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sábado, 23 de outubro de 2021

 


16.8.5 Fénelon

Constantina, Argélia, 1860

 

Por ser o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe depositou nas mãos, ao homem serão pedidas severas contas do emprego que lhes haja dado, em virtude do seu livre-arbítrio. A má utilização consiste em utilizá-los somente para a sua satisfação pessoal. Ao contrário, o emprego é bom sempre que dele resulta algum bem para os outros. O mérito é proporcional ao sacrifício que para tanto se impõe.

A beneficência é apenas um dos modos de empregar-se a riqueza; ela alivia a miséria atual, aplaca a fome, preserva do frio e dá abrigo àquele que não o tem. Mas um dever igualmente imperioso, igualmente meritório, é o de prevenir a miséria. É essa, sobretudo, a missão das grandes fortunas, pela possibilidade de proporcionarem trabalhos de todo o gênero que com elas se pode executar. E mesmo que delas tivessem de tirar um proveito natural desses trabalhos, o bem não deixaria de existir, pois o trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do homem, sempre satisfeito de poder dizer que ganhou o seu próprio pão, enquanto a esmola humilha e degrada.

A riqueza concentrada numa só mão deve ser como uma fonte de água viva, que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu redor. Ó, ricos, que a empregarem segundo a vontade do Senhor, seu coração será o primeiro a beneficiar-se nessa fonte benfazeja. Vocês terão nesta vida os prazeres inefáveis da alma, em vez dos deleites materiais do egoísta, que deixam o vazio no coração. Seus nomes serão benditos sobre a Terra; e quando a deixarem, o Soberano Senhor lhes dirá, como na parábola dos talentos: "Bons e fiéis servos, entrem na alegria do seu Senhor!".

Nessa parábola, o servo que enterrou o dinheiro que lhe havia sido confiado não é a imagem dos avarentos, em cujas mãos a riqueza se torna improdutiva? Se, entretanto, Jesus fala principalmente de esmolas, é que naquele tempo e no país em que ele vivia ainda não se conheciam os trabalhos que as artes e as indústrias mais tarde criariam, e nos quais as riquezas podem ser empregadas utilmente para o bem geral.

A todos os que podem dar, pouco ou muito, então direi: Deem esmolas quando necessário, mas tanto quanto possível convertam-nas em salário, a fim de que aquele que as receba não se envergonhe disso.


Tradução livre de Jorge Leite de Oliveira
http://lattes.cnpq.br/0494890808150275

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