Em dia com o Machado 359
(Jó)
Já vão distantes os dias de carnaval.
Não no Nordeste. Nessa região, os festejos momescos perduram um mês... no
mínimo. Algumas pessoas querem que a vida seja uma eterna festa e não se
conformam com o término da folia, por vezes dantesca. Entretanto, a
quarta-feira é de cinzas; talvez porque a festa
seja predominantemente de “confusão, trapalhada e desordem”, na linguagem
popular, como registra Aurélio.
Depois
do “fogo”, as “cinzas”, pois nada mais resta do que já foi, qual ocorre em
incêndio voraz. E isso ocorre nos dois mundos: no da matéria e no do espírito.
O detalhe é que, excetuado quem é vidente, os que estão na matéria não veem o
que ocorre fora dela, mas os que estão fora dela veem e influenciam os que nela
estão.
A
festa é pagã. Desse modo, seus deuses não são verdadeiros. Talvez por isso
mesmo predomine a mentira de quem se esfalfa na farra desses dias. As próprias
fantasias imitam o que não se pode ser: princesas, príncipes, rainhas, rei... Momo. Pedras falsas, colares de contas
vis. Jovens e idosos querem ser felizes, o que é natural e, mesmo, desejável.
Entretanto, nunca é demais lembrar: a festa é de falsos deuses e reais
entidades... não as mitológicas, mas as cruéis e vingativas.
Diz
o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, em obra psicografada por Divaldo
Pereira Franco, que esses são dias nos quais todos, sem exceção, que participam
dessa festa estão “nas fronteiras da loucura”, como indica o título do livro.
Entretanto, o sábio Espírito Bezerra de Meneses esclarece-nos, nessa mesma
obra, que o carnaval “[...] é o vestígio da barbárie e do primitivismo ainda
reinantes, e que um dia desaparecerão da Terra, quando a alegria pura, a
jovialidade, a satisfação, o júbilo real substituírem as paixões do prazer
violento e o homem houver despertado para a beleza, a arte, sem agressão nem
promiscuidade” (op. cit., 15. ed., LEAL, 2014, p. 69).
—
Não esta “arte” contemporânea, amigo Jó. “A arte — como diz Léon Denis — é a
busca, o estudo, a manifestação dessa beleza eterna — a Divina — da qual
percebemos, aqui na Terra, apenas um reflexo” (DENIS, L. O Espiritismo na arte. 2. ed. RJ: LD, 2008, p. 21). Em minha
crônica de 17 jul. 1895, afirmei: “Os mortos não vão tão depressa, como quer o
adágio; mas que eles governam os vivos, é cousa dita, sabida e certa” (A Semana). Nas festas de Momo isso fica claro como água mineral.
Quando
anunciei, em 4 fev. 1894, que não haveria carnaval naquele ano, de início
expressei minha tristeza, haja vista
que o riso faz parte da natureza humana. Após tecer considerações sobre a
suspensão do carnaval, naquele ano, concluí: “A razão de não o termos, este
ano, é justa; seria melhor que a proibição não fosse precisa, e viesse do
próprio ânimo dos foliões. Mas não se pode pensar em tudo”.
—
Amigo Machado, voltando a Miranda, na citada obra, muitas pessoas que
inadvertidamente participam desse tipo de recreação, quando o fazem sem se
darem conta do perigo que correm, costumam ser salvas pelos amigos espirituais.
Outras, entretanto, perdem os valores materiais e morais, além da própria vida.
— O
ideal, Jó, seria buscarmos atividades artísticas diversas que expressassem o
belo, a espiritualidade, pois a vida é curta, quando se está na carne. Quando a
humanidade estiver plenamente consciente de que a verdadeira alegria, tal como
a vida plena, não se realiza na Terra e, sim, no mundo espiritual, certamente,
o renascimento da arte far-se-á em todo o seu esplendor. Au revoir.
—
Despeçamo-nos, então, amigos leitores, com a esperança de que este tempo já
esteja em curso, de acordo com as seguintes palavras:
O
Espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites. A
comunicação que ele estabelece entre os mundos visível e invisível, as
indicações fornecidas sobre as condições da vida no Além, a revelação que ele
nos traz das leis de harmonia e de beleza que regem o Universo vêm oferecer aos
nossos pensadores, aos nossos artistas, motivos inesgotáveis de inspiração
(DENIS, L. Op. cit., p. 22).
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