16.8.5
Fénelon
Constantina,
Argélia, 1860
Por
ser o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe depositou nas mãos, ao
homem serão pedidas severas contas do emprego que lhes haja dado, em virtude do
seu livre-arbítrio. A má utilização consiste em utilizá-los somente para a sua
satisfação pessoal. Ao contrário, o emprego é bom sempre que dele resulta algum
bem para os outros. O mérito é proporcional ao sacrifício que para tanto se
impõe.
A
beneficência é apenas um dos modos de empregar-se a riqueza; ela alivia a
miséria atual, aplaca a fome, preserva do frio e dá abrigo àquele que não o tem.
Mas um dever igualmente imperioso, igualmente meritório, é o de prevenir a miséria.
É essa, sobretudo, a missão das grandes fortunas, pela possibilidade de proporcionarem
trabalhos de todo o gênero que com elas se pode executar. E mesmo que delas
tivessem de tirar um proveito natural desses trabalhos, o bem não deixaria de
existir, pois o trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do
homem, sempre satisfeito de poder dizer que ganhou o seu próprio pão, enquanto a
esmola humilha e degrada.
A riqueza
concentrada numa só mão deve ser como uma fonte de água viva, que espalha a
fecundidade e o bem-estar ao seu redor. Ó, ricos, que a empregarem segundo a
vontade do Senhor, seu coração será o primeiro a beneficiar-se nessa fonte
benfazeja. Vocês terão nesta vida os prazeres inefáveis da alma, em vez dos deleites materiais do egoísta, que deixam o vazio no coração. Seus nomes serão benditos
sobre a Terra; e quando a deixarem, o Soberano Senhor lhes dirá, como na parábola
dos talentos: "Bons e fiéis servos, entrem na alegria do seu Senhor!".
Nessa
parábola, o servo que enterrou o dinheiro que lhe havia sido confiado não é a
imagem dos avarentos, em cujas mãos a riqueza se torna improdutiva? Se,
entretanto, Jesus fala principalmente de esmolas, é que naquele tempo e no país
em que ele vivia ainda não se conheciam os trabalhos que as artes e as
indústrias mais tarde criariam, e nos quais as riquezas podem ser empregadas utilmente
para o bem geral.
A
todos os que podem dar, pouco ou muito, então direi: Deem esmolas quando
necessário, mas tanto quanto possível convertam-nas em salário, a fim de que
aquele que as receba não se envergonhe disso.
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