EM
DIA COM O MACHADO 491:
um
abençoado dia (Jó)
Salve, leitores!
Tenho
um vizinho amigo que, toda semana, vai ao mercado, em frente ao nosso bloco, compra
uma cesta básica e coloca em grande caixa da portaria do bloco. Contribui, assim,
com a Campanha de Doação de Alimentos, promovida, há meses, pela "prefeitura" local.
Vez ou outra, vejo-o voltando do mercado com a cesta...
Dia
desses, ele disse-me que, após pegar uma cesta básica de 14 quilos, enquanto
caminhava para um dos caixas, lembrou-se de comparar o preço do pacote com o de
um pote de manteiga de meio quilo. Preço da cesta básica: R$ 60,00 (sessenta
reais), aproximadamente. Preço da manteiga mais barata: R$ 30,00 (trinta reais).
Na cesta não há manteiga, nem ao menos,
margarina. Que pena!
Outro
mistério que meu amigo ainda não conseguiu decifrar: o preço da cesta básica,
que até hoje está afixado abaixo dos pacotes, no primeiro corredor do mercado,
é de aproximadamente R$ 67,00 (sessenta e sete reais), mas há um mês, semana
após semana, são-lhe cobrados sete reais a menos. E não adianta "reclamar"
ao caixa: — Moço (ou moça), o preço da etiqueta é maior... A resposta, após
consulta ao sistema é sempre a mesma: — O preço é esse mesmo que o senhor
está pagando (R$ 60,00).
—
Que mais lhe aconteceu no mercado? — indaguei-lhe.
—
Quando me dirigi ao caixa, havia uma senhora com um carrinho cheio de compras à
minha frente. Fiquei tranquilo, porém, pois acabara de praticar exercícios e,
embora já seja idoso, segurar 14 quilos por uns cinco a dez minutos é moleza,
para mim. Foi o que pensei, mas
a senhora cedeu-me a vez e ainda me aconselhou: — Coloque o pacote sobre o
balcão, para aliviar seus braços desse peso. Agradeci-lhe, paguei ao caixa e,
na saída, enquanto ela olhava para os lados, agradeci-lhe novamente. Com a
maior simplicidade, a alma bondosa respondeu-me:
—
Por nada, vá com Deus!
—
Uma atitude assim até merece uma crônica, meu caro Dinis. Mais alguma cousa?
—
Sim. Ao sair do mercado, um vigia de carros abordou-me e falou:
—
Que Deus o abençoe e que o senhor tenha um excelente dia. Dei-lhe uns trocados
e segui em frente. Depois disso, amigo Jó, fui à farmácia, que fica do outro
lado da rua. Ali, comprei remédio e sabão líquido. Informado do valor, dirigi-me
à moça do caixa para pagar os produtos. O remédio era X e o sabão, Y. Na hora
de pagar, porém, verifiquei que a jovem do caixa me cobrou X + Y + z. Como sou
bom em cálculo mental, percebi o erro, mas calei-me. Na entrega dos produtos,
contrariamente ao que sempre ocorre ali, quando nunca me perguntam isso, a moça
indagou-me:
— O
senhor quer a nota?
—
Não precisa — respondi-lhe... Já havia percebido que a diferença fora pouco
maior do que o aporte dado ao vigia de carros da via pública.
—
Quanto? — perguntei ao Dinis.
Ele,
com simplicidade, respondeu-me:
—
Só o suficiente para, cada um, comprar um litro de leite e dois pãezinhos. E
arrematou: Que bom será quando todos agirmos como aquela gentil senhora, que
pratica o bem no cotidiano de nossa existência neste maravilhoso mundo azul.
— Por
quê?
—
Porque cedeu-me parte do seu tempo, e isso, para muitos de nós, é mais
importante do que alguns trocados...
Quanto
ao rapaz, deu-me o ensejo de aliviar-lhe um pouco a carência material. Disse,
por fim.
— E
a moça do caixa? — Perguntei-lhe.
—
Com ela aprendi o que não se deve fazer em prejuízo do próximo, ainda que seja mínimo, pois Jesus nos ensinou que da prisão
não sairemos, sem sofrimento, até que paguemos o último centavo de nossas
dívidas. Isso está em Mateus, 5:25,26. Essa prisão é a da
consciência culpada, que nos cobra reparação do mal feito a alguém.
— Você
agiu bem — falei ao amigo Dinis —. Como
disse o apóstolo Pedro, devemos ter "[...] ardente amor uns para com os
outros, pois o amor cobre a multidão de pecados." (I Pedro, 4:8). Mas não seria melhor
esclarecer o que houve com a moça do caixa farmacêutico? Quem sabe se não
teria havido engano?... Muitas vezes, algo que nos parece prova da má-fé não passa de nosso juízo errado.
Dinis,
então, concluiu com esta pérola de raciocínio:
—
Jó, se houve ou não má-fé, a nota fiscal recusada poderia confirmar. Mas nada
justifica que subtraiamos um centavo sequer de alguém sem seu consentimento.
Se, porém, o que nos tiram é insignificante para nós, por que humilhar o nosso
próximo, acusando-o, em vez de amá-lo e socorrê-lo?
Concordei
com Dinis e nos despedimos fraternalmente com um abraço.
O
mundo precisa do nosso auxílio material e espiritual: nos pensamentos, nas
palavras, nos gestos e nos atos. Agindo assim, breve o vírus passará... o vírus
do mal.
No
encerramento desta crônica, lembrei-me de que, tempos atrás, eu postava um link
de música para acesso de meus leitores, e esta, cantada pela bela voz do Renato
Russo, vem bem a calhar aqui: Monte Castelo.
Clique,
para ouvir, em: https://www.letras.mus.br/renato-russo/176305/
Paz,
saúde e caridade, meus amigos!
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