é poblema nem pobrema, como alguns notórios
políticos gostam de falar.
8.
CD-Rom lê-se CD mais
Rom, como pronunciaríamos a palavra Roma sem o “a”. Não é CD-Rum.
9.
Hall lê-se “ról”, e
não “rau” nem “au”.
10.
Em vez de dizer: “Eu vou ESTAR mandando, vou
ESTAR passando, vou ESTAR verificando”, como é praxe nos atendentes de
telemarketing, digamos de maneira direta e mais simples: “Vou mandar, vou
passar, vou verificar”.
11.
No uso dos verbos SER e ESTAR no modo
subjuntivo, digamos sempre: “Seja o que Deus quiser”, jamais “Seje o que Deus
quiser”. Da mesma forma, diga “esteja”, nunca “esteje”.
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