5.7.5
Se fosse um homem de bem, teria morrido
Dizem, frequentemente, ao falar de um homem mau que escapa dum
perigo: Se fosse um homem de bem, teria morrido. Pois bem, ao dizerem isso,
falam uma verdade, porque, efetivamente, Deus concede, muitas vezes, a um
Espírito ainda jovem, na senda do progresso, uma prova mais longa do que a de
um bom, que receberá, em recompensa ao seu mérito, a bênção de uma prova tão
curta quanto possível. Assim, pois, quem se utiliza daquele axioma, não há
dúvida de que está blasfemando.
Se morre um homem de bem, cujo vizinho é mau, apressam-se em
dizer: Seria bem melhor se tivesse morrido este. Cometem, então, um
grande erro, porque aquele que parte terminou sua tarefa, e o que fica pode nem
a ter começado. Por que querem, então, que o mau não tenha tempo de acabá-la, e
que o outro continue aprisionado à terra? Que dirão vocês de um prisioneiro
que, tendo concluído sua pena, continue na prisão, enquanto se dá liberdade a
outro que não tem esse direito? Fiquem sabendo que a verdadeira liberdade está
no livramento dos laços que os prendem ao corpo, e que, enquanto vocês estão na Terra, estão em cativeiro.
Habituem-se a não censurar o que não podem compreender e creiam
que Deus é justo em todas as coisas. Frequentemente, o que lhes parece um mal é
um bem. Mas suas faculdades são tão limitadas, que o conjunto do grande todo
escapa a seus sentidos obtusos. Esforcem-se para sair, pelo pensamento, de sua
estreita esfera, e, à medida que se elevarem, a importância da vida material
diminuirá a seus olhos. Porque ela lhes aparecerá como um simples incidente, na
duração infinita da sua existência espiritual, a única existência verdadeira.
Fénelon
Sens, 1861.
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