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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

 

manifestações espíritas

Jorge Leite de Oliveira

Manifestações dos Espíritos - Físicas e Espontâneas - Espiritismo na Prática 

O livro dos médiuns, de Allan Kardec, desenvolve o aspecto científico do Espiritismo. O conteúdo dessa obra abrange duas partes. A primeira intitula-se Noções Preliminares; a segunda chama-se Manifestações Espíritas. É sobre isto que trataremos.

  Kardec informa-nos sobre as aptidões especiais de alguns médiuns: “Ao lado da aptidão do Espírito, existe a do médium, que é, para o primeiro, instrumento mais ou menos cômodo [...] e no qual ele descobre qualidades particulares [...]” (KARDEC, 2009, it. 185). Há duas categorias de médiuns: a) de efeitos físicos; b) de efeitos intelectuais (id., it. 187).

Tendo em vista que os “efeitos físicos” foram pesquisados, observados, analisados e, por fim, confirmados, em sua autenticidade, por diversos sábios, enfocaremos abaixo alguns desses fenômenos. São eles: a) translações e suspensões; b) aparições; e c) transportes.

A translação aérea e a suspensão de corpos no espaço, neste último caso incluindo os do próprio médium, são fenômenos mediúnicos bastante raros, informa Kardec (2009, it. 189). Ao lhe ser perguntado se fenômenos como esses não contrariariam as leis naturais, o Espírito São Luís responde ao Codificador que só os Espíritos superiores estão em condições de conhecer todas as leis da Natureza (op. cit., it. 74).

Kardec explica, em seguida, que o fluido universal, agente básico das manifestações, por conter o “princípio da vida”, responsável pelo fenômeno de suspensão de corpos no espaço ou de translação aérea, recebe a impulsão fluídica do períspirito do Espírito ou do médium. A emanação do “fluido animalizado” pode ser mais ou menos farta e sua combinação, além de nem sempre ser fácil, é intermitente. Por isso, nem sempre ocorre o fenômeno, que também não depende apenas da vontade do médium para se realizar.

Ao ser movimentado, erguido ou atirado ao ar um objeto, “O Espírito o satura, por assim dizer, com o seu fluido, combinado com o fluido do médium, e o objeto, momentaneamente vivificado desta maneira”, por não possuir “[...] vontade própria, segue o impulso que lhe dá a vontade do Espírito” (op. cit., it. 77).

As propriedades do períspirito é que permitem ao agente desencarnado, como ao encarnado, esse fenômeno. Kardec cita, como exemplo, o “poderoso médium de efeitos físicos”, muito conhecido em sua época, Daniel Dunglas Home, e conclui que, se o Espírito pode “[...] levantar uma poltrona, também é capaz, se tiver força suficiente, de levantá-la com uma pessoa sentada nela. Aí está a explicação do fenômeno que o Sr. Home produziu inúmeras vezes consigo mesmo e com outras pessoas” (id, ibid., it. 80).

Em defesa do médium Dunglas Home, que foi, por vezes, criticado em sua época, sem que jamais encontrassem prova concreta de fraude provocada por ele, esclarece Kardec que Home nunca aceitou pagamento pelos fenômenos provocados por sua mediunidade. Nunca fez de sua mediunidade meio profissional, ciente de que “[...] Não há um só médium no mundo que possa garantir a produção de um fenômeno espírita num dado momento, donde forçoso é concluir que a pretensão contrária dá prova de absoluta ignorância dos mais elementares princípios da ciência [...]” (KARDEC, 2004a, p. 55 O Sr. Home em Roma).

Um dos estudiosos sobre a vida e mediunidade de Home foi Arthur Conan Doyle. Diz este que em mais de uma centena de ocasiões, com claridade boa e ante respeitáveis testemunhas, Dunglas Home levitou. E prossegue dizendo:

 

Em 1857, num castelo próximo de Bordeaux, Home foi levantado até o teto de uma sala alta, em presença de Madame Ducos, viúva do ministro da Marinha, do conde e da condessa de Beaumont. Em 1860, Robert Bell escreveu, no Cornhill, um artigo intitulado Mais estranho do que a ficção. “Ele elevou-se de sua cadeira [diz Bell] quatro a 5 pés do solo. Vimo-lo passar de um lado a outro da janela, com os pés para frente, deitado horizontalmente, no ar”. Dr. Gully, de Malvern, médico muito conhecido, e Robert Chambers, autor e editor, eram as outras testemunhas (DOYLE, 2013, cap. 9, p. 168- 169 A carreira de Daniel Dunglas Home).

 

            Home foi o médium mais completo de translações e suspensões de corpos no espaço, durante o século XIX. Adilton Pugliese (2013) organizou obra sobre a importância desse médium, que teve o reconhecimento, não apenas de Kardec, mas de muitos outros pesquisadores dos fenômenos espíritas. Em sua apresentação, Pugliese sintetiza a grandeza de Home com as seguintes palavras do Sr. Webster: “Ele é o mais maravilhoso missionário dos tempos modernos e da maior de todas as causas, e o bem que ele tem feito não pode ser avaliado. Quando Mr. Home passa, derrama em seu redor a maior de todas as bênçãos – a certeza da vida futura” (op. cit., p. 22).

            A mediunidade de aparições é a que pode “provocar aparições fluídicas ou tangíveis, visíveis para os assistentes. Excepcionais”, diz Kardec (2009, it. 189). É quase sempre espontânea e necessita de uma faculdade especial, para que o Espírito se manifeste a alguém (op. cit., cap. 6, it. 100, perg. 27).

            Allan Kardec esclarece que, nesse caso, quando o Espírito deseja mostrar-se com a aparência física, em certos casos, pode tornar-se tão real que é possível tocá-lo, apalpá-lo, senti-lo com a mesma resistência que possui um corpo humano normal. Isso, porém, não impede seu desaparecimento com a mesma rapidez que o seu surgimento. Desse modo, tanto a visão, como o tato são utilizados por quem o Espírito deseja se manifestar. Ainda que se pudesse “atribuir à ilusão ou a uma espécie de fascinação a aparição simplesmente visual, a dúvida já não seria possível quando conseguimos segurá-la, palpá-la, e quando ela mesma nos segura e abraça” (KARDEC, 2009, it. 104).

            Alexandre Aksakof (1978) demonstra à saciedade a inconsistência das teorias materialistas para contestar tal manifestação do Espírito, cujo objetivo principal foi comprovar-nos sua sobrevivência após a morte do corpo físico. A excelente obra de Aksakof refuta as teorias do filósofo alemão, Dr. Eduardo von Hartmann, que atribuiu os fenômenos de aparições e materializações à alucinação e criou a teoria do animismo para explicar todas as manifestações mediúnicas.

            Em defesa do caráter não alucinatório da materialização de um Espírito, Aksakof utiliza quatro argumentos: 1º) o “testemunho visual simultâneo de muitas pessoas”, entre as quais sábios como ele, Ernesto Bozzano, Willian Crookes, Charles Richet etc.; 2º) o “testemunho visual e tátil, simultâneo, de muitas pessoas”, em geral sob rigorosas condições preestabelecidas pelos sábios presentes. Por vezes, até mesmo com sacrifícios físicos proporcionados ao médium, para evitar sua fraude, como amarrá-lo a uma cadeira, colocá-lo dentro de cabines rigorosamente fechadas etc., como fizeram, no Pará, com a médium Anna Prado; 3º) a “produção de efeitos físicos”. Refutando a teoria de Hartmann sobre ser esse um fenômeno meramente alucinatório, Aksakof informa que “o deslocamento de objetos, verificado após a sessão, pode servir de prova de que esse deslocamento foi real, objetivo”; 4º) “produção de efeitos físicos duradouros”, como o dos moldes em gesso de mãos fechadas que só poderiam ser retiradas do molde, sem lhe provocar dano algum, se as mãos se desmaterializassem, qual ocorria. Alguns desses moldes, até os dias atuais, se encontram intactos, como os que vimos, há alguns anos, na sede histórica da Federação Espírita Brasileira, na Av. Passos (RJ).

            Outra mediunidade excepcional é a de transporte, variedade de médiuns motores e de translações, segundo Allan Kardec. Esses médiuns podem servir como auxiliares dos Espíritos que desejam transportar, de locais fora do ambiente em que estão, objetos materiais diversos.

            Explica Kardec (2009, it. 96) que o Espírito que produz tal fenômeno é de boa índole. O Espírito traz, espontaneamente ou a pedido, objetos que não se encontram no local onde são observados, tais como “flores”, “frutos”, “doces”, “joias” etc.

            Esse tipo de mediunidade precisa ser muito bem comprovado, para evitarem-se fraudes. Para a produção do fenômeno, é necessário haver perfeita combinação entre o fluido fornecido pelo perispírito do médium e o do Espírito (op. cit., it. 99). Aksakof cita o caso do transporte de uma fotografia de Londres a Lowestoft, cidades inglesas distantes 175 km uma da outra (AKSAKOF, 1978, p. 211).

            O século XIX, especialmente a partir de sua quarta década, foi destinado por Jesus Cristo a combater o materialismo e trazer ao mundo as provas da imortalidade espiritual e das consequências boas ou más do uso que fizermos do nosso livre-arbítrio. São muitas, as obras de pesquisadores sérios, além de Allan Kardec, que relatam os fenômenos mediúnicos de efeitos físicos, com provas baseadas na observação e experimentação, que são os métodos científicos propostos pelo Codificador do Espiritismo para comprovar a sobrevivência da alma e sua comunicação após a vida física.

Atualmente, algumas correntes científicas e filosóficas materialistas tentam negar o domínio da vontade individual sobre as manifestações físicas, baseados em desorganização cerebral provocada por doenças. Entretanto, se lessem com atenção as respostas dos Espíritos a Allan Kardec sobre o assunto, veriam que estão tomando o efeito pela causa.

Quando Kardec refere-se à questão da influência dos órgãos sobre as faculdades mentais, em O livro dos espíritos, recebe este esclarecimento fundamental a que não tenhamos dúvida alguma sobre a interdependência espírito-matéria: “Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm-na muito grande sobre a manifestação das faculdades, mas não são eles a origem destas [...]”. Ao que Kardec comenta, logo abaixo:

 

Importa se distinga o estado normal do estado patológico. No primeiro, o moral vence os obstáculos que a matéria lhe opõe. Há, porém, casos em que a matéria oferece tal resistência que as manifestações anímicas ficam obstadas ou desnaturadas, como nos de idiotismo e de loucura. São casos patológicos e, não gozando nesse estado a alma de toda a sua liberdade, a própria lei humana a isenta da responsabilidade de seus atos (KARDEC, 2013, q. 372).

 

            O Espiritismo, diz Carlos Imbassahy (1983, p. 385), tem o objetivo de proporcionar o “aperfeiçoamento de Humanidade”, com a demonstração cabal da sobrevivência de nossa alma, após a existência física, pelos Espíritos. Todo esse trabalho, que vem aperfeiçoando-se, atualmente, é presidido pelo Espírito da Verdade, representante de Jesus Cristo entre nós.

            Kardec (2004b, p. 504) prevê seis períodos para o Espiritismo: o primeiro foi o da curiosidade, em que as manifestações físicas se propagaram em toda parte; o segundo, com o surgimento de O livro dos espíritos, foi o filosófico, que deu origem ao terceiro, o de luta, justamente com o ataque às manifestações mediúnicas. Esse período originou o religioso, e ainda dois outros períodos foram previstos: o intermediário e o da regeneração social.

            Tais períodos, entretanto, misturam-se, como ocorreu com o das manifestações físicas, necessário à satisfação, não somente da curiosidade, como também da investigação e das consequências filosóficas e morais. Ainda hoje, porém, o Espiritismo trava uma “guerra surda”, como foi anunciada pelo Espírito Erasto, em que a tortura será moral, com armação de ciladas,

 

[...] tanto mais perigosas quanto usarão mãos amigas; agirão na sombra; recebereis golpes, sem que saibais de onde partem, e sereis feridos em pleno peito pelas setas envenenadas da calúnia. Nada faltará às vossas dores; suscitarão defecções em vossas fileiras e os pretensos espíritas, perdidos pelo orgulho e pela vaidade, se prevalecerão de sua independência, exclamando: “Somos nós que estamos no reto caminho!”, a fim de que os vossos adversários natos possam dizer: “Vede como são unidos!” Tentarão semear o joio entre os grupos, provocando a formação de grupos dissidentes; cooptarão os vossos médiuns para fazê-los entrar no mau caminho ou para os desviar dos grupos sérios; empregarão a intimidação para uns, a captação para os outros; explorarão todas as fraquezas. Depois, não esqueçais que alguns viram no Espiritismo um papel a desempenhar, e um papel de primazia, que hoje experimentam mais de uma desilusão em sua ambição. Prometer-lhes-ão de um lado o que não puderem achar no outro. Depois, enfim, com dinheiro, tão poderoso em vosso século atrasado, não poderão encontrar comparsas para representar indignas comédias, visando a lançar o descrédito e o ridículo sobre a doutrina?

[...]

Coragem e perseverança, meus filhos! pensai que Deus vos olha e vos julga; lembrai-vos também de que os vossos guias espirituais não vos abandonarão enquanto vos acharem no caminho certo. Aliás, toda esta guerra só terá um tempo e se voltará contra os que julgavam criar armas contra a Doutrina. O triunfo, e não mais o holocausto sangrento, irradiará do Gólgota espírita [...] (Erasto. In: KARDEC, 2004b, p. 508- 9 Instrução dos Espíritos, it. A guerra surda).

 

             Já se antecipando a esse período de lutas, que não ocorreria somente em sua época, mas ainda nos tempos atuais, diz Kardec, na conclusão de O livro dos espíritos: “Falsíssima ideia formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua força lhe vem da prática das manifestações materiais e que, portanto, obstando-se a tais manifestações, se lhe terá minado a base. Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom senso [...]” (KARDEC, 2013, it. 6, p. 467). Confiemos em Deus, em Jesus e façamos como nos recomenda o Espírito Erasto, na bela mensagem transcrita acima: oremos e vigiemos, pois Jesus segue à frente, e a vitória é do Bem.

 

REFERÊNCIAS

 

AKSAKOF, Alexandre. Animismo e espiritismo. Trad. Dr. C. S. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978, 2 v.

DOYLE, Arthur Conan. A história do espiritualismo. Trad. José Carlos da Silva Silveira 1. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.

IMBASSAHY, Carlos. O espiritismo à luz dos fatos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983.

KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

______. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. hist. Brasília: FEB, 2013.

______. Revista Espírita 1864.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2004a.

______. Revista Espírita 1863.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2004b.

MAGALHÃES, Samuel Nunes. Anna Prado, a mulher que falava com os mortos. Brasília: FEB, 2012.

PUGLIESE, Adilton. Daniel Dunglas Home, o médium voador. Santo André, SP: EBM, 2013.

 

(Publicado em Reformador, periódico mensal da FEB, em abril de 2018.)

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