Em dia com o
Machado 93 (jlo)
No quieras tener Patria.
No dividas la Tierra.
No dividas el Cielo.
No arranques pedazos al mar.
No quieras tener.
Nace bien alto.
Que las todas las cosas serán tuyas.
Qua alcanzarás todos los horizontes.
Que tu mirada, estando em todas partes
Te ponga em todo,
Como Dios. (Cecília Meireles, in Cânticos,
I. Versão.)
Amigo,
there is more to life. Não devemos, pois, nos prender aos acontecimentos
de uma fugaz existência, ainda que ela alcance os noventa, cem anos. Ainda que
eles sejam péssimos; mesmo que eles sejam estupendos.
Há
pessoas que são julgadas pelo que são no presente; há aquelas que são julgadas
pelo seu passado; e há finalmente as que são julgadas pelo que seu futuro
promete ou pelo que promete para o futuro. Mas Deus, que nos conhece bem,
julga-nos a todos, a todo o instante, seja pelo nosso pretérito, presente ou
porvir.
Sábio
foi Jesus, modelo mais completo de humanidade, que nos afirmou não julgar
ninguém. Suas palavras, sim, nos julgariam.
Houve
um tempo, em nosso país, cuja palavra de ordem era: “Brasil, ame-o, ou
deixe-o”. Faço então a pergunta que não quer calar: E se eu não quiser deixá-lo,
ainda que não o ame, quem me obrigará a sair daqui? Afinal, não foi o Cristo
que nos recomendou amar nosso inimigo? Posso, também, não amar meu país, mas
precisar dele. Posso não amar nem precisar dele, mas me esforçar para servi-lo
e transformá-lo no país que todos desejamos, como é o caso de alguns cidadãos
utopistas, ainda que estes sejam poucos.
Ainda
mais: E se eu o amar, de todo o meu entendimento, de toda a minha alma e de
todo o meu ser, mas precisar deixá-lo, quem me obrigará a ficar aqui? Posso ser
apaixonado pelo Brasil, mas precisar prestar um serviço em outra pátria, não
menos merecedora do meu afeto e trabalho.
O
leitor deve ter concordado com o julgamento das pessoas pelo seu passado e
mesmo pelo seu presente, entretanto ainda deve estar coçando a orelha para
entender o julgamento pelo que seu futuro promete ou pelo que promete para o
futuro, ou seja, por algo ainda não feito por alguém. Então, pense nas eleições
deste ano e entenderá o que significa julgar alguém “pelo futuro”. Na política,
isso é perfeitamente possível. Na vida social e profissional também.
Quer
um exemplo, amigo leitor? O partido político dominante no Brasil. Sua cúpula
fez uma projeção de vinte anos no poder, o que foi conseguido com base nas
estratégias de “lavagem cerebral”, perseguição aos que não comungam de sua
cartilha e políticas sociais demagógicas, as quais não investem em educação,
saúde, segurança, exportações industriais, tecnológicas, agrícolas e comerciais.
Seu lema parece ser a corrupção e o achincalhe
à moral cristã. Pensando nisso, já projetam outros vinte anos com as mesmas
promessas falazes, mas então o país estará de tal modo destruído que correrá o
risco de ser tomado por outras nações.
Ao
invés de educar a criança e o jovem a evitarem o abuso das paixões, que
degradam o ser humano, o Governo recomenda-lhes o uso da camisinha, que distribui
a mancheias, não só no carnaval; entrega cartilhas de conteúdos duvidosos sobre
comportamento sexual nas escolas; estimula comportamentos desajustados como se
fossem normais (e até desejáveis) e, para perpetuar a política do “pão e circo”
dos césares, prodigaliza benesses a desocupados, proporciona salários a presidiários
acima do que muitos cidadãos honestos recebem, inocenta políticos corruptos de
faltas graves, as quais, se cometidas por qualquer outra pessoa desta nação, resultariam em crime inafiançável...
A
violência em relação ao direito de ir e vir das pessoas não ocorre somente
durante as perseguições políticas. Ela ocorre no dia a dia de nossas vidas. Mas
há outros tipos de violência, como a do cerceamento da liberdade de expressão
ou a do “argumento da autoridade”, a qual, quando não sensata, raia pelo autoritarismo
e pela ignorância. Exemplifiquemos:
Há
doutores que, embora possuindo alto saber em arquitetura, sem entender patavina
de literatura, se metem a criticar os nossos melhores escritores. Se sou doutor
em geografia, o que me custa reconhecer minha ignorância em relação à medicina?
Se sou historiador, por mais que meu doutorado me leve a ler incontáveis obras
a respeito da despenalização do consumo de drogas, que me custa consultar
psicólogos, psiquiatras e mesmo os bons delegados, que convivem, estudam e aplicam, na prática
do dia a dia seus conhecimentos no sentido de demonstrar que esse é um caminho
quase sempre sem volta, que pode levar o usuário à loucura, ao crime, ou à
morte?
Enfim,
se entendi de fato a mensagem de Jesus, meu país é a humanidade, minha terra é
a das oportunidades iguais para todos, sem quaisquer distinções ou critérios
pessoais. Meu céu é o bem incansável a todas as criaturas. Meu mar é o da
liberdade. Meu reino é o celestial.
É
então que os Cânticos I de Cecília Meirelles se tornam atuais, por que... há mais na vida:
Não queiras ter pátria,
Não dividas a terra.
Não dividas o céu.
Não arranques pedaços do mar.
Não queiras ter.
Nasce bem alto.
Que as coisas todas serão tuas.
Que alcançarás todos os horizontes.
Que teu olhar, estando em toda parte,
Te ponha em tudo,
Como Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário