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segunda-feira, 14 de outubro de 2019




Em dia com o Machado 389:
 estrela de primeira grandeza – II (Jó)

“[O Espiritismo] foi a obra de minha vida.” – Allan Kardec (Revista Espírita, jul. 1865)

            26 anos antes de ter ouvido seu amigo Fortier falar-lhe das “mesas falantes”, o jovem Rivail, então com 24 anos de idade, escreveu numa de suas obras pedagógicas: “Aquele que houver estudado as ciências rirá, então, da credulidade supersticiosa dos ignorantes. Não mais crerá em espectros e fantasmas. Não mais aceitará fogos-fátuos por Espíritos”.[1]
            O moço sobrepunha ao misticismo o espírito prático e racional da ciência e da filosofia positivista. Por isso, nada julgava sem antes observar e experimentar, como confirmaria em O que é o Espiritismo, cap. I, it. Oposição da ciência, editado dois anos após a publicação d’O Livro dos Espíritos, ou seja, em 1859. Questionado, agora, sobre em que se firmava sua crença na existência de Espíritos e sua comunicação com os “vivos”, responderia o Codificador do Espiritismo:

Essa crença se apoia sobre o raciocínio e sobre os fatos. Eu próprio não a adotei senão depois de meticuloso exame. Tendo adquirido, no estudo das ciências exatas, o hábito das coisas positivas, sondei, perscrutei essa nova ciência nos seus mais íntimos refolhos; busquei a explicação de tudo, porque só aceito uma ideia quando lhe conheço o como e o porquê.[2]

            Assim como Kardec, toda pessoa de bom senso sabe que “contra fatos não existem argumentos”. É muito importante continuar a leitura dessa informação do Codificador, que se estende por três páginas da obra citada. Ela mostra-nos a diferença entre o método de pesquisa científica, baseado fundamentalmente nas comprovações laboratoriais, e o sistema adotado por Allan Kardec, mas ainda com base na filosofia de Auguste Comte, de quem adaptou o método de observação e experimentação aos fatos mediúnicos. Desse modo, criou a ciência espírita, após ter sido convidado a participar das reuniões mediúnicas na casa da família Plainemaison, em maio de 1855. Nada mais natural, pois agora eram os Espíritos, ou seja, inteligências providas de livre-arbítrio, que se manifestariam de modo diverso ao da ciência física e matemática newtoniana.
            Na divulgação das manifestações dos Espíritos, Rivail adotou o pseudônimo Allan Kardec, para não ser confundido com seu nome de batismo, que já se destacara como educador, escritor e pedagogo francês. A estrela nascida em Lyon, em 3 de outubro de 1804 refulge, pois, com novo nome. Desde então, o brilho inconteste de Rivail seria eclipsado pelo de Allan Kardec, que dedicaria todo o restante de sua existência de abnegação e devotamento ao próximo para legar ao mundo a Terceira Revelação Divina, sob a inspiração, proteção e supervisão de Jesus Cristo e seus emissários.
            Das observações atentas e experiências realizadas com diversos médiuns, na casa da Sra. Plainemaison, Kardec passaria a outra casa. A da família Baudin, que se somando a outros médiuns, como as jovens Japhet e Ermance Dufaux, também participariam ativamente dos trabalhos de intercâmbio mediúnico codificados pelo missionário do Cristo.
Segundo Abreu[3], Ermance de la Jonchére Dufaux, que aos doze anos já manifestara dons mediúnicos, participou da “elaboração da segunda edição d’O Livro dos Espíritos, que teve ampliadas as 501 questões da primeira edição para 1.019 questões. Kardec recebeu “grande incentivo” do guia espiritual de Dufaux para a edição da Revista Espírita. Esse periódico foi editado por Kardec de 1858 a 1869, ou seja, até o final de sua vida.
No dia 30 de abril de 1856, na casa do Sr. Roustan, a jovem Japhet já havia transmitido a Rivail sua missão, por intermédio do Espírito de Verdade, que o alertara para ser discreto e acrescentou: “Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende”.[4] Humildemente, o Codificador da Doutrina Espírita aceita a missão, submetendo-se à vontade do Senhor, mas pedindo-lhe “forças físicas e morais” para a gigantesca tarefa.
Confirmava-se, a partir de então, o brilho dessa estrela de primeira grandeza. Durante quase quatorze anos, embora trabalhando exaustivamente naquela que seria, em suas palavras, a obra de sua vida, todo o monumento da Doutrina Espírita Allan Kardec atribuiu exclusivamente aos Espíritos.
Sabemos, entretanto, que, guiado principalmente pelas orientações do Cristo, Kardec submetia todas as revelações dos Espíritos ao que ele chamou de “consenso universal”.
Só admitia uma informação como verdadeira após esta ser confirmada por outras, recebidas em diversos lugares e por médiuns diferentes. Foi assim que nos deixou a imortal obra do chamado “pentateuco kardequiano”[5] e o não menos importante trabalho da Revista Espírita, que lhe serviu como uma espécie de laboratório experimental, além de outras obras valiosas.
Suas obras viriam a ser complementadas, desde então, pela produção de excelentes médiuns, surgidos em vários países, com ênfase no Brasil. Também devotados e abnegados escritores e expositores, assim como seus guias espirituais e demais Espíritos colaboradores da obra de Jesus, dão prosseguimento ao trabalho do Codificador e esparzem sobre a humanidade as luzes compartilhadas pelo humilde e sábio lionês, fiel servidor do Consolador, o Espírito de Verdade, que veio para permanecer conosco para sempre. Seu servo leal, estrela de primeira grandeza, será para sempre conhecido como Allan Kardec. 



[1] WANTUIL, Zêus (org.); Thiesen, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador. 4. ed. Brasília: FEB, 2019, p. 214.
[2] KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009, p. 51.
[3] ABREU, Canuto. O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária.  São Paulo: Lar da Família Universal, 1992, p. 88.
[4] WANTUIL, Zêus (org.); Thiesen, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador. 4. ed. Brasília: FEB, 2019, p. 218.
[5] 1. O Livro dos Espíritos; 2. O Livro dos Médiuns; 3. O Evangelho Segundo o Espiritismo; 4. O Céu e o Inferno e 5. A Gênese.

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