quarta-feira, 29 de junho de 2022
terça-feira, 28 de junho de 2022
EM DIA COM O MACHADO
529:a ruína moral do
açodar materialista no mundo atual e seu antídoto (Jó) Na Revista Espírita de 1866, número de
outubro, somos informados por Allan Kardec sobre a chegada dos tempos. De lá
para cá, 156 anos passaram-se, mas o que é isso em relação à eternidade? Para
nós, muito tempo; para Deus, um breve instante. Ali, entretanto, o Codificador
do Espiritismo já previa que “grandes momentos iriam chegar”, visando à
“regeneração da humanidade”.Não duvide, leitor amigo, caminhamos para o
“progresso moral”, embora todos os movimentos contrários dos espíritos
rebeldes, que insistem em criar teorias esdrúxulas voltadas ao imediatismo da
vida corpórea. Ainda persiste uma maioria de almas na infância espiritual, mas
são as próprias leis divinas, eternas e imutáveis, que as corrigirão, pois como
é comum dizer-se: “Quem não vai pelo amor, vai pela dor”.Ao final de seu longo texto, Kardec diz: “O
número dos retardatários sem dúvida ainda é grande, mas que podem contra a onda
que sobe, senão lançar-lhe algumas pedras?”Allan Kardec publica, também, na Revista
Espírita de agosto de 1868, um excelente texto, que se aplica aos nossos
dias, do Sr. Jules Favre, intitulado: O materialismo e o direito, que
recomendo ao leitor conferir no periódico citado. Destaco uma de suas frases
finais: “Nada dizemos demais ao afirmarmos que o materialismo é destrutivo
[...] de toda moral [...]; de todo estado civil, de toda a Sociedade. É preciso
recuar com ele além das regiões da barbárie, além da selvageria”. Ao
final desse excelente texto, o articulista alerta sobre a tremenda
responsabilidade de professor que prega o materialismo, partindo do princípio de
inexistência do espírito, por não se poder vê-lo em laboratório. Se não há
desconhecimento, há hipocrisia quando se nega o que é conhecido desde quando o
ser humano começou a pensar: nossa realidade espiritual, que transcende a
matéria.No mundo atual, temos constatado tristes
mudanças de comportamento no ser humano, a nosso ver, mais do que noutros
tempos. Quase todas as semanas, somos alertados sobre cuidados que devemos ter
para não sermos vítimas de golpes pela internet, telefone, correios etc. Os
planos de saúde passaram a exigir comprovação médica por meio de relatório do
facultativo que comprove a suspeita de uma doença, o que não havia antes.
Bancos, órgãos governamentais e instituições financeiras alertam-nos sobre
falsas mensagens, que podem causar prejuízos financeiros aos cidadãos. Ligações
telefônicas que imitam vozes de familiares supostamente sequestrados e com
ameaças de crimes também são comuns. WhatsApp com fotos de familiar
informando ter mudado o número de seu celular e pedindo favores... Concursos,
antes confiáveis, são comumente fraudados, tanto na área particular quanto na
pública... Isso, além de graves crimes, é resultado do materialismo reinante.Tal não ocorreria assim, entretanto, se não
fosse o avanço tecnológico e científico, que tanto podem ser utilizados para o
bem quanto para o mal. Se, por um lado, os espíritos perversos, encarnados ou
desencarnados, aproveitam-se desses avanços, por outro, a tecnologia e os
espíritos bons nos orientam sobre as medidas preventivas que estão ao nosso
alcance para evitar os crimes. Um exemplo disso são as câmeras filmadoras que,
ao serem instaladas em pontos estratégicos, auxiliam os bons policiais a
identificarem e prenderem os criminosos.Concluo estas reflexões com nosso comentário
que se segue à frase de Kardec n’A Gênese, cap. 18, item 34, plenamente
apropriada aos nossos dias: Opera-se presentemente um desses
movimentos gerais, destinados a realizar a remodelação da humanidade. A
multiplicidade das causas de destruição constitui sinal característico dos
tempos, visto que elas apressarão a eclosão dos novos germens. São as folhas
que caem no outono e às quais sucedem outras folhas cheias de vida, porquanto a
humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas várias idades. As
folhas mortas da humanidade caem batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento,
porém, para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se
extingue, mas se purifica. São os primeiros passos da lei de progresso
dos “tempos chegados”. Os espíritos cuja evolução intelectual não acompanha o
avanço moral sofrerão as consequências de suas atitudes contrárias ao bem,
trabalhados pela dor intensa do remorso e consequências negativas do egoísmo
para si mesmos. É o que Paulo escreveu aos Gálatas, 6:7,8: “Não vos enganeis:
de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”. Princípio
que, inicialmente, aplica-se às consequências provenientes de nossos maus atos.
Mas a segunda parte da frase paulina também se aplica aos bons atos.Em consequência do trabalho da dor nos que
não querem seguir a lei do amor, as flores do mal murcharão, mas as do bem florescerão
e darão bons frutos.
segunda-feira, 27 de junho de 2022
Cantiga da reencarnação
Um homem agonizava, mas
embora
Não pudesse expressar
palavra alguma,
Na sombra interior que
o desarvora,
Pede em silencio ao
corpo:
— “Ampara-me, por Deus!
Eu não quero morrer,
ajuda, corpo amigo,
Não te quero deixar,
preciso estar contigo,
Sem ti temo cair em
abismos fatais...”
Era o apelo de
instantes derradeiros
Naquele portador de
moléstia obscura,
Que ainda não chegara
aos cinquenta janeiros
E que tudo indicava
Estar descendo à morte
prematura.
De consciência lúcida,
lembrava
Em contrição sincera,
As forças que gastara,
inutilmente,
As noites dos excessos
de aguardente
E os abusos sem conta
que fizera...
E, ante a morte a
surgir, sempre mais perto,
Continua a rogar ao
corpo enfraquecido:
— “Corpo que Deus me
deu, não me deixes caído,
quero mais tempo, a fim
de preparar-me
para aceitar sem medo e
sem alarme,
a ideia de perder-te e
entrar em rumo incerto”.
Entretanto,
De espírito cansado,
A desfazer-se em
pranto,
Nas vascas da agonia,
Ouviu a voz do corpo
fatigado,
Que, por fim, lhe
dizia:
"Escuta, meu
amigo,
eu sou teu servo e sei
que és meu senhor,
sempre te obedeci com
desvelado amor,
Deus me criou para a
missão
De atender-te em
completa servidão.
Nunca me viste a
desobedecer
As ordens que me destes
Fossem justas ou não,
Porquanto o meu dever
É o de servir-te sem
reclamação.
Mas indago de ti
quantas vez me impuseste
Noitadas de prazer, ruinosas
ou vazias,
Depredando-me as
próprias energias
Que Deus me concedeu,
em teu favor...
Embora eu te avisasse
Com a minha própria dor
Que o remorso produz
tristeza e enfermidade,
Adquiriste,
displicente,
Cargas de sombra sobre
a própria mente,
Culpas e culpas sem
necessidade...
Repito: sou teu servo e
em nada te condeno,
Mas, demonstrando
entendimento estreito,
Gastaste-me as reservas
sem proveito,
Consumindo-me as
forças,
A pedaços de abuso e a
doses de veneno...
Dei-te tudo o que eu
tinha,
Nada me resta agora,
Senão me recolher à
derradeira hora,
Em que eu deva tornar,
com segura presteza,
À recomposição da
natureza!...”
O homem ouviu o corpo
em despedida
Mas não tinha defesa
Contra os próprios
desmandos, ante a vida...
No silencio de mágoa
indefinida,
Voltou-se para Deus em
oração,
Pediu misericórdia,
amparo e proteção,
E, ante o corpo que se
lhe enrijecia,
Chorou o companheiro
que perdia...
Longo tempo passou, em
clima de amargura,
No entanto, ao se afundar
em crises de loucura,
Fez-se-lhe a prece
continuada,
Nos sofrimentos em que
avança
Um clarão de
esperança...
Tinha nódoas de culpa,
em lágrimas sofria,
Mas, o Céu lhe apontava
a luz de novo dia...
No íntimo, o Senhor o
exortava somente
A regressar ao mundo e
tentar novamente
Extinguir em si mesmo
os males que trazia...
O espírito em falência,
exânime, inseguro
Pensou nas novas
bênçãos do futuro,
Viu a reparação por
justiça e dever,
E agradecendo aos Céus
Gritou feliz, livre mas
preso ao chão:
— “Glória a Deus pela bênção
de sofrer,
Glória à reencarnação
que obterei um dia,
A fim de achar na dor a
essência da alegria,
O Dom de trabalhar e a
graça de nascer!”
MARIA DOLORES
(Espírito). Coração e Vida. Psicografado por F. C. Xavier. SP: IDEAL,
1978, cap. 18.
domingo, 26 de junho de 2022
22.2 O divórcio
O divórcio é uma lei humana
que tem por fim separar legalmente o que já está separado de fato. Não é
contrário à lei de Deus, pois só reforma o que os homens fizeram, e só tem aplicação
nos casos em que não se levou em conta a lei divina. Se fosse contrário a essa
lei, a própria Igreja seria forçada a considerar como prevaricadores aqueles
dos seus chefes que, por sua própria autoridade, e em nome da religião,
impuseram o divórcio, em mais de uma circunstância. Dupla prevaricação seria,
porque praticada com vistas unicamente aos interesses temporais, e não para
atender à lei do amor.
Mas nem mesmo Jesus
consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento. Não disse ele: "Foi devido
à dureza dos seus corações, que Moisés permitiu-lhes repudiar suas mulheres?"
Isto significa que, desde os tempos de Moisés, não sendo a mútua afeição a
finalidade única do casamento, a separação podia tornar-se necessária. Entretanto
acrescenta: "No princípio não foi assim.",
ou seja, na origem da humanidade, quando os homens ainda não estavam
pervertidos pelo egoísmo e pelo orgulho, e viviam segundo a lei de Deus, as
uniões, fundadas na simpatia e não sobre a vaidade ou a ambição, não davam
motivo ao repúdio.
E vai ainda mais longe:
especifica o caso em que o repúdio pode acontecer, que é o de adultério. Ora, o
adultério não existe onde reina uma afeição recíproca. É verdade que proíbe ao
homem desposar a mulher repudiada, mas é necessário considerar os costumes e o caráter
dos homens do seu tempo. A lei mosaica prescrevia, nesse caso, a lapidação. Querendo
abolir um costume bárbaro, precisou duma penalidade que o substituísse, e a
encontrou na desonra decorrente da proibição de segundo casamento. Era, de certo
modo, uma lei civil substituída por outra lei civil, mas que, como todas as leis
dessa natureza, devia passar pela prova do tempo.
sábado, 25 de junho de 2022
CAMINHO DE ELEVAÇÃO
Se aspiras a servir, alma querida,
Não deixes de aprender, ante as lições da vida.
Lenha para expulsar o frio que há lá fora,
Converte-se na chama que a devora.
Ouro para vencer em prestígio e valor,
Sofre a depuração, sublimado em calor.
Para chegar de longe, e atender-nos, de todo,
Muita fonte atravessa imensidões de lodo.
Tronco para formar refúgio organizado,
Padece a intromissão da serra e do machado.
Se procuras também, a bênção de elevar-te,
Esquece-te amparando o mundo em qualquer parte.
Quem procure por Deus aceite por dever
Trabalhar e servir, suportar e esquecer.
MARIA DOLORES (Espírito). Coração e Vida.
Psicog. Chico Xavier. São Paulo, SP: IDEAL, 1978.
quarta-feira, 22 de junho de 2022
CONVITE DE NATAL
Enquanto a glória do Natal se expande
Aqui, ali, além
Toda a Terra se veste
de esperança
Para a festa do bem!
Natal!... Refaz-se a
vida, alguém ressurge,
Nos clarões com que o Céu
te anuncia....
É Jesus a pedir-te que
repartas
Do teu pão de alegria.
Para louvar-lhe os dons
da Presença Divina,
Não digas, alma irmã,
que nada tens;
A riqueza do amor, no
coração fraterno,
É o maior de teus
bens...
Quando o dia se esvai e
a noite desce,
Ao comando da sombra
que a domina,
Para varrer a escuridão
da estrada
Basta a luz de uma vela
pequenina.
O deserto se esfalfa em
longa sede,
Na solidão em que se
configura...
Se chega simples fonte,
Ei-lo mudado em flórida
espessura!...
Ninguém sabe tão bem,
senão aquele
Que a penúria desgasta
ou desconforta,
O valor de uma veste
contra o frio,
O tesouro de um prato
dado à porta.
A migalha de força é a
base do Universo,
Desde a furna terrestre
à estrela mais remota!...
Todo livro se escreve,
letra a letra,
Compõe-se a melodia,
nota em nota...
Alma irmã, no serviço
da bondade
Jamais te afirmes
desfavorecida...
Pobres sementes formam
ricas messes!
Assim também na vida...
O cobertor, o pão, a
prece, o abraço,
Uma frase de paz e
compreensão
Podem criar prodígios
de trabalho,
De reconforto e de
ressurreição!...
Natal!... dá de ti
mesmo o quanto possas,
No amparo à retaguarda
padecente;
Toda bênção de auxílio
é socorro celeste,
Que Deus amplia
indefinidamente.
Natal!... recorda o
Mestre da Bondade!...
Ele, o Cristo e Senhor,
Acendeu sobre a Terra o
sol do Novo Reino
Com migalhas de amor!...
DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da
espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp.
Brasília: FEB, 2014.
terça-feira, 21 de junho de 2022
segunda-feira, 20 de junho de 2022
CORO DE PRECES
A pobre homem que desanimara
E se pusera, à beira do caminho,
Contando pedra, nuvem, charco, espinho,
Enrodilhado a pensamento vão,
O Céu determinou que ouvisse a Natureza,
E ele escutou, de alma surpreendida,
Vozes a sussurrar, entre as forças da vida,
Elevando-se a Deus em forma de oração.
Dizia a Luz, do Cimo Resplendente:
— Pai da Eterna Bondade,
Sinto a luta abismal das vastidões soturnas,
Trago em mim o clamor dos que gemem nas furnas...
Do sereno esplendor da altura a que me levas,
Envia-me, Senhor, a dissipar as trevas!...
O Vento anunciou, traspassando a ramagem:
— Deus da Piedade Imensa,
Vejo, ao longe, a aflição de enorme caravana,
Encharcada de pó na canícula insana...
Envia-me, Senhor, a envolvê-la, de perto,
Desejo amenizar o calor do deserto.
A Fonte murmurou, no ápice de um monte:
— Pai de Infinito Amor,
Dói-me fitar no solo aspereza e secura
Comunicando fogo à lavoura insegura...
Envia-me, Senhor, dos cárceres da serra,
Para descer ao vale e defender a terra...
A Pedra suplicou, de elevada montanha:
— Pai de Misericórdia,
Observo, da rocha a que me agarro,
Homens construindo, em vão, sobre leitos de barro...
Comove-me anotar tanto esforço infecundo,
Envia-me, Senhor, a cooperar no mundo!...
A Árvore pedia
Para seguir além, nos próprios frutos,
De maneira a servir, dia por dia,
Tanto à fome dos bons, quanto à gana dos brutos...
Sentindo em si que toda a Natureza
Era um hino ao trabalho,
Entretecendo paz, alegria e agasalho,
A consumir-se em preces de louvor,
O pobre homem que desanimara
Sentiu sede de agir e transformar-se
Em centelha de amor...
Então, voltou à fé, alçando a fronte,
E, contemplando os Céus, de horizonte a horizonte,
Gritou forte e feliz: Envia-me, Senhor!...
MARIA DOLORES
(Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. São Paulo:
IDEAL.
domingo, 19 de junho de 2022
EM DIA COM O
MACHADO 528
A REENCARNAÇÃO DE
PEDRO NA ITÁLIA E SUA MISSÃO NO BRASIL (Jó)
Amigo leitor, hoje tratarei de um assunto
controverso, no meio espírita, como já ocorreu com outro tema, cuja polêmica
não desejo reacender... Trata-se da reencarnação de Pedro na Úmbria, cidade da
Itália, em 18 de agosto de 1886.
Aos 25 anos, Pedro herda imensa
fortuna dos pais. Aos 45, cede toda essa riqueza aos parentes mais próximos.
Desejava seguir as palavras do Cristo com rigor: “Não ajunteis tesouros na
terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e
roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem,
e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mateus, 6:19- 21). Pedro opta,
então, por viver do próprio trabalho, doando aos pobres tudo o que julgasse
supérfluo.
Diz Clóvis Tavares, um dos seus
biógrafos, na obra Grandes Mensagens, capítulo 6, que o “Missionário da
Era do Espírito” passa a vivenciar, por meio de sua palavra e exemplo, o alicerce
do “Evangelho do Cristo”. Emprega, para isso, todas os esforços de sua alma e
de sua inteligência.
Na madrugada seguinte à doação dos
bens herdados, Pedro caminhava sozinho pela estrada de Colle Umberto, quando,
perplexo e mudo, contemplou ao seu lado Jesus e Francisco de Assis, que o
acompanharam durante quase vinte minutos. Era a demonstração de aprovação
crística, junto com o Esposo da Pobreza, ao ato de Pedro.
Isso aconteceu em 1931, quando Pietro,
em português, Pedro, aos 45 anos, publica a obra Grandes mensagens, que
antecederia outra, das 24 que escreveu: A grande síntese, intuído por
Sua Voz, que Ernesto Bozzano acreditou ser o próprio Cristo.
A partir do livro Profecias,
todos os demais volumes da obra ubaldiana são editados no Brasil, onde passou a
morar. Neste livro, o médium intuitivo italiano prevê sua desencarnação em
1971, o que de fato ocorreu. Ele veio para cá em 1951 e, durante vinte anos,
até o fim de sua existência, trabalhou e terminou de escrever, na Pátria do
Evangelho, sua obra ainda tão pouco conhecida dos espíritas. Alguns destes,
sem terem lido um só dos livros de Ubaldi, rejeitam sua obra missionária.
Em Grandes Mensagens, cap. 15, ele
anuncia o advento da Civilização do Terceiro Milênio e complementa: “Não
nos importem as tempestades que deverão preparar-lhe o aparecimento [...] a
humanidade deve ressurgir no espírito, no terceiro milênio”.
O que me levou a dizer que Pietro
Ubaldi poderia ter sido a reencarnação de Pedro? Nada mais, nada menos do que a
mensagem psicografada por Chico Xavier, no dia 17 de agosto de 1951, em Pedro
Leopoldo, quando ambos os médiuns se encontraram pela primeira vez, e Chico
Xavier fez essa revelação. Mas ninguém é obrigado a crer nisso, nem em crer que
o Cristo se comunicava com Pietro Ubaldi, embora o modo dessa comunicação seja,
como este mesmo afirmou, intuitivo. Além disso, Francisco de Assis, que se
acredita ser a reencarnação de João, poderia ser o intermediário dessas
mensagens, como também o Espírito de Verdade intermediava o pensamento de
Jesus.
A mensagem psicografada por Chico, naquele
dia, foi a de Francisco de Assis para Pietro Ubaldi. Outra mensagem foi
recebida simultaneamente pelo próprio Ubaldi, assinada por Sua Voz que, como
dissemos, Bozzano acreditava ser o próprio Cristo.
No texto recebido por Ubaldi, Sua
Voz confirma o que o Espírito Humberto de Campos afirmara, em 1938, pela
psicografia de Chico Xavier: “O Brasil é verdadeiramente a terra escolhida para
berço desta nova e grande ideia que redimirá o mundo” (in: Grandes Mensagens,
3ª parte, cap. 3).
Termino com estas frases de Pietro,
que não deixou de ser um apóstolo do Cristo, ainda que não seja o apóstolo do Novo
Testamento: “Recomendei e recomendo sempre, principalmente àqueles que
podem compreender-me melhor, que trabalhem com espírito de amor e não de
polêmica, que se ocupem sempre de construir e jamais de demolir, respeitando as
opiniões alheias, mesmo que representem ignorância. Em nossa bandeira está
escrita a palavra: amor.” Em síntese, diz o grande médium intuitivo
italiano: “O espírito de todas as religiões é: amor”.
Também Pedro dizia: “Mas, sobretudo, tende
ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de
pecados” (I Pedro, 4:8). Desse modo, saber quem foi quem no passado não
é tão importante, pois, como disse Allan Kardec, no capítulo 15 d’O
Evangelho Segundo o Espiritismo: “Fora da caridade, não há salvação”.
sexta-feira, 17 de junho de 2022
COMEÇAR OUTRA VEZ
Alma querida, escuta!... Entre os lances do mundo,
Se escorregaste à beira do caminho
E caíste, talvez, em pleno desalinho,
Na sombra que te faz descrer ou desvairar,
Ante a dor de visita, a renovar-te anseios,
Não desprezes pensar!... Levanta-te e confia,
Porque a vida te pede, abrindo-te outro dia:
— Começar outra vez, trabalhar, trabalhar!...
Ergue-te regressando à estrada justa,
Contempla a terra amiga em derredor,
Vê-la-ás, pormenor em pormenor,
Por mãe que sofra e sangra, a recriar...
Medita na semente a sós, que o lavrador sepulta...
Quando alguém a supõe, humilhada e indefesa,
Ressurge em brilho verde, ouvindo a Natureza:
- Começar outra vez, trabalhar, trabalhar!...
Fita o perfurador rasgando as entranhas da gleba;
O homem que o maneja, a golpes persistentes,
Pesquisa, sem cessar, todos os continentes,
Do deserto escaldante aos recessos do mar...
E eis que a lama oleosa, esquecida há milênios,
Trazida à flor do chão, é ouro e combustível,
Que o progresso conclama em ordem de alto nível:
- Começar outra vez, trabalhar, trabalhar!...
Toda força lançada em desvalia
Quando erguida, de novo, em apoio de alguém,
Retoma posição no serviço do bem,
Utilidade viva a circular...
Olha a pedra moída, em função do cimento,
E o barro que assegura a gestação do trigo,
Falando a todos nós, em tom seguro e amigo:
- Começar outra vez, trabalhar, trabalhar!...
Assim também, alma fraterna e boa,
Se caíste em momentos infelizes,
Não te abatas, nem te marginalizes,
Levanta-te e retoma o teu próprio lugar!...
Aceita os grilhões das provas necessárias,
Esquece, age, abençoa, adianta-te e lida,
E escutarás a voz da Lei de Deus na vida:
- Começar outra vez, trabalhar, trabalhar!...
MARIA
DOLORES (Espírito). In: Espíritos diversos. Vida em vida. (Psicografado
por Francisco Cândido Xavier). Brasília: FEB, São Paulo: IDEAL, 2021. Cap. 02.
quinta-feira, 16 de junho de 2022
XVII SIMPÓSIO
NACIONAL DA ABHR
II SIMPÓSIO
NACIONAL DE ESTUDOS DA RELIGIÃO DA UEG
ÉTICAS E
RELIGIÕES EM TEMPOS DE CRISE – Nov. 2021
ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES (ABRH)– UNIV. ESTADUAL DE GOIÁS
Universalidade e
Imparcialidade na Filosofia Espiritualista de
Pietro Ubaldi
Alexsandro Melo Medeiros[1]
Introdução
Pietro Ubaldi foi um filósofo italiano,
espiritualista e cristão. Embora tenha nascido na Itália, na cidade de Foligno,
em 1886, viveu os últimos vinte anos de sua vida aqui no Brasil, onde faleceu
em 1972, por isso, o conjunto de suas obras é dividida em duas partes: a obra
italiana, que inclui as Grandes Mensagens e vai do seu primeiro livro A Grande
Síntese até o livro Deus e Universo; e a obra brasileira, com os seus escritos
posteriores até o último livro Cristo.
No conjunto de sua obra, o conceito de
evolução desempenha um papel crucial e dele não poderemos prescindir na análise
do tema em pauta. Inclusive este foi o tema de seu primeiro ensaio, publicado
na revista Constancia, de Buenos Aires:
em
1927, sentado à beira-mar, na praia de Falconara, contemplando o Adriático, ele
vislumbra, num lampejo, genial, a estrutura íntima do universo, anunciando o
seu físico-dínamo-psiquismo. Segue-se o seu primeiro ensaio: “Evolução
Espiritual” – cem páginas onde aparecem as primeiras tentativas sérias do
grande voo (SILVA, 2015, p. 11).
O conceito de evolução, embora não seja o
tema central deste artigo, nos ajudará a entender como a máxima do Evangelho do
Cristo: ama ao teu próximo como a ti mesmo, expressa uma lei de um plano
biológico mais evoluído, que não é aquele do plano biológico animal e, por
isso, as condições de maturidade espiritual (resultado de todo um processo
evolutivo), são determinantes para que um indivíduo possa manifestar esse amor
dentro de uma visão mais ampla, coletiva e compreender que toda a humanidade
faz parte de uma mesma família, ao invés de lutar contra o próximo e
considerá-lo um seu inimigo.
Além do conceito de evolução, daremos
ênfase aos princípios de universalidade e imparcialidade, ressaltados pelo
pensador italiano e, por isso, o nosso objetivo com este artigo, que adota como
metodologia a pesquisa bibliográfica, é abordar como tais princípios podem
ajudar a promover a tolerância, o diálogo e a interação entre diferentes
religiões.
Com base em tais princípios, veremos como
a obra de Ubaldi nos indica um caminho a percorrer que seja um caminho de paz e
fraternidade e não de ódio ou divisão, um caminho que ele próprio procurou
percorrer, procurando sempre estar de acordo com a Lei de Deus:
Pietro
Ubaldi foi um permanente observador do funcionamento da Lei de Deus em sua
vida. Vivia segundo a vontade da Lei, como Cristo o fez: Não faço a minha
vontade, mas Daquele que me enviou. O missionário de Cristo afirmou, muitas
vezes de maneira diferente a mesma coisa: Vivo de acordo com a Lei; ela exerce
uma tremenda força sobre mim; A Lei é a nossa vida. Conhecê-la e executá-la
cada vez melhor, redunda em vivê-la mais intensamente (Amaral, 2020, p. 250-251).
Universalidade
e Imparcialidade
No conjunto de sua obra, o filósofo adota
como princípios o da universalidade e imparcialidade.
A
tese que sustentei desde 1951, em minha primeira chegada ao Brasil, e que já
havia sustentado na Europa, foi a de “imparcialidade e universalidade”.
Permaneci a ela igualmente fiel, diante desta ou daquela religião. Mas, todas
mostraram a mesma vontade de enclausurar-me e fechar-me em seu próprio grupo,
impondo-me uma verdade já feita, que exclui qualquer pesquisa e condena toda
tentativa de progresso e aperfeiçoamento (Ubaldi, 2001, p. 243).
A preocupação de Ubaldi com tais
princípios se revela, por exemplo, quando o pensador italiano solicitou a
alteração do nome da Associação Brasileira dos Amigos de Pietro Ubaldi (ABAPU),
instituída em Campos, no Rio de Janeiro, em 1949. Pediu que “fosse substituída
pela de ABUC (Associação Brasileira da Universalidade de Cristo), para que a
ideia se antepusesse a qualquer personalismo. E este é já um princípio geral
para ser vivido” (Ubaldi, 1987, p. 21).
Essa preocupação, de fazer com que sua
obra não tomasse um caráter personalista, se expressa igualmente quando Ubaldi
afirma que seu objetivo não é a busca de adeptos e seguidores, como o fazem as
mais diferentes religiões. “Falo bem claro: não quero de maneira nenhuma
chefiar coisa alguma na Terra; não quero conquistar poder algum neste mundo.
Não há, assim, qualquer razão para rivalidades” (Ubaldi, 2001, p. 24).
Outro caso curioso, é relatado pelo
filósofo na passagem seguinte:
Uma
vez expliquei a alguém o meu ponto de vista da imparcialidade e universalidade.
Sua face iluminou-se e, de súbito, respondeu: “compreendo, trata-se de um novo
partido: o dos imparciais e universalistas”. Este fato mostrou-me como a forma
mental comum não consegue conceber coisa alguma se não a vê bem fechada dentro
dos limites do relativo, isto é, dum grupo particular bem separado dos outros e
logicamente em luta entre si (Ubaldi, 2001, p. 23).
Como entender tais princípios? Ou seja, o
que quer dizer o filósofo com universalidade e imparcialidade? Encontramos uma
definição do próprio autor no Capítulo 2, do livro A Lei de Deus, que tem como
título Separatismo Religioso, e que traz a seguinte epígrafe: Respeito por
todas as crenças.
[...]
imparcialidade quer dizer não-existência de partido, compreendendo-os a todos;
significa não ficar fechado na forma mental de facção ou de grupo particular
algum, sobretudo quando este grupo, seja ele qual for, se impõe combater outros
grupos, julgando-os errados e maus e, porque sendo diferentes dele próprio,
persegue-os com as suas condenações (Ubaldi, 2001, p. 20-21).
Sua filosofia se propõe, portanto, não
fechar-se na forma mental de um grupo ou partido e, inclusive, ser considerado
um movimento suprarreligioso, que não agrida nenhuma expressão religiosa “mas
as respeita todas, antes de tudo reconhecendo-as, tanto que as envolve todas
num único amplexo” (Ubaldi, 1987, p. 16). E pode até não parecer óbvio que
assim seja, em uma análise superficial, mas se considerarmos que Deus deve ser
o mesmo para todos, não há porque acreditar que uma crença seja melhor do que
outra.
O princípio da universalidade decorre do
fato de que todos os homens são filhos do mesmo Deus: “um só Deus, pai de
todos” (Ubaldi, 1987, p. 24). Universalidade significa não impor qualquer
barreira de religião, nacionalidade ou raça que possa dividir os homens. A
única divisão aceita não é aquela religiosa, mas a de justos e injustos. É o
que encontramos, por exemplo, na Mensagem de Natal:[2]
Falo hoje a todos os justos da terra e os chamo de todas as partes do mundo a fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao céu. Que nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos (Ubaldi, 2012, p. 11).
O Evangelho do Cristo está na base do
conjunto de toda a obra de Ubaldi: “Tudo aquilo que não pode permanecer no
Evangelho de Cristo não pode igualmente permanecer neste movimento. Não é
possível distorcer em nenhum sentido estas palavras” (Ubaldi, 1987, p. 16).
Embora Ubaldi não possa ser considerado um cristão no sentido ortodoxo do
termo, o preceito ama ao teu próximo como a ti mesmo serve de pedra angular de
seu programa.
Por isso, se pode pensar em como os
princípios da universalidade e imparcialidade decorrem do preceito evangélico
ama ao teu próximo como a ti mesmo, pois não se pode amar ao próximo apenas
pelo seu rótulo religioso. Deve-se amá-lo indistintamente, independente de qual
religião ele professe ou de qual cultura ele faça parte. Independentemente de
ser católico, protestante, muçulmano, budista, e até mesmo ateu, qualquer
convicção que não agrida o próximo e seja vivida com honestidade e sinceridade
merece respeito.
Ao falar do Amor de Cristo, Ubaldi afirma
que não temos mais necessidade de novas religiões e, por isso, ele mesmo não
teve a pretensão de fundar um novo movimento, doutrina filosófica ou religiosa.
Mais importante do que fazer prosélitos a favor de uma religião, condenando as
outras, é fundamental que as pessoas tornem-se boas e honestas e isto serve
para todas as religiões.
Ubaldi afirma que todos aqueles que
simpatizam com sua obra e, portanto, desejem aderir a tal movimento “devem
manter-se dentro do princípio fundamental do Evangelho: ‘Ama a teu próximo como
a ti mesmo’. Não existe outro caminho possível” (Ubaldi, 1987, p. 16).
Mas porque razão, mesmo passados mais de
dois mil anos, a humanidade ainda não aprendeu essa lição aparentemente
simples? Para compreender esta questão, é preciso levar em consideração que a
filosofia de Ubaldi é evolucionista, quer dizer, para o pensador italiano, o
espírito deve percorrer um longo caminho cujo ponto de partida é a matéria: do
reino mineral passa ao vegetal, animal, subindo sempre, até chegar ao estágio
humano.[3]
E no homem, esse processo ainda se estende por vários séculos e até milênios:
“Num plano de existência muito mais alto, a evolução realiza-se no homem,
através do homem que exprime uma fase dela [...] em direção a planos de
existência cada vez mais altos” (Ubaldi, 1995, p. 66-67).
À continuidade da evolução orgânica temos
a evolução psíquica que se realiza no homem, a meta mais alta da vida. O
processo evolutivo que se inicia na matéria, transubstancia-se no espirito,
“santificando-a, assim, até que no homem e mais acima dele, conquiste cada vez
mais consciência, e assim o alfa se reúna ao ômega, a criação volte ao criador”
(Ubaldi, 1995, p. 73).
Por que ressaltamos esse aspecto evolutivo
da obra ubaldiana? Por que as condições de maturidade psíquica e espiritual
determinam se um indivíduo está mais próximo de uma visão individualista ou
coletivista do amor universal. Todos, sem exceção, amam. Alguns, porém, devotam
esse amor de forma mais direta apenas a sua família, parentes e amigos. Outros
compreendem que toda a humanidade faz parte de uma família universal e, por
isso, são capazes de expressar esse amor de forma menos restrita.
O Amor é lei universal da vida e todos,
desde os animais até o homem, amam, só que amam cada um de acordo com o seu
nível evolutivo. O mandamento ama ao teu próximo como a ti mesmo expressa uma
lei de um plano biológico mais evoluído, que não é aquele do plano biológico
animal.
As
leis da vida mudam, relativamente ao grau de evolução que se atingiu. A lei feroz
da luta pela seleção do mais forte é lei em nosso plano animal, em que os seres
não se conhecem uns aos outros. Encontram-se num estado caótico em que o
indivíduo está sozinho, com suas forças, contra todos (Ubaldi, 2001, p. 249).
Amadurecer espiritualmente significa
evoluir, e assim aprender a lei de amor do Evangelho, colaborar com o próximo,
ao invés de lutar contra ele. Mas na humanidade atual ainda prevalece o biótipo
comum que usa a força para vencer.
Eis a que se propõe o Evangelho, uma
tarefa árdua e trabalhosa de transformar um tipo biológico egoísta em um tipo
biológico oposto, altruísta.
“Ama
a teu próximo” será o conceito-base das sociedades futuras mais evoluídas [...]
Nossa sociedade está nos antípodas do “ama a teu próximo”. Vive-se hoje o
princípio oposto: “esmaga teu próximo, antes que teu próximo te esmague”
(Ubaldi, 2001, p. 258).
A evolução caminha de uma fase para outra,
da animalidade para a civilização. Todos nós temos, dentro de nós, os recursos
para fazer desta, uma humanidade mais solidária e fraterna, menos bárbara e
intolerante. O Evangelho serve como guia, mas os esforços para colocar seus
ensinamentos em prática deve ser nosso. Desenvolver uma maior tolerância com as
diferenças, uma maior compreensão da nossa realidade a ponto de entender que o
próximo não é um inimigo que devemos combater a todo custo, mas alguém a quem
devemos amar, é tarefa nossa.
Vejamos agora como, a partir da visão
universalista do filósofo italiano, baseada no amor ao próximo, tal como
encontramos na Boa Nova do Cristo, decorre uma visão de tolerância e respeito
para com todas as pessoas, independentemente de suas crenças e nacionalidades.
Tolerância
e Respeito
Ubaldi é bastante claro ao afirmar que
desta visão de mundo baseada no amor ao próximo, pode nascer um grande respeito
recíproco, uma nova possibilidade de compreensão, um espírito de fraternidade,
ao contrário do amor à ortodoxia e da psicologia farisaica que levam a divisão
e a intolerância.
Pelo princípio da universalidade, a obra
de Ubaldi nos ajuda a entender que vivemos em uma realidade plural. Nos
possibilita pensar na complexidade e riqueza das relações entre as diferentes
culturas e, assim, promover a tolerância e o diálogo intercultural e
interreligioso.
Que
no terreno filosófico, político, religioso, isso signifique tolerância. Não,
porém, uma tolerância raivosa, na atitude de quem suporta com desdém o erro
alheio; ao contrário, uma tolerância que busca os pontos de contato, os pontos
comuns, e se alegra quando pode dizer: “Mas, então, concordamos em muitas
coisas! Não estamos, pois, tão distanciados quanto nos parecia. Podemos
entender-nos um pouco e não há necessidade de contenda” (Ubaldi, 1987, p. 23).
Uma tolerância que leva em consideração os
diferentes tipos de crença e religiosidade e que, segundo o filósofo, mais do
que qualquer rótulo, o que importa é a sinceridade e a honestidade com que cada
indivíduo vive a sua fé: “Que importa pertencer a esta ou aquela religião,
quando não se é sincero nem honesto?” (Ubaldi, 1987, p. 28).
Naturalmente, não se trata de negar as
diferenças que existem entre as mais diferentes religiões. Há aquilo que
distingue os indivíduos uns dos outros por suas crenças e valores culturais.
Todavia, se queremos estabelecer algum tipo de distinção, esta não deve ser
aquela
vigorante
em nosso mundo: católicos, protestantes, espiritistas, teosofistas, maçons,
maometanos, budistas etc. — mas, sim, o justo e o injusto. Esta é a distinção
substancial, a que tem valor diante de Deus, muito mais importante que a outra,
que pode ser apenas formal (Ubaldi, 1987, p. 28).
É natural que haja culturas e valores
diferentes entre os mais variados povos. O que não podemos aceitar é que essa
divisão gere a intolerância e o desrespeito para com os valores do próximo.
“Ora, esse espírito de divisionismo e de exclusivismo e a luta que daí deriva
representam os instintos próprios de um plano biológico atrasado, que o
progresso espiritual do mundo se apressará em liquidar” (Ubaldi, 2001, p. 244).
Esse tipo de intolerância conduz a uma
total falta de respeito com os valores do próximo e em alguns casos até a
agressividade, como foi o caso do pastor neopentecostal, Sérgio von Helder que,
em 1995, chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida (exatamente no dia 12 de
outubro de 1995, data que marca o feriado destinado a homenagear a Santa). A
atitude foi transmitida ao vivo pela rede Record de Televisão em programa
apresentado pelo pastor e “provocou polêmica e indignação em todo o país e até
mesmo no contexto internacional, ao agredir uma imagem da supracitada santa
durante o programa religioso ‘O Despertar da Fé’” (Oliveira, 2018, p. 31).
Outro exemplo de intolerância foi a
chamada “batalha espiritual” contra os “orixás, cablocos e guias”, declarada
pelo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o bispo Edir Macedo
(Silva, 2007).
A questão a ser considerada não é que
existam religiões e valores diferentes. “Não é a diferença ideológica dos
pontos de vista das religiões que deixamos de aceitar. Tudo isso é natural e
lógico” (Ubaldi, 2001, p. 21). O problema é afirmar a própria verdade
condenando como erradas as verdades dos outros. Por isso, se torna inaceitável
a atitude de condenação, de exclusividade da posse da verdade e, não raro, de
agressividade com que alguns indivíduos são levados a defender a sua verdade ou
a verdade de seu grupo religioso. Por isso, diz Ubaldi (2001, p. 21): “Não nos
interessa tomar parte nestas rivalidades terrenas, que nada têm a ver com a
pesquisa da verdade que buscamos”.
O problema é que, em sua grande maioria,
as religiões pretendem ter a posse da verdade universal: “todas as igrejas
querem ser universais, mas apenas no sentido imperialista: todas querem
unificar mas debaixo do próprio domínio. Não foi nesse sentido que compreendi a
universalidade” (Ubaldi, 2001, p. 243). Esse tipo de universalidade não traz
benefício algum para o conjunto da humanidade e em alguns casos se expandiu de
tal forma que pretendeu conquistar tudo.
Conclusão
Para o filósofo espiritualista e cristão,
Pietro Ubaldi, o Evangelho da Boa Nova do Cristo com a sua máxima do amor ao
próximo constitui um dos mais importantes alicerces para a nossa sociedade. Não
apenas da sociedade presente, mas também da futura sociedade que, mais
evoluída, deverá enfim cumprir com os mandamentos que o Cristo deixou para nós
há mais de dois mil anos.
Ubaldi é um filósofo evolucionista e, como
tal, crê que a humanidade tem seus períodos de infância e maturidade
espiritual. Por isso, evoluir espiritualmente significa ter uma visão mais
ampla da realidade e compreende que os ensinamentos do Cristo não são
privilégios desta ou daquela religião, mas dizem respeito a toda humanidade.
Por isso o filósofo adota como princípios de sua filosofia a universalidade e a
imparcialidade que significa a não ficar fechado dentro da forma mental de um
grupo particular, seja ele religioso, político ou cultural. Significa
compreender que todos os homens, independente de crença, raça ou nacionalidade,
são irmãos, porque são filhos do mesmo Pai, que é Deus.
Por isso, universalidade e imparcialidade
significam não impor qualquer barreira de religião, nacionalidade ou raça que
possa dividir os homens e muito menos agredir qualquer forma de expressão
religiosa, mas, ao contrário, respeitá-las, todas.
Com tais princípios de universalidade e
imparcialidade, que decorrem da máxima “ama ao teu próximo como a ti mesmo”,
Ubaldi nos indica um caminho a percorrer que seja um caminho de paz e
fraternidade e não de ódio ou divisão e nos permite concluir que, se a
tolerância e o respeito decorrem da prática evangélica do “amor ao próximo”, a
intolerância e o ódio são frutos do princípio oposto: “esmaga o teu próximo,
antes que teu próximo te esmague”.
Referências
AMARAL,
José. Pietro Ubaldi, o Missionário. Campos dos Goytacazes-RJ: Fraternidade
Francisco de Assis. Instituto Pietro Ubaldi, 2020.
OLIVEIRA,
Mariana Montalvão. A Questão da Intolerância Religiosa, na Perspectiva do
Direito Brasileiro. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Direito), Curso de Direito – UniEvangélica, Anápolis-GO, 2018.
SILVA,
Manuel Emygdio da. O Gênio de Ubaldi e a Evolução da Humanidade
(colóquios e correspondências). Brasília: Ontoletras, 2015.
SILVA,
Vagner Gonçalves da (org.). Intolerância Religiosa: impactos do
neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2007.
UBALDI,
Pietro. Grandes Mensagens. Tradução de Clóvis Tavares. Brasília-DF:
Instituto Pietro Ubaldi, 2012. (Obras completas de Pietro Ubaldi, v. 1).
____.
Fragmentos de Pensamento e de Paixão. 4. ed. trad. Rinaldi Rondino e
Clóvis Tavares. Rio de Janeiro: Fundação Pietro Ubaldi, 1987. (Obras Completas
de Pietro Ubaldi, v. 6)
____.
A Lei de Deus. 5. ed. Campos dos Goytacazes-RJ: Fraternidade Francisco
de Assis, 2001. (Obras Completas de Pietro Ubaldi, v. 17)
____.
A Descida dos Ideais. Campos dos Goytacazes-RJ: Fraternidade Francisco
de Assis, 1995
[1] Doutor em Sociedade e Cultura da Amazônia. Professor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas. Contato: alexsandromedeiros@ufam.edu.br
[2] A Mensagem de Natal foi a primeira, de um conjunto de sete mensagens, de elevado teor espiritual, recebidas por Ubaldi, de forma intuitiva, cuja fonte de origem ele chamou de Sua Voz. Esta primeira mensagem foi ditada na noite de Natal de 1931, daí o seu título. “Após a reunião em família, tão comum nesta época, e participar da ceia, desejando a todos um Feliz Natal, dirigiu-se ao seu escritório no último andar da torre da Tenuta Santo Antonio. Ali teve o início da missão de Pietro Ubaldi [...] Sempre orientado por Sua Voz, que ditou a primeira Mensagem, naquela noite de Natal de 1931” (Amaral, 2020, p. 86).
[3] O conceito de
evolução aparece em diferentes obras de Ubaldi, entretanto, considerando que
aqui só poderemos fazer uma rápida exposição, indicamos algumas obras ao
leitor: Ascese Mística: capítulos 9 a 13; Fragmentos de Pensamento e de Paixão:
segunda parte; O Sistema: primeira parte; Queda e Salvação: capítulos 1, 8, 10,
11, 14.
Estudo d'O Livro dos Espíritos 34 – A molécula tem forma determinada? Resposta: Certamente as moléculas têm uma forma, mas que não p...

-
APRENDENDO FRANCÊS COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos . Tradução de Evandro Noleto Be...